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Em conversa com o presidente FHC, petista diz que procura por cargos é maior do que possibilidade de atendimento
Lula se "espanta" com demanda por cargos
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Luiz Inácio Lula da Silva nem
sentou ainda na cadeira presidencial, mas já se diz "espantado"
com a pressão por posições no governo que vem recebendo desde
que venceu a eleição.
Lula fez essa confissão no encontro de sexta-feira com quem
tem oito anos de experiência na
matéria, o atual presidente Fernando Henrique Cardoso, que a
reproduziu a interlocutores, que a
fizeram chegar aos jornalistas.
A demanda por postos é maior,
constatou Lula, do que a possibilidade de atendimento.
A conversa serviu também para
deixar claro o que todo o mundo
político intui: José Dirceu, presidente do PT, e Antônio Palocci,
coordenador da equipe de transição, igualmente presentes ao jantar, já atuam como ministros. Falaram quase tanto quanto Lula.
Do que só Lula e FHC falaram
foi da escolha do futuro presidente entre residir na Granja do Torto
ou no Palácio da Alvorada. FHC é
um dos raros presidentes da era
Brasília que elogia o Alvorada:
"É um palácio alegre, claro,
muito aberto. Não tem privacidade, obviamente. Como não temos
nada para esconder, não é problema grave", contou aos jornalistas.
Mas quem vai decidir onde o futuro presidente morará é sua mulher, Marisa, após conversar com
Ruth Cardoso, primeira-dama.
Posse e mínimo
Dois temas que todos acham
que foram conversados na sexta-feira não estiveram no cardápio
do jantar no Alvorada, ao menos
no relato de FHC: salário mínimo
e data da posse.
Sobre o adiamento desta para 6
de janeiro, FHC repetiu ontem
suas objeções, em termos ainda
mais claros: "Cria uma situação
que não é das mais transparentes.
Qualquer ato de um presidente
cujo mandato tenha sido prorrogado pelo Congresso pode ir para
o tribunal".
Fernando Henrique aceita reduzir o seu mandato "com mais
facilidade do que aumentar, porque não teria esse constrangimento de ficar, como se diz na
nossa gíria, biônico".
Sobre salário mínimo, o presidente repetiu o que diz uma e outra vez: "Todo mundo sabe que o
salário mínimo no Brasil é baixo.
Se for possível aumentar, muito
bem. Se os deputados abrirem
mão de suas emendas, aumenta o
mínimo; se alguém não quiser fazer uma estrada, pode ir para o
mínimo; se quiser diminuir para a
educação, pode ir para o mínimo.
Vale a pena ou não?".
FHC voltou a comentar também o pacto social, uma das principais bandeiras de Lula, para dizer que, "no sentido preciso", não
cabe no momento brasileiro:
"Pacto acontece quando você está
numa situação tão grave que as
contradições entre as classes, os
grupos, os interesses, até os valores, são postos à margem para se
chegar a um objetivo. Não é o caso
do Brasil. Não estamos à beira de
um ataque de nervos".
(CLÓVIS ROSSI)
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