São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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Em conversa com o presidente FHC, petista diz que procura por cargos é maior do que possibilidade de atendimento

Lula se "espanta" com demanda por cargos

DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Luiz Inácio Lula da Silva nem sentou ainda na cadeira presidencial, mas já se diz "espantado" com a pressão por posições no governo que vem recebendo desde que venceu a eleição.
Lula fez essa confissão no encontro de sexta-feira com quem tem oito anos de experiência na matéria, o atual presidente Fernando Henrique Cardoso, que a reproduziu a interlocutores, que a fizeram chegar aos jornalistas.
A demanda por postos é maior, constatou Lula, do que a possibilidade de atendimento.
A conversa serviu também para deixar claro o que todo o mundo político intui: José Dirceu, presidente do PT, e Antônio Palocci, coordenador da equipe de transição, igualmente presentes ao jantar, já atuam como ministros. Falaram quase tanto quanto Lula.
Do que só Lula e FHC falaram foi da escolha do futuro presidente entre residir na Granja do Torto ou no Palácio da Alvorada. FHC é um dos raros presidentes da era Brasília que elogia o Alvorada:
"É um palácio alegre, claro, muito aberto. Não tem privacidade, obviamente. Como não temos nada para esconder, não é problema grave", contou aos jornalistas.
Mas quem vai decidir onde o futuro presidente morará é sua mulher, Marisa, após conversar com Ruth Cardoso, primeira-dama.

Posse e mínimo
Dois temas que todos acham que foram conversados na sexta-feira não estiveram no cardápio do jantar no Alvorada, ao menos no relato de FHC: salário mínimo e data da posse.
Sobre o adiamento desta para 6 de janeiro, FHC repetiu ontem suas objeções, em termos ainda mais claros: "Cria uma situação que não é das mais transparentes. Qualquer ato de um presidente cujo mandato tenha sido prorrogado pelo Congresso pode ir para o tribunal".
Fernando Henrique aceita reduzir o seu mandato "com mais facilidade do que aumentar, porque não teria esse constrangimento de ficar, como se diz na nossa gíria, biônico".
Sobre salário mínimo, o presidente repetiu o que diz uma e outra vez: "Todo mundo sabe que o salário mínimo no Brasil é baixo. Se for possível aumentar, muito bem. Se os deputados abrirem mão de suas emendas, aumenta o mínimo; se alguém não quiser fazer uma estrada, pode ir para o mínimo; se quiser diminuir para a educação, pode ir para o mínimo. Vale a pena ou não?".
FHC voltou a comentar também o pacto social, uma das principais bandeiras de Lula, para dizer que, "no sentido preciso", não cabe no momento brasileiro: "Pacto acontece quando você está numa situação tão grave que as contradições entre as classes, os grupos, os interesses, até os valores, são postos à margem para se chegar a um objetivo. Não é o caso do Brasil. Não estamos à beira de um ataque de nervos".
(CLÓVIS ROSSI)


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