São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

180 famílias invadem duas fazendas em Taubaté; PM foi acionada por proprietários, mas não houve conflito

MST faz 1ª invasão em SP após as eleições

FABIANA CORRÊA
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Um grupo de cerca 180 famílias ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu sábado duas fazendas em Pirancangaguá, no município de Taubaté (130 km de São Paulo), no Vale do Paraíba.
As invasões da fazenda Abrahão, de 78 hectares, e Esperança, de 65 hectares, foram as primeiras promovidas pelo MST em São Paulo depois da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiado pelo sem-terra na campanha.
Para evitar eventuais desgastes ao então candidato petista, o MST havia suspendido durante a campanha as invasões em todo o país.
As duas áreas ficam a cerca de 6 km da via Dutra. Ontem, as famílias armaram barracos de lona preta nas áreas.
A Polícia Militar foi acionada pelos proprietários, Adalberto Abrahão de Carvalho, 58, e Geraldo Benedito Silva, 51, mas não houve confronto com os sem terra. Carvalho e Silva registraram a invasão na Polícia Civil.
A Folha procurou o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Sebastião Azevedo, por seu telefone celular, que estava desligado. A assessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário não comentou o assunto ontem.
Segundo um dos líderes do MST no Vale, Valdemir Nascimento, as invasões em Taubaté não haviam sido realizadas durante a campanha eleitoral porque as famílias que iriam participar estavam sendo preparadas.
"Precisamos estar com tudo organizado para fazer uma ocupação. Essas famílias [da invasão] já estavam sendo preparadas desde junho para que fizéssemos essa ocupação", disse.
O grupo é formado, na versão do líder do MST, por trabalhadores rurais de São José dos Campos, Tremembé e Taubaté que estão desempregados há dois anos.
"As terras que ocupamos são improdutivas e precisamos provar que a reforma agrária é uma questão importante. Não podemos e não queremos mais esperar por uma política justa", disse.
As famílias estão alojadas em cerca de 40 galpões de uma granja da fazenda Abrahão. A propriedade já sediou a cooperativa agrícola Cotia. No grupo, há cerca de 50 crianças, segundo Nascimento.
As famílias tiveram autorização dos proprietários, segundo o MST, para utilizar a água e se comprometeram a evitar depredações e a preservar o gado.

Reintegração de posse
Segundo Nascimento, não há previsão de quando o grupo vai deixar o local. "Sabemos que os proprietários deverão entrar na Justiça. Vamos ficar aqui até que haja uma definição", afirmou.
A Folha não conseguiu falar com os proprietários das áreas ontem. Eles foram procurados em suas casas e nas propriedades, mas não foram localizados.
No entanto, segundo a delegada Margarida Brasiliana Monteiro, os proprietários já comentaram durante depoimento que devem encaminhar um pedido de reintegração de posse à Justiça.



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