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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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TREM DO PARANÁ

Governador afirma que parentesco não é "cláusula difamante"

Requião diz ser "nepotista militante" e ataca Lerner

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), rebateu ontem, em discurso para secretários, dirigentes de empresas estatais e assessores, reportagem publicada anteontem na Folha na qual foram relatados casos de nepotismo em seu governo.
No discurso, Requião definiu a reportagem como "extremamente medíocre". Ele disse acreditar que a denúncia partiu de pessoas ligadas a seu antecessor, o ex-governador Jaime Lerner (ex-PFL, hoje no PSB).
O levantamento informa que Requião colocou nove pessoas da família no governo e que integrantes do primeiro escalão empregaram mais 17, totalizando 26 parentes. Antes da publicação, o governador foi procurado por três dias seguidos, mas, através de sua assessoria, ele se recusou a falar sobre o assunto.
O tema dominou a reunião com o primeiro escalão, que tradicionalmente ocorre às segundas-feiras no auditório do Museu Oscar Niemeyer -que é dirigido pela mulher do governador, Maristela de Mello e Silva.
"Sou um nepotista militante (...). Ao mesmo tempo que parentesco não é credencial, não é absolutamente cláusula difamante", disse, afirmando ter adotado o "critério da confiança pessoal" para montar a equipe, e que não poderia excluir os irmãos Maurício, secretário da Educação, e Eduardo, superintendente dos portos de Paranaguá e Antonina.
"E não vai ser a ação estreita e medíocre da Folha de S. Paulo, alimentada evidentemente pelos nossos adversários, anunciantes generosos da imprensa brasileira, que vai fazer com que o governo mude a sua linha de austeridade", afirmou ele. Requião disse que demitirá os secretários que não estiverem "funcionando".
Requião fez uma série de ataques diretos ao governo Lerner (1995-2002). Ele disse que o ex-governador gastava R$ 600 mil por ano com refeições no Palácio Iguaçu -o que significa um gasto de R$ 1.600 ao dia, se distribuídos pelos 365 dias do ano. Também disse que Lerner gastou R$ 4,4 milhões com locação de aviões em cinco anos (leia nesta página).
"Sua excelência [Lerner] engolia nada mais nada menos que R$ 600 mil por ano de almoço no Palácio Iguaçu. Ora, nós estávamos silenciados a respeito dessas coisas, mas daqui para a frente vou publicar esses dados em jornal, nem que eu tenha que pagar do meu bolso", disse ele, para emendar: "Não é possível que esta canalha se levante com denúncias absolutamente infundadas de nepotismo (...), e que a gente vá ficando em silêncio sobre o que foi esta merda de governo que nos antecedeu".
Em entrevista, depois, Requião voltou a chamar de "ridícula" a reportagem que revelou que sua mulher, três irmãos, dois primos, cunhada e dois sobrinhos têm cargos no governo, além de 17 parentes do time de primeiro escalão. "[É uma reportagem] inclusive fraudada, de título malandro ["Governo de Requião emprega 26 parentes']. Parentes de quem? Meus? Não. É evidente que todo mundo é parente de alguém."
O ex-governador Jaime Lerner foi procurado ontem pela Agência Folha, mas um assessor seu disse que ele está em viagem à Austrália e que não tinha autorização para responder aos ataques.


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