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TREM DO PARANÁ
Governador afirma que parentesco não é "cláusula difamante"
Requião diz ser "nepotista militante" e ataca Lerner
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), rebateu
ontem, em discurso para secretários, dirigentes de empresas estatais e assessores, reportagem publicada anteontem na Folha na
qual foram relatados casos de nepotismo em seu governo.
No discurso, Requião definiu a
reportagem como "extremamente medíocre". Ele disse acreditar
que a denúncia partiu de pessoas
ligadas a seu antecessor, o ex-governador Jaime Lerner (ex-PFL,
hoje no PSB).
O levantamento informa que
Requião colocou nove pessoas da
família no governo e que integrantes do primeiro escalão empregaram mais 17, totalizando 26
parentes. Antes da publicação, o
governador foi procurado por
três dias seguidos, mas, através de
sua assessoria, ele se recusou a falar sobre o assunto.
O tema dominou a reunião com
o primeiro escalão, que tradicionalmente ocorre às segundas-feiras no auditório do Museu Oscar
Niemeyer -que é dirigido pela
mulher do governador, Maristela
de Mello e Silva.
"Sou um nepotista militante
(...). Ao mesmo tempo que parentesco não é credencial, não é absolutamente cláusula difamante",
disse, afirmando ter adotado o
"critério da confiança pessoal"
para montar a equipe, e que não
poderia excluir os irmãos Maurício, secretário da Educação, e
Eduardo, superintendente dos
portos de Paranaguá e Antonina.
"E não vai ser a ação estreita e
medíocre da Folha de S. Paulo,
alimentada evidentemente pelos
nossos adversários, anunciantes
generosos da imprensa brasileira,
que vai fazer com que o governo
mude a sua linha de austeridade",
afirmou ele. Requião disse que
demitirá os secretários que não
estiverem "funcionando".
Requião fez uma série de ataques diretos ao governo Lerner
(1995-2002). Ele disse que o ex-governador gastava R$ 600 mil
por ano com refeições no Palácio
Iguaçu -o que significa um gasto
de R$ 1.600 ao dia, se distribuídos
pelos 365 dias do ano. Também
disse que Lerner gastou R$ 4,4 milhões com locação de aviões em
cinco anos (leia nesta página).
"Sua excelência [Lerner] engolia nada mais nada menos que R$
600 mil por ano de almoço no Palácio Iguaçu. Ora, nós estávamos
silenciados a respeito dessas coisas, mas daqui para a frente vou
publicar esses dados em jornal,
nem que eu tenha que pagar do
meu bolso", disse ele, para emendar: "Não é possível que esta canalha se levante com denúncias
absolutamente infundadas de nepotismo (...), e que a gente vá ficando em silêncio sobre o que foi
esta merda de governo que nos
antecedeu".
Em entrevista, depois, Requião
voltou a chamar de "ridícula" a
reportagem que revelou que sua
mulher, três irmãos, dois primos,
cunhada e dois sobrinhos têm
cargos no governo, além de 17 parentes do time de primeiro escalão. "[É uma reportagem] inclusive fraudada, de título malandro
["Governo de Requião emprega
26 parentes']. Parentes de quem?
Meus? Não. É evidente que todo
mundo é parente de alguém."
O ex-governador Jaime Lerner
foi procurado ontem pela Agência Folha, mas um assessor seu
disse que ele está em viagem à
Austrália e que não tinha autorização para responder aos ataques.
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