São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2004

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CAMPO MINADO

Atos do MST fazem parte do "novembro vermelho"; no Sul, sem-terra invadem área do Ministério da Agricultura

Onda de invasões avança em três Estados

DA AGÊNCIA FOLHA

Trabalhadores sem terra invadiram fazenda nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco e fizeram protestos em Sergipe e no Rio Grande do Norte. As ações ocorreram ao longo do dia de ontem, como parte da nova onda nacional de manifestações pela reforma agrária, batizada de "novembro vermelho".
No Rio Grande do Sul, o alvo foi uma propriedade do Ministério da Agricultura. Cerca de 450 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) invadiram pela manhã o centro tecnológico agropecuário do ministério em Sarandi (322 km ao norte de Porto Alegre). Os invasores chegaram ao local em dois caminhões.
À tarde, o Ministério da Agricultura entrou na Justiça com pedido de reintegração de posse.
O local abriga um laboratório no qual se investigam doenças ligadas ao gado e se desenvolvem vacinas, especialmente contra a febre aftosa. Há material de pesquisa estocado no local. A propriedade também tem rebanho bovino (750 cabeças) e plantações de milho.
De acordo com o coordenador do MST Sílvio dos Santos, que lidera a manifestação, o grupo permanece a cerca de um quilômetro e meio da sede.
O objetivo da invasão, além de exigir a aceleração da reforma agrária no país, é cobrar o cumprimento de promessas feitas ao MST gaúcho, como a liberação de 6.000 hectares para assentamentos no Estado.
De acordo com o MST, nenhum assentamento foi criado no Rio Grande do Sul nos últimos dois anos. Há, no Estado, 2.500 famílias acampadas. Nacionalmente, o MST pede o assentamento de 115 mil famílias até o final do ano.

São Paulo
No Estado de São Paulo, a invasão ocorreu na região de Iaras (282 km a noroeste da capital). No final da madrugada, um grupo de mil trabalhadores de 500 acampamentos do MST chegou à fazenda Rio Pardo, nas imediações do km 266 da rodovia Castelo Branco, e invadiu a propriedade. Funcionários da fazenda não reagiram.
Para um dos líderes da invasão, Paulo Albuquerque, a invasão "tem por finalidade pressionar o governo federal para acelerar a política de reforma agrária". Segundo ele, na fazenda poderiam ser assentadas 4.000 famílias.
Grande parte da área, segundo o MST, é devoluta (suspeita de ter sido grilada). A Fundação Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), no entanto, não confirmou se a fazenda faz parte de seu cadastro de terras devolutas.
De acordo com policiais da delegacia de Iaras, onde um boletim de ocorrência foi registrado, a situação estava tranqüila no local. O advogado dos donos da fazenda Rio Pardo informou que havia entrado ontem na Justiça com um pedido de reintegração de posse da fazenda, que, segundo ele, é totalmente produtiva.
Em Pernambuco, duas fazendas foram invadidas e outra foi cercada por lavradores ligados ao MST. As ações ocorreram durante a madrugada e envolveram 400 pessoas. Não houve confronto.
O MST, que já havia coordenado a invasão de uma fazenda anteontem no Estado, anunciou que novas áreas serão tomadas ainda nesta semana.
Ontem, a primeira invasão aconteceu em São Joaquim do Monte (130 km do Recife). Cerca de 150 pessoas tomaram a fazenda Consulta, considerada improdutiva por elas.
A segunda foi em Altinho (190 km da capital). A fazenda Santo Amaro foi tomada por cerca de cem lavradores. A área já havia sido invadida em abril pelo mesmo grupo, mas a Justiça estadual ordenou a saída dos sem-terra.
Em Água Preta (140 km do Recife), 150 agricultores acamparam em frente à fazenda São Joaquim para pressionar o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a agilizar a desapropriação da gleba.
A superintendente do Incra no Recife, Maria de Oliveira, disse que está acompanhando a série de invasões e protestos no país: "Enquanto forem pacíficos, acompanharemos. Se deixarem de ser pacíficos, o governo entrará com a capacidade de manter a ordem".

Manifestações
O MST organizou ontem manifestações em frente às sedes do Incra em Sergipe e no Rio Grande do Norte. Em Aracaju, cerca de 2.000 pessoas acampam desde segunda-feira numa praça próxima do instituto. Em Natal, 120 integrantes do movimento fizeram protesto pacífico pela manhã.
Na Paraíba, houve anteontem bloqueios por toda a manhã nas rodovias BR-230 e BR-101, principais vias do Estado.
Atendendo a um pedido do comando nacional, integrantes do MST de Alagoas deixaram na tarde de ontem a subestação da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) no município de Delmiro Gouveia.
A decisão do MST nacional foi tomada depois que os líderes do movimento foram informados da possibilidade de um apagão em alguns Estados nordestinos.
A subestação foi invadida anteontem por cerca de 500 agricultores. Em oito caminhões, eles deixaram a Chesf e seguiram para Maceió, onde teriam um encontro com representantes do Incra.
(EDUARDO DE OLIVEIRA, FÁBIO GUIBU, JOSÉ EDUARDO RONDON, LÉO GERCHMANN E LUIZ FRANCISCO)


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