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CAMPO MINADO
Atos do MST fazem parte do "novembro vermelho"; no Sul, sem-terra invadem área do Ministério da Agricultura
Onda de invasões avança em três Estados
DA AGÊNCIA FOLHA
Trabalhadores sem terra invadiram fazenda nos Estados de São
Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco e fizeram protestos em
Sergipe e no Rio Grande do Norte.
As ações ocorreram ao longo do
dia de ontem, como parte da nova
onda nacional de manifestações
pela reforma agrária, batizada de
"novembro vermelho".
No Rio Grande do Sul, o alvo foi
uma propriedade do Ministério
da Agricultura. Cerca de 450 integrantes do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) invadiram
pela manhã o centro tecnológico
agropecuário do ministério em
Sarandi (322 km ao norte de Porto Alegre). Os invasores chegaram ao local em dois caminhões.
À tarde, o Ministério da Agricultura entrou na Justiça com pedido de reintegração de posse.
O local abriga um laboratório
no qual se investigam doenças ligadas ao gado e se desenvolvem
vacinas, especialmente contra a
febre aftosa. Há material de pesquisa estocado no local. A propriedade também tem rebanho
bovino (750 cabeças) e plantações
de milho.
De acordo com o coordenador
do MST Sílvio dos Santos, que lidera a manifestação, o grupo permanece a cerca de um quilômetro
e meio da sede.
O objetivo da invasão, além de
exigir a aceleração da reforma
agrária no país, é cobrar o cumprimento de promessas feitas ao
MST gaúcho, como a liberação de
6.000 hectares para assentamentos no Estado.
De acordo com o MST, nenhum
assentamento foi criado no Rio
Grande do Sul nos últimos dois
anos. Há, no Estado, 2.500 famílias acampadas. Nacionalmente, o
MST pede o assentamento de 115
mil famílias até o final do ano.
São Paulo
No Estado de São Paulo, a invasão ocorreu na região de Iaras
(282 km a noroeste da capital). No
final da madrugada, um grupo de
mil trabalhadores de 500 acampamentos do MST chegou à fazenda
Rio Pardo, nas imediações do km
266 da rodovia Castelo Branco, e
invadiu a propriedade. Funcionários da fazenda não reagiram.
Para um dos líderes da invasão,
Paulo Albuquerque, a invasão
"tem por finalidade pressionar o
governo federal para acelerar a
política de reforma agrária". Segundo ele, na fazenda poderiam
ser assentadas 4.000 famílias.
Grande parte da área, segundo o
MST, é devoluta (suspeita de ter
sido grilada). A Fundação Itesp
(Instituto de Terras do Estado de
São Paulo), no entanto, não confirmou se a fazenda faz parte de
seu cadastro de terras devolutas.
De acordo com policiais da delegacia de Iaras, onde um boletim
de ocorrência foi registrado, a situação estava tranqüila no local.
O advogado dos donos da fazenda Rio Pardo informou que havia
entrado ontem na Justiça com um
pedido de reintegração de posse
da fazenda, que, segundo ele, é totalmente produtiva.
Em Pernambuco, duas fazendas
foram invadidas e outra foi cercada por lavradores ligados ao MST.
As ações ocorreram durante a
madrugada e envolveram 400
pessoas. Não houve confronto.
O MST, que já havia coordenado a invasão de uma fazenda anteontem no Estado, anunciou que
novas áreas serão tomadas ainda
nesta semana.
Ontem, a primeira invasão
aconteceu em São Joaquim do
Monte (130 km do Recife). Cerca
de 150 pessoas tomaram a fazenda Consulta, considerada improdutiva por elas.
A segunda foi em Altinho (190
km da capital). A fazenda Santo
Amaro foi tomada por cerca de
cem lavradores. A área já havia sido invadida em abril pelo mesmo
grupo, mas a Justiça estadual ordenou a saída dos sem-terra.
Em Água Preta (140 km do Recife), 150 agricultores acamparam
em frente à fazenda São Joaquim
para pressionar o Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a agilizar a desapropriação da gleba.
A superintendente do Incra no
Recife, Maria de Oliveira, disse
que está acompanhando a série de
invasões e protestos no país: "Enquanto forem pacíficos, acompanharemos. Se deixarem de ser pacíficos, o governo entrará com a
capacidade de manter a ordem".
Manifestações
O MST organizou ontem manifestações em frente às sedes do Incra em Sergipe e no Rio Grande
do Norte. Em Aracaju, cerca de
2.000 pessoas acampam desde segunda-feira numa praça próxima
do instituto. Em Natal, 120 integrantes do movimento fizeram
protesto pacífico pela manhã.
Na Paraíba, houve anteontem
bloqueios por toda a manhã nas
rodovias BR-230 e BR-101, principais vias do Estado.
Atendendo a um pedido do comando nacional, integrantes do
MST de Alagoas deixaram na tarde de ontem a subestação da
Chesf (Companhia Hidrelétrica
do São Francisco) no município
de Delmiro Gouveia.
A decisão do MST nacional foi
tomada depois que os líderes do
movimento foram informados da
possibilidade de um apagão em
alguns Estados nordestinos.
A subestação foi invadida anteontem por cerca de 500 agricultores. Em oito caminhões, eles
deixaram a Chesf e seguiram para
Maceió, onde teriam um encontro com representantes do Incra.
(EDUARDO DE OLIVEIRA, FÁBIO GUIBU, JOSÉ EDUARDO RONDON, LÉO GERCHMANN E LUIZ FRANCISCO)
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