São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercadante pede fim de "continuísmo" na economia

Senador petista defende reforma da Previdência

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem o cargo de líder do governo e enfraquecido pelo dossiegate, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) defendeu ontem mudanças na política econômica para atingir a meta de crescimento de 5% ao ano e afirmou que é preciso avançar na reforma da Previdência.
Mercadante quis abrir um debate no Senado sobre a política econômica, além de propor à oposição um pacto para aprovar uma agenda legislativa que contribuísse para o crescimento do país. Ele tenta recuperar um lugar de destaque na Casa depois que o ex-coordenador de sua campanha ao governo paulista Hamilton Lacerda foi envolvido no caso do dossiê.
O líder do PFL, senador José Agripino (RN), interpretou o discurso do petista no plenário do Senado como uma tentativa de colocar seu nome na reforma ministerial que será promovida pelo presidente Lula: "Ele apresentou-se como um elemento capaz de vestir o figurino de ministro se o governo estiver disposto a mudar a política econômica", disse.
Para Mercadante, a receita para um crescimento econômico acelerado é o aumento do investimento público, que seria conseguido com a redução do gasto corrente. Segundo ele, só a redução da taxa de juros não permite o aumento dos investimentos. "Sou contra o continuísmo da política econômica. A política econômica que tivemos nesse período foi uma política de transição, que cumpriu o seu papel, estabilizou a economia", disse ele: "Essa política econômica não vai permitir o crescimento de 5% ao ano, que é a meta do segundo governo".
O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) afirmou, no dia do segundo turno das eleições presidenciais, que seria o fim da "era Palocci", em relação à política econômica adotada no primeiro mandato do presidente Lula pelo ministro Antonio Palocci. Genro foi repreendido por Lula.
Mercadante disse ainda que não adianta continuar apenas aumentando o superávit primário, fazendo ajuste fiscal e buscando combinar essa política monetária com a política fiscal. Para ele, não é possível reduzir agora o superávit primário de 4,25% do PIB devido ao déficit nominal de 3% do PIB.
Mercadante defendeu um "novo desenvolvimentismo", com o foco da política econômica e orçamentária no investimento para impulsionar o crescimento sustentável do país.

Garcia
O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, disse em nota que concorda com parte do que disse o senador Aloizio Mercadante. "A fala do senador coincide em muitos pontos com minhas idéias (em outros nem tanto) e está sintonizada com o debate que o governo vem realizando há tempos", disse Garcia, sem especificar quais os pontos convergentes.
A nota de Garcia rebateu a interpretação de alguns portais de internet de que a crítica ao "velho desenvolvimentismo" seria uma referência a ele. Garcia diz que conversou por Mercadante antes do discurso.
"Quem conhece minhas posições -e um jornalismo sério poderia apurá-las- saberia que, pelo menos, desde 1994, quando coordenei o Programa de Governo de Lula, tenho criticado publicamente o "velho" desenvolvimentismo (da mesma forma que o neoliberalismo) por seu caráter concentrador de renda, fiscalmente inconsistente e de difícil convivência com a democracia."
Garcia finaliza a nota com um desabafo: "E depois dizem que tenho má vontade com certo tipo de imprensa".


Texto Anterior: Contas da viagem de Lula estão à disposição do TCU, diz Planalto
Próximo Texto: Polêmica: Em nota, Itamaraty afirma que Brasil não vai se retirar do TNP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.