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Desmate melhora economia, mas não eleva índices sociais
Cruzamento de dados mostra colapso de educação e saúde na Amazônia Legal
Nos 50 municípios que mais desmataram, crescimento de emprego e renda foi 35% maior que média regional, e índice de saúde, 63% menor
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O avanço do desmatamento
na Amazônia Legal provoca
uma disparada econômica dos
municípios, mas não melhora
os indicadores sociais. Nas localidades que mais desmatam,
os índices de emprego e renda
aparecem acima da média da
região, enquanto os dados de
educação e saúde engatinham.
Esse quadro aparece no cruzamento, realizado pela Folha,
entre dados de desmatamento,
do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), e o Índice
de Desenvolvimento Municipal criado pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro). Ambos têm
como recorte o período de
2000 a 2006 (quando há dados
disponíveis nessas fontes).
No caso do desmate, foram
usados dois recortes no levantamento: os 50 municípios que
mais desmataram em extensão
e os 50 que mais desmataram
em termos proporcionais (em
relação à própria superfície).
Um exemplo da discrepância
é que, no índice de emprego e
renda, os 50 municípios da
Amazônia Legal que mais desmataram em extensão entre
2000 e 2006 avançaram 35%
acima da média regional. Já no
indicador de saúde, os mesmos
50 municípios cresceram 63%
abaixo da média da Amazônia
Legal (Região Norte, Mato
Grosso e parte do Maranhão).
A disparidade é ainda maior
quando a média da região é
comparada com os 50 municípios que mais desmataram em
relação às suas superfícies. Entre 2000 e 2006, o índice de
emprego e renda dessas localidade subiu 81% acima da região, enquanto seu indicador
social (educação e saúde) cresceu 36% abaixo da média local.
Líder em desmatamento,
São Félix do Xingu (PA) viu seu
índice de emprego e renda
crescer 9% acima da média da
região, mas o de saúde ficou
17% abaixo. Segundo colocado
na extensão do desmatamento,
Paragominas (PA) tem perfil
semelhante: índice de emprego
e renda 14% acima da média, e
o de saúde 83% abaixo.
Para especialistas e representantes de entidades ouvidos
pela Folha, o desmatamento
concentra renda e gera empregos de forma passageira. Segundo eles, o anúncio de oportunidades de emprego atrai
trabalhadores migrantes e,
com isso, deixa em colapso os
sistemas de saúde e educação.
"É uma espécie de febre. No
período do desmatamento tem
a venda da madeira, tem emprego para formar pasto. Mas,
depois que colocou os bois,
ninguém ganha mais nada",
afirma José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia da USP.
"Onde não respeitam a lei
ambiental, dificilmente irão
respeitar leis trabalhistas, podendo colocar em risco a saúde
do trabalhador, com consequências sobre os índices", diz
Patrick Carvalho, chefe de Estudos Econômicos da Firjan.
O avanço do desmatamento
não está apenas ligado à atividade madeireira clandestina.
Com ele, disparam também
projetos de mineração e de geração de energia. "É uma riqueza, mas concentrada. Saneamento básico, saúde pública,
educação e outros direitos sociais inexistem", diz José Batista, da Pastoral da Terra.
Como muitos dos empregos
criados na região estão ligados
ao desmatamento, cria-se um
dilema entre uma atividade ilegal e a única opção de renda.
No ano passado, uma operação
federal no Pará contra a exploração ilegal de madeira motivou protestos da população.
"A Amazônia está encalhada.
Há uma luta contra o desmatamento, mas ainda não existe
uma economia para substituir
essa velha prática predatória e
ilegal", afirma Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon
(Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia).
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