São Paulo, Sábado, 11 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Comissão busca informações sobre treinamento extra-oficial realizado à noite em Maricá, no RJ
CPI quer explicações da Aeronáutica

RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio


A CPI do Narcotráfico vai pedir à Aeronáutica explicações sobre um treinamento da FAB (Força Aérea Brasileira) feito em abril no aeroporto de Maricá (a 55 km do Rio), que está sob suspeita de ser utilizado pelo narcotráfico internacional. A CPI descobriu que os exercícios militares foram feitos à noite -quando não há expediente no aeroporto- e em caráter extra-oficial, ou seja, sem o conhecimento da Prefeitura de Maricá, que administra o aeroporto.
"A Aeronáutica não poderia fazer exercícios noturnos em uma pista que não funciona à noite", afirmou a deputada federal Laura Carneiro (PFL-RJ), sub-relatora que acompanhou os trabalhos da comissão ontem em Maricá.
Segundo o Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica, é comum aviões da FAB serem usados em treinamentos, 24 horas por dia, em situações diversas, em todo o Brasil.
No entanto, ainda segundo o centro, a 5ª Força Aérea, no Estado do Rio, estava em recesso ontem, e a existência da missão, assim como seus tripulantes e objetivos, não pôde ser confirmada.
A CPI suspeita que haja ligação entre o treinamento e os crimes ocorridos em Maricá com a quadrilha que usava aviões da FAB para enviar cocaína à Europa.
A quadrilha foi descoberta em 18 de abril, quando foram encontrados 33 quilos de cocaína em um avião da FAB que havia decolado da Base Aérea do Galeão, no Rio, e fazia escala em Recife, antes de seguir para a Espanha.
Segundo informações contidas em dossiê encaminhado ontem à CPI pelo delegado Anestor Magalhães, da 82ª Delegacia de Polícia, em Maricá, o treinamento consistiu no lançamento, de um avião, de 16 volumes de cargas -de conteúdo não identificado.
De acordo com o dossiê, uma Kombi da Aeronáutica recolheu o material lançado pelo avião utilizado no exercício -um Hércules.
O dossiê informa também sobre uma série de crimes ocorridos na cidade desde o dia do treinamento. O primeiro foi o assassinato do italiano Franco Peliciota, acusado de ligação com o tráfico de drogas, morto a tiros no mesmo dia da operação no aeroporto.
Quatro dias depois, o tenente-coronel aviador Paulo Roberto de Souza Machado, da FAB, levado por um bando armado quando saía do aeroporto, foi torturado e assassinado.
Segundo a polícia, os assassinos do militar utilizavam duas Kombis. Há suspeitas de que uma delas seria a mesma usada durante o treinamento no aeroporto, já que uma testemunha reconheceu um brasão da FAB na porta do veículo em que Machado foi levado.
Três semanas depois, ocorreu outro crime na cidade: o assassinato de Waldevir Pereira, gerente do hotel que pertencia a Peliciota.
De acordo com a polícia, os três crimes foram praticados com o mesmo tipo de arma, uma pistola Lugger 9 milímetros, de uso exclusivo das Forças Armadas.
Na próxima segunda, a CPI do Narcotráfico voltará a Maricá para ouvir testemunhas ligadas aos crimes ocorridos na cidade.


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