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ENCONTRO MARCADO
Americano condiciona ajuda a medidas econômicas do PT
Lula pede esforço de Bush por linhas de crédito ao país
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Apesar de informal e bem-humorado, o encontro na Casa
Branca entre o presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos EUA, George W.
Bush, teve dois momentos duros
e de muita franqueza.
Lula pediu um esforço da Casa
Branca para convencer bancos
privados a retomarem linhas comerciais ao Brasil. Bush condicionou essa ajuda a medidas econômicas que o PT adotará no poder.
Num outro momento, o presidente eleito disse que seria duro
nas negociações da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Bush disse que essa postura é
aceitável desde que Lula seja "realista" nas negociações.
Cordialidade
A conversa durou 45 minutos e
foi realizada no salão oval da Casa
Branca. Traduzida aos líderes por
dois intérpretes, ela foi acompanhada pela comitiva de Lula e por
assessores e integrantes do primeiro escalão do governo Bush.
Só Lula e Bush falaram. As duas
equipes ficaram quietas.
"Bush não só foi muito cordial
no tratamento da minha delegação, como também propôs uma
agenda comum entre os dois países e os dois governos. Já a partir
de janeiro, poderíamos fazer uma
reunião de cúpula para discutir os
problemas que nos interessam",
disse Lula após o encontro.
Lula afirmou ter tido uma boa
impressão de Bush.
"A impressão foi a melhor possível. Vi Bush com muita disposição e muito boa vontade com o
Brasil. Como nós brasileiros temos interesse em aprofundar essa
relação, nós vamos tratar isso
com muito carinho. Vamos fazer
com que essa relação possa melhorar porque o Brasil precisa ter
ousadia nas suas relações internacionais", afirmou.
Testemunha e principal promotora do encontro de ontem, a embaixadora dos EUA no Brasil,
Donna Hrinak, disse que os dois
foram muito "assertivos".
Com relação ao pedido do petista para que Bush convença os
bancos privados a retomarem as
linhas de crédito ao país, Hrinak
disse que o presidente americano
demonstrou uma espécie de solidariedade condicional. "A resposta [de Bush] foi que a gente
quer trabalhar com vocês, mas
depende também do que vocês fazem e do que o governo [brasileiro] diz e faz", afirmou.
Depois do encontro, Lula relatou parcialmente esse diálogo aos
jornalistas, sem mencionar a resposta de Bush. "Eu disse ao presidente Bush que embora seja um
problema do sistema financeiro,
acredito que o governo norte-americano pode ajudar no sentido de que as linhas de crédito não
se fechem ao Brasil."
Quando Lula disse a Bush que
pretende negociar a Alca da mesma maneira "dura" com a qual os
EUA negociam seus acordos comerciais, o americano pediu realismo ao petista. "O presidente
Bush falou: "espero que com realismo também"."
Fome Zero
Outros assuntos abordados na
conversa foram o programa Fome Zero de Lula, o combate ao
terrorismo, ao narcotráfico e a situação do Iraque.
Antes do encontro, o porta-voz
da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que Bush conversaria com Lula
sobre segurança no Hemisfério,
embora o principal assunto da
agenda seria economia. Durante
o encontro, Lula hipotecou apoio
ao combate ao terrorismo e ao
narcotráfico.
Questionado se conversara sobre o programa de combate à fome com Bush, Lula respondeu:
"Não só conversei, como esse tema tem recebido solidariedade de
todas as pessoas com quem tenho
conversado e ficou clara a solidariedade e a ajuda de Bush para o
programa de combate à fome".
Segundo relato do porta-voz de
Lula, André Singer, Bush disse
que a eleição de Lula chamou a
atenção nos EUA por suas prioridades: combate a fome e compromisso social. E que ele concordava com elas. E Lula respondeu:
"Minha guerra é uma guerra contra a pobreza".
De acordo com a embaixadora
Hrinak, o assunto da fome e da
miséria foi o que mais consumiu
minutos da reunião. "Não houve
nenhuma discussão específica sobre apoio desse governo ao programa. Mas temos muitas possibilidades de ajudá-los com assistência técnica. Temos muita experiência nisso", afirmou, referindo-se ao sistema de distribuição
de cupons alimentares nos EUA.
Durante todos os encontros que
teve ontem, Lula procurou elogiar
Bush e demonstrar otimismo
com relação ao futuro da relação
bilateral. "Em meu primeiro pronunciamento após vencer a eleição, disse que pressentia o nascimento de um novo Brasil. Volto
ao Brasil convencido de que terei
no presidente George W. Bush
um importante aliado nessa nova
e decisiva etapa que se inaugura
para a nação brasileira", disse ele
em seu discurso no Clube Nacional da Imprensa.
"Tal como a sociedade americana que, em momentos críticos da
sua história soube enfrentar de
maneira criativa e solidária os desafios da recessão e da fome, vamos trabalhar de maneira incansável para tirar milhões de brasileiros da miséria."
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