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ELIO GASPARI
O cavalheiro Armínio Fraga
Armínio Fraga faz parte de
um agrupamento de economistas que arruinou a nação.
Prometeram estabilidade monetária e crescimento econômico, entregaram uma economia
estagnada e inflação logo depois
da esquina, como diria o presidente americano Herbert Hoover. Pois é a Armínio Fraga que
o PT deve desculpas. Tem-lhe
dado um tratamento malcriado, cheio de soberba, vulgar.
Tem recebido de volta uma lição de humildade e responsabilidade pública.
Aos fatos:
Pode-se acreditar que lá pelo
meio do ano, Armínio Fraga tenha namorado a idéia de continuar na presidência do Banco
Central. Ele gosta do cargo. Gosta muito. Lula não o queria no
lugar. É verdade que houve petistas e mercadistas conspirando para que ele fosse mantido,
mas nem tiveram influência suficiente para convencer Lula,
nem a coragem necessária para
expor suas propostas em público.
Armínio viu-se numa situação esquisita. O novo locatário
do Planalto anuncia que deseja
mandá-lo embora, mas ele não
pode dizer que fica feliz indo para casa. É por isso que o PT deve
desculpas a Armínio. Imagine-se a seguinte situação: Lula diz
que não vai mantê-lo e Armínio
convoca uma entrevista coletiva
informando que não tem o menor interesse em colaborar com
um governo formado por pessoas que pensam de forma diametralmente diferente dele. Um
ouvinte o corrige e lembra que o
doutor Palocci e um número cada vez maior de petistas estão
pensando como ele. Armínio
responde que, nesse caso, vê
mais uma razão para ir-se embora, visto que aprendeu a não
confiar em quem muda de opinião num assunto tão importante sem ler ao menos um livro.
Jogo jogado. Ambos dizem o que
pensam e a vida segue.
Dado o fato que o presidente
do Banco Central terá chutado
o balde, não custa muito supor
que depois de uma declaração
desse tipo, o dólar vai a R$ 4.
Uma retribuição de Armínio
custaria ao novo governo um
enorme trabalho de reconstrução da confiança dos investidores internacionais. Seja lá o que
for essa tal de confiança dos investidores internacionais, o fato
é que o PT passou a cultivá-la
como antigamente cultivava-se
a memória de Camilo Torres, o
padre-guerrilheiro colombiano,
Paradoxal situação: por lealdade à economia brasileira (ou
ao que ainda há dela) Armínio
Fraga carrega estoicamente o
fardo da malcriação alheia. Por
mais que a presidência do Banco Central seja para ele uma experiência ímpar e muito provavelmente insuperável, não precisa do cargo para coisa nenhuma. Mora no Rio, tem família
arrumada e casa montada. Ganhou todo o dinheiro que pode
vir a precisar na vida antes de
trabalhar para o governo. Financeiramente, faz parte daquele grupo de pessoas que perde patrimônio ao trabalhar para a Viúva.
Serviu ao Estado brasileiro como fizeram diversas gerações de
sua família. Coube ao médico
Clementino Fraga Filho, reitor
em exercício da gloriosa Universidade do Brasil em junho de
1968, aturar malcriações de estudantes. Foi praticamente prisioneiro de uma assembléia de
2.000 jovens. Parecia a China,
com os professores sendo interpelados por alunos. Na narrativa de Vladimir Palmeira, um do
líderes da cena, "a partir de certo momento, o reitor Clementino Fraga começou a negociar
nossa saída daquele local." Bingo. Tinham prendido o reitor,
mas precisavam de sua autoridade para escapar da polícia,
que cercara a universidade. Infelizmente, a polícia traiu o professor Fraga e quando os estudantes saíram deu-se uma
grande pancadaria. A crônica
da noite informa que o reitor
ajudou estudantes a escafederem-se.
Muitos estudantes das jornadas de 1968 estão no firmamento petista. Não só Vladimir Palmeira, com seu exemplo de coerência, como também José Dirceu de Oliveira e Silva, na época
um agitador paulista. E nesse
novo cenário de real valor, lá está um Fraga, prisioneiro aparente de seus adversários políticos, pronto para negociar a melhor saída possível para uma
turma que está pronta para mudar o mundo.
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