São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Presidente pressiona para baixar preço de caça

Escolhido por Lula, avião francês ficou em 3º em relatório da FAB e custa o dobro do sueco, 1º colocado

DA COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De volta das férias, o presidente Lula indicou ontem a interlocutores que mantém sua preferência pela França para o fornecimento dos próximos caças da FAB (Força Aérea Brasileira), mas conta com uma nova rodada de pressões sobre a fabricante do avião Rafale, a francesa Dassault, para tentar obter melhores condições e preço.
A compra inicial, de 36 aviões, pode chegar a R$ 10 bilhões. A principal desvantagem do Rafale está justamente no preço: apesar das promessas do presidente Nicolas Sarkozy de que a Dassault cobraria do Brasil os valores pagos pelo governo francês, isso não ocorreu na fase de seleção técnica. A intenção é conseguir isso agora.
O Rafale ficou em último lugar no relatório feito pela FAB. O sueco Saab Gripen NG foi o primeiro, e o F-18 da Boeing norte-americana, o segundo. O francês custa mais do que o americano, considerado o melhor do mundo, e o dobro do sueco, ainda um protótipo.
O custo de manutenção do Rafale pelos 30 anos de vida útil também é superior ao dos concorrentes, mas a área política do governo diz desconsiderar esse fator devido a dois outros: a aliança estratégica Brasil-França e a qualidade do Rafale.
Para a FAB, o sueco Saab seria o mais conveniente não só por preço e custo de manutenção, mas pelo pacote de transferência de tecnologia para a indústria nacional.
Na avaliação política, porém, o sueco tem dois problemas "graves": o principal é que não se trata de um produto pronto.
O outro é que ele é montado com peças e componentes dos Estados Unidos e da Europa, o que poderia criar dificuldades para o Brasil em caso de fabricação nacional ou de venda para o exterior.
O F-18 dos EUA ficou praticamente sem padrinhos no governo, traumatizado pelo veto de Washington à venda de aviões Super Tucano da Embraer para a Venezuela, por conterem peças americanas.
O relatório da FAB foi entregue oficialmente na semana passada ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas não tem sido capaz de demover ministros e assessores do presidente, como o próprio Jobim, Celso Amorim (Relações Exteriores) e Marco Aurélio Garcia (assessor internacional).
Jobim estudou o relatório nos últimos três dias e disse que poderia rever o peso dos itens considerados no processo que deu a vitória ao sueco.
Lula tem autonomia para escolher, ouvindo o apenas consultivo Conselho de Defesa Nacional. A decisão pode sair o quanto antes, porque as negociações do contrato podem durar meses e entrar pela fase de campanha eleitoral no Brasil, o que nem os militares nem os civis do governo querem. (ELIANE CANTANHÊDE e SIMONE IGLESIAS)


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