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Presidente pressiona para baixar preço de caça
Escolhido por Lula, avião francês ficou em 3º em relatório da FAB e custa o dobro do sueco, 1º colocado
DA COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De volta das férias, o presidente Lula indicou ontem a interlocutores que mantém sua
preferência pela França para o
fornecimento dos próximos caças da FAB (Força Aérea Brasileira), mas conta com uma nova
rodada de pressões sobre a fabricante do avião Rafale, a francesa Dassault, para tentar obter
melhores condições e preço.
A compra inicial, de 36
aviões, pode chegar a R$ 10 bilhões. A principal desvantagem
do Rafale está justamente no
preço: apesar das promessas do
presidente Nicolas Sarkozy de
que a Dassault cobraria do Brasil os valores pagos pelo governo francês, isso não ocorreu na
fase de seleção técnica. A intenção é conseguir isso agora.
O Rafale ficou em último lugar no relatório feito pela FAB.
O sueco Saab Gripen NG foi o
primeiro, e o F-18 da Boeing
norte-americana, o segundo. O
francês custa mais do que o
americano, considerado o melhor do mundo, e o dobro do
sueco, ainda um protótipo.
O custo de manutenção do
Rafale pelos 30 anos de vida útil
também é superior ao dos concorrentes, mas a área política
do governo diz desconsiderar
esse fator devido a dois outros:
a aliança estratégica Brasil-França e a qualidade do Rafale.
Para a FAB, o sueco Saab seria o mais conveniente não só
por preço e custo de manutenção, mas pelo pacote de transferência de tecnologia para a
indústria nacional.
Na avaliação política, porém,
o sueco tem dois problemas
"graves": o principal é que não
se trata de um produto pronto.
O outro é que ele é montado
com peças e componentes dos
Estados Unidos e da Europa, o
que poderia criar dificuldades
para o Brasil em caso de fabricação nacional ou de venda para o exterior.
O F-18 dos EUA ficou praticamente sem padrinhos no governo, traumatizado pelo veto
de Washington à venda de
aviões Super Tucano da Embraer para a Venezuela, por
conterem peças americanas.
O relatório da FAB foi entregue oficialmente na semana
passada ao ministro da Defesa,
Nelson Jobim, mas não tem sido capaz de demover ministros
e assessores do presidente, como o próprio Jobim, Celso
Amorim (Relações Exteriores)
e Marco Aurélio Garcia (assessor internacional).
Jobim estudou o relatório
nos últimos três dias e disse
que poderia rever o peso dos
itens considerados no processo
que deu a vitória ao sueco.
Lula tem autonomia para escolher, ouvindo o apenas consultivo Conselho de Defesa Nacional. A decisão pode sair o
quanto antes, porque as negociações do contrato podem durar meses e entrar pela fase de
campanha eleitoral no Brasil, o
que nem os militares nem os civis do governo querem.
(ELIANE CANTANHÊDE e SIMONE IGLESIAS)
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