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Ministro do "nada a declarar", Armando Falcão morre aos 90
Titular da Justiça nos governos JK e Geisel morreu em sua
casa, no Rio de Janeiro, vítima de uma broncopneumonia<
Ele comandou a elaboração
do "Pacote de Abril", com
alterações eleitorais para
tentar frear o avanço da
oposição ao regime militar
DA SUCURSAL DO RIO
Criador da lei que limitava a
propaganda eleitoral na TV a
exibição de foto com narração
do currículo do candidato para
evitar críticas à ditadura militar, morreu anteontem Armando Ribeiro Severo Falcão, 90,
ministro da Justiça nos governos de Juscelino Kubitschek
(1956-1961) e de Ernesto Geisel
(1974-1979).
Vítima de broncopneumonia, Falcão - que tinha "nada a
declarar" como expressão predileta durante o regime de exceção- morreu por volta das
23h30, em sua casa, na zona sul
do Rio. Foi enterrado ontem no
cemitério São João Batista, em
cerimônia restrita a familiares.
Segundo amigos, Falcão gostava de relembrar os tempos
em que atuou na política nacional. "Foi um homem público
que teve a sua marca. Era um
contador de histórias", disse
José Armando Bezerra Falcão,
um dos seis filhos do ministro.
"Era um homem lúcido, que
gostava de fazer recordações.
Uma pessoa de agradável convivência", afirmou o general
Leônidas Gonçalves, ministro
do Exército no governo Sarney,
que diz ter passado a ter contato com Falcão só após o afastamento de ambos da política.
Na avaliação da cientista política Maria Celina D'Araújo,
Falcão "é um personagem que
nos ajuda a refletir o Brasil".
"É uma figura para entender
que não tivemos uma ditadura
militar. Foi militar com uma
vertebração civil muito forte.
Nela, ele foi o nervo central, foi
a expressão civil mais acabada
do golpe e do governo. Ele foi o
porta-voz da linha-dura até o final", disse ela.
Armando Falcão era cearense de Fortaleza. Foi um dos articuladores da candidatura de
JK à Presidência e depois ministro da Justiça de seu governo entre 1959 e 1961. Voltou ao
posto no governo Geisel.
Lei Falcão
A pedido do então presidente, comandou a elaboração do
projeto de lei para a fusão dos
Estados da Guanabara e do Rio
de Janeiro, que passaria a vigorar em 15 de março de 1975, e o
conjunto de leis que se tornou
conhecido por "Pacote de
Abril", de 1977, com alterações
eleitorais para tentar frear o
avanço dos candidatos de oposição ao regime militar.
Entre elas estava a chamada
Lei Falcão, regulamentação da
propaganda eleitoral no rádio e
na televisão que, para impedir
críticas em meios de massa ao
governo, limitava os candidatos
a exibirem foto e currículo.
Em 1989, publicou um livro
de memórias com o título, "Tudo a Declarar" (Nova Fronteira), gracejo com a frase "nada a
declarar", que caracterizara sua
relação com a imprensa quando ministro de Geisel e se recusava a comentar o que considerasse confidencial ou polêmico.
Democracia e censura
Em entrevistas à época do
lançamento, expôs sua visão do
poder, na qual dizia-se um democrata a seu modo: "Democrata que não dorme de touca.
Democrata que defende a democracia, sem deixar o inimigo
dela segurar o cabo da faca."
Tendo comandado a censura
a diversos órgãos de imprensa,
dizia-se contrário à reimplantação eventual de qualquer restrição desse tipo. "Porque é impossível fazer uma censura política adequada, satisfatória e
aceitável. Em segundo lugar,
porque a censura impede a fiscalização pela imprensa da administração pública."
Ainda em 1989, instado a comentar a candidatura de Luiz
Inácio Lula da Silva à Presidência na eleição daquele ano, criticou duramente o petista. "Um
cidadão inteiramente despreparado para o exercício do posto", afirmou então.
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