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Descendentes invadem área
que pertencia a ex-escravos
da enviada a Nossa Senhora de Livramento
A Comunidade de Mata Cavalo
já foi reconhecida pela Fundação
Palmares como remanescente de
quilombo, mas ainda não recebeu o título definitivo da terra.
A comunidade está em uma
área denominada Sesmaria Boa
Vida, próxima ao município de
Nossa Senhora do Livramento, a
50 quilômetros de Cuiabá (MT).
A invasão do terreno foi a única
solução encontrada pelos descendentes para tentar garantir a posse de uma área que havia sido
doada a ex-escravos, em 1883.
De acordo com o Relatório Histórico Antropológico elaborado
pelo Departamento de História
da Universidade de Cuiabá, a Comunidade de Mata Cavalo começou a ser desestruturada nos anos
40, quando a terra em que viviam
os negros foi valorizada e invadida por grileiros e garimpeiros.
Os descendentes foram expulsos ou pressionados a vender as
terras. A maioria se mudou para
as cidades próximas (Livramento, Várzea Grande e Cuiabá).
Em 1996, os descendentes da
geração expulsa de Mata Cavalo
invadiram parte da área da sesmaria Boa Vida como forma de
pressionar o Estado e garantir a
posse da terra.
Em 1998, o então governador
do Mato Grosso, Dante de Oliveira, reconheceu a área como remanescente de quilombo. O reconhecimento público, porém,
não teve nenhum valor legal. A
comunidade espera o título definitivo da terra, que só pode ser
concedido pelo governo federal.
Desde que invadiram o local, os
habitantes de Mata Cavalo já enfrentaram vários problemas, como ameaças de fazendeiros e de
garimpeiros.
Os garimpos se alastraram e invadiram até o cemitério de Mata
Cavalo, destruindo parte da memória dos descendentes. Lá estão
enterrados, por exemplo, os pais
de Antônio Mulato, que eram filhos de escravos.
"Temos de enterrar uma pessoa
em cima da outra", conta a neta
de Antônio Mulato, Gonçalina
Eva de Almeida, 22.
As crianças estudam juntas em
uma escola construída pelos próprios habitantes. A professora é
Gonçalina, que, além de alfabetizar, ensina aos alunos a história
da escravidão sob o ponto de vista dos negros e a história dos fundadores do quilombo.
Neste ano, a comunidade vai
lançar um candidato a vereador,
Airton Conceição de Arruda. Ele
conta que as crianças de Mata Cavalo sofrem preconceito na escola
e são chamadas de "sem-terra".
Os fazendeiros ouvidos pela
Folha negaram que exista conflito. Crescêncio Maciel Monteiro,
78, disse que, hoje, a maioria dos
proprietários aceita sair das terras, desde que receba a indenização do governo federal.
(DN)
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