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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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CAMPO MINADO

Ruralistas articulam reação e admitem contratar seguranças armados

Incra é "braço político" do MST no governo, diz UDR

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Entidades rurais, em nível nacional, estão se organizando para um enfrentamento com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Na próxima semana, encontro em Cuiabá (MT) deverá definir uma ação conjunta de diversos segmentos rurais contra a nova direção do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), considerada conivente com os sem-terra.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista) do noroeste do Paraná, Marcos Prochet, disse que o Incra é hoje um "braço político do MST dentro do governo Lula". Prochet afirmou acreditar em um "recrudescimento" nos conflitos agrários e evocou os proprietários rurais a "contratarem seguranças dentro dos limites da lei para defender suas propriedades".
Prochet disse temer confrontos no noroeste do Paraná, onde existem seis acampamentos do MST. A região é próxima ao Pontal do Paranapanema (SP) e existe um trabalho de aproximação do MST com movimentos menores, como o MAST (Movimento dos Assentados e Agricultores Sem Terra) e o Terra Brasil - grupos dissidente do MST- para ações conjuntas nos dois Estados.
O presidente nacional da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, um dos organizadores do encontro em Cuiabá, disse que a postura do Ministério de Desenvolvimento Agrário e do Incra explicita a "conivência com os sem-terra, ao admitir que se pode invadir fazendas produtivas".
Garcia disse que o presidente Lula foi "imprudente" ao nomear Miguel Rossetto para o ministério, "pois é um órgão que tem a obrigação de conduzir a reforma agrária e precisa de gente imparcial, não aliada aos sem-terra".

PCR
O aumento da tensão no campo nas últimas semanas mobilizou um grupo de produtores rurais da região central do Paraná. Cerca de 50 fazendeiros criaram o PCR (Primeiro Comando Rural), em reunião em Palmital (386 km ao norte de Curitiba), no último sábado. O grupo, que teve seu nome inspirado no PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa de São Paulo, promete combater com armas os sem-terra acampados na região.
Um porta-voz do grupo, que se identificou como Lauro, disse ontem que o PCR teria apoio de políticos, sindicatos rurais da região e iria buscar apoio da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) para suas ações.
Em nota distribuída ontem, o presidente da Faep, Ágide Meneguette, disse que "a pressão intolerável do MST está provocando uma contrapartida de parte de alguns fazendeiros, com a contratação de milícias armadas para defender suas propriedades". Meneguette lamenta que essa contratação de milícias "só serve para agravar os conflitos".
O presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais), Narciso Rocha Clara, um dos mais radicais críticos do governo Lula, disse ontem que toda essa tensão já era "prevista depois da eleição de Lula e confirmada com a indicação do MST para ocupar cargos relacionados à questão agrária". Ele prevê conflitos "maiores que o de Eldorado do Carajás" para breve.
Representantes de organizações ligadas aos sem-terra em Minas Gerais reuniram-se ontem com autoridades envolvidas com a questão agrária para denunciar a formação de milícias armadas no Pontal do Triângulo Mineiro.
Dim Cabral, do MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade), que atua no Triângulo, disse que produtores rurais estão por trás da ação da milícia. Disse serem homens armados e encapuzados que destroem as barracas e expulsam os sem-terra dos acampamentos.


Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha em Belo Horizonte


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