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JANIO DE FREITAS
De poder para poder
As instruções de Fernandinho Beira-Mar a seus
competentes advogados sobre a
insegurança pública são mais
eloquentes do que tudo o que a
respeito se tenha dito antes. Os
advogados, segundo eles próprios, foram instruídos a agir
em duas vias para a volta de seu
cliente ao Rio: a judicial e a que
chamaram de política, esclarecido que se trata de entendimentos com o governo fluminense.
Que entendimentos poderiam
ser esses, estando o casal de governadores fluminense aturdido
com o ataque contínuo ao Rio
por parte dos subordinados ou
aliados de Fernandinho Beira-Mar, este aturdido com suas novas condições de presidiário distanciado -como dizem em política, já que se trata disso- das
suas bases?
Os governadores Garotinho,
Rosinha e Anthony, rejeitaram
a proposta inicial do governo
Lula, definindo-a, não de todo
sem razão, como uma forma de
intervenção branca. Não há como avaliar a proposta, que não
foi divulgada plenamente e,
muito menos, explicada em suas
fundamentações e finalidades
práticas.
Do que foi exposto, nada evidencia criatividade nem suscita
a impressão de que se mostraria
certamente eficaz. Antes lembra
muito as elaborações do antropólogo Luiz Eduardo Soares,
hoje na Secretaria Nacional de
Segurança, quando se ocupou
de reformular a segurança no
governo Anthony Garotinho,
sem chegar, por falta de tempo
ou não só de tempo, a algum resultado.
O governo federal nem está
em condições muito melhores
que o estadual na crise aguda de
violência que se manifesta no
Rio há duas semanas. No dia de
ataque mais intenso, tratava-se
de ação do tráfico, que é um dos
chamados crimes federais. O
ataque se fez com armas privativas das Forças Armadas, umas
roubadas de quartéis e outras
contrabandeadas -mais dois
dos chamados crimes federais. E
onde estava a Polícia Federal
naquele dia? Como a já idosa
Conceição, ninguém sabe, ninguém viu.
Dezessete dias depois daquela
ofensiva, a situação do Rio é
exatamente igual à de antes da
investida. Nem os recrutas do
Exército mudaram alguma coisa para melhor, como provam
os continuados ataques, inclusive a delegacias e a carros da polícia. Mas Rosinha Garotinho
repeliu a proposta federal com a
afirmação de que o governo fluminense resolverá sozinho o
problema.
Volte-se a Fernandinho Beira-Mar e à missão dita política dos
seus advogados. No governo
passado, de Garotinho marido,
certa redução na violência foi
atribuída por muitos, entre os
quais alguns criminosos entrevistados, a acordos entre autoridades estaduais e chefes do tráfico de drogas. Não apareceram
provas do acordo, mas a troca
de autoridades estaduais, decorrente da substituição de Garotinho por Benedita da Silva, foi
acompanhada de repentina e
forte onda de violência nas ruas
e de rebeliões nos presídios.
A instrução de Fernandinho
Beira-Mar lançou uma interrogação onerosa sobre Rosinha
Garotinho e sua promessa de solução solitária. Por mais desejada que seja, até a calmaria, se
não provier de medidas muito
evidentes, será vista como prova
de que a solução não foi solução,
mas um reconhecimento mútuo
de poderes. Ou melhor, a oficialização de um poder já de fato
por um poder de direito posto
em questão.
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