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SOMBRA NO PLANALTO
Após bate-boca com governistas, que impediram a criação da CPI dos bingos, tucanos defendem apuração da morte de prefeito petista
Oposição agora quer CPI de Santo André
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reação à operação do governo para impedir a instalação da
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) dos bingos, o líder do
PSDB no Senado, Arthur Virgílio
(AM), apresentou ontem requerimento criando a CPI para investigar as circunstâncias da morte do
então prefeito de Santo André
(SP), Celso Daniel (PT). A iniciativa ocorreu após confronto entre
governo e oposição na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
"O governo está com muito medo da investigação do caso Waldomiro Diniz [ex-assessor da Presidência filmado pedindo propina a um empresário do ramo de
jogos em 2002, quando atuava no
governo Benedita da Silva (PT-RJ)]. Espero que não revele mais
medo ainda do caso Santo André", disse Virgílio.
Um dos objetivos dessa nova
CPI seria apurar suspeita de que a
morte de Celso Daniel, em janeiro
de 2002, teve relação com um suposto esquema de corrupção na
prefeitura, envolvendo cobrança
de propinas de empresa de transporte coletivo.
No requerimento, Virgílio cita
suspeitas de que os recursos seriam destinados a um caixa dois
para campanhas políticas do PT.
O partido rejeita a acusação.
Virgílio decidiu formalizar o pedido de investigação política do
caso Santo André em revide à
atuação do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do líder do PMDB, Renan Calheiros
(AL), numa reunião da CCJ.
A comissão analisava recurso
da oposição contra a decisão do
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de não indicar
os membros da CPI dos Bingos
no lugar dos líderes dos partidos
da base governista.
Para impedir a investigação do
caso Waldomiro por meio dessa
CPI dos bingos, os líderes se recusaram a designar seus representantes. Sem eles, não há CPI.
Após muito bate-boca entre governo e oposição, a comissão considerou legítima e constitucional
a decisão de Sarney. Virgílio afirmou que ele está "mancomunado" com a base governista.
Santo Adré
Mercadante (PT-SP) afirmou
que o pedido de CPI de Santo André é "democrático e legítimo e
faz parte da disputa política". Para ele, Virgílio tenta "continuar a
disputa eleitoral", substituindo a
polêmica de uma CPI pela outra.
Para o requerimento do caso
Santo André, o tucano conseguiu
27 assinaturas (10 do PSDB, 8 do
PFL, 5 do PDT, 2 do PMDB, 1 do
PTB e a da senadora Heloísa Helena, sem partido).
Virgílio disse que o governo ficará "desmoralizado" se os líderes aliados também não indicarem os representantes da CPI de
Santo André. Segundo Mercadante, o governo tomará uma posição depois que o requerimento
for lido em plenário-o que deve
ocorrer hoje, após a Secretaria Geral conferir as assinaturas.
O líder do governo irritara os tucanos na CCJ ao citar uma relação
de CPIs que obtiveram as assinaturas necessárias, mas cuja instalação teria sido impedida por PFL
e PSDB na gestão Fernando Henrique Cardoso. Entre as quais
uma para apurar eventuais irregularidades na confecção do cartão SUS (Sistema Único de Saúde), na gestão do ex-ministro da
Saúde José Serra (PSDB).
Exaltado, Tasso Jereissati
(PSDB-CE) disse estar "cheio das
ameaças" de Mercadante e desafiou: "Agora queremos a CPI do
SUS e vamos exigir sua instalação.
A contra-exigência será a criação
das CPIs de Santo André e do
Waldomiro. Nós [do PSDB] vamos assinar a CPI do SUS. Vamos
ver se ele [Mercadante] é homem
para assinar a de Santo André".
Mais tarde, Mercadante afirmou que, ao citar CPIs não instaladas, sua intenção não foi "chantagear" a oposição, como interpretou Tasso. Disse que quis mostrar que a prática não é inédita.
José Alencar
O vice-presidente da República,
José Alencar, voltou a dizer ontem
que, se fosse basear apenas nele,
"seria" a favor de uma CPI para
investigar as ações de Waldormiro Diniz. Diz considerar legítima a
atitude da oposição, que insiste na
apuração. Alencar se recupera em
Belo Horizonte de problemas de
saúde. No último dia 21 submeteu-se a uma cirurgia para a retirada da vesícula biliar.
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