São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Após bate-boca com governistas, que impediram a criação da CPI dos bingos, tucanos defendem apuração da morte de prefeito petista

Oposição agora quer CPI de Santo André

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reação à operação do governo para impedir a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos bingos, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou ontem requerimento criando a CPI para investigar as circunstâncias da morte do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT). A iniciativa ocorreu após confronto entre governo e oposição na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
"O governo está com muito medo da investigação do caso Waldomiro Diniz [ex-assessor da Presidência filmado pedindo propina a um empresário do ramo de jogos em 2002, quando atuava no governo Benedita da Silva (PT-RJ)]. Espero que não revele mais medo ainda do caso Santo André", disse Virgílio.
Um dos objetivos dessa nova CPI seria apurar suspeita de que a morte de Celso Daniel, em janeiro de 2002, teve relação com um suposto esquema de corrupção na prefeitura, envolvendo cobrança de propinas de empresa de transporte coletivo.
No requerimento, Virgílio cita suspeitas de que os recursos seriam destinados a um caixa dois para campanhas políticas do PT. O partido rejeita a acusação.
Virgílio decidiu formalizar o pedido de investigação política do caso Santo André em revide à atuação do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), numa reunião da CCJ.
A comissão analisava recurso da oposição contra a decisão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de não indicar os membros da CPI dos Bingos no lugar dos líderes dos partidos da base governista.
Para impedir a investigação do caso Waldomiro por meio dessa CPI dos bingos, os líderes se recusaram a designar seus representantes. Sem eles, não há CPI.
Após muito bate-boca entre governo e oposição, a comissão considerou legítima e constitucional a decisão de Sarney. Virgílio afirmou que ele está "mancomunado" com a base governista.

Santo Adré
Mercadante (PT-SP) afirmou que o pedido de CPI de Santo André é "democrático e legítimo e faz parte da disputa política". Para ele, Virgílio tenta "continuar a disputa eleitoral", substituindo a polêmica de uma CPI pela outra.
Para o requerimento do caso Santo André, o tucano conseguiu 27 assinaturas (10 do PSDB, 8 do PFL, 5 do PDT, 2 do PMDB, 1 do PTB e a da senadora Heloísa Helena, sem partido).
Virgílio disse que o governo ficará "desmoralizado" se os líderes aliados também não indicarem os representantes da CPI de Santo André. Segundo Mercadante, o governo tomará uma posição depois que o requerimento for lido em plenário-o que deve ocorrer hoje, após a Secretaria Geral conferir as assinaturas.
O líder do governo irritara os tucanos na CCJ ao citar uma relação de CPIs que obtiveram as assinaturas necessárias, mas cuja instalação teria sido impedida por PFL e PSDB na gestão Fernando Henrique Cardoso. Entre as quais uma para apurar eventuais irregularidades na confecção do cartão SUS (Sistema Único de Saúde), na gestão do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB).
Exaltado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse estar "cheio das ameaças" de Mercadante e desafiou: "Agora queremos a CPI do SUS e vamos exigir sua instalação. A contra-exigência será a criação das CPIs de Santo André e do Waldomiro. Nós [do PSDB] vamos assinar a CPI do SUS. Vamos ver se ele [Mercadante] é homem para assinar a de Santo André".
Mais tarde, Mercadante afirmou que, ao citar CPIs não instaladas, sua intenção não foi "chantagear" a oposição, como interpretou Tasso. Disse que quis mostrar que a prática não é inédita.

José Alencar
O vice-presidente da República, José Alencar, voltou a dizer ontem que, se fosse basear apenas nele, "seria" a favor de uma CPI para investigar as ações de Waldormiro Diniz. Diz considerar legítima a atitude da oposição, que insiste na apuração. Alencar se recupera em Belo Horizonte de problemas de saúde. No último dia 21 submeteu-se a uma cirurgia para a retirada da vesícula biliar.


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