São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Presidente do PT agora diz que é Serra quem assusta empresários

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao analisar aspectos positivos e negativos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentar um dos dois pré-candidatos tucanos na eleição deste ano, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, levanta como ponto desfavorável a José Serra o fato de o prefeito de São Paulo ser considerado por certos segmentos do empresariado como controverso e heterodoxo.
Em outras palavras, o PT pode explorar uma imagem de "confiabilidade" de sua política econômica ortodoxa contra a "heterodoxia" de Serra -uma alternância curiosa de papéis para um partido que era visto como o demônio pelo mercado faz alguns anos: "O Serra é visto por setores do empresariado como uma pessoa que poderia partir para uma visão mais heterodoxa da economia, o que causa insegurança em alguns segmentos empresariais", disse.
Contra Geraldo Alckmin, Berzoini destaca o fato de o governador de São Paulo ser pouco conhecido fora do Estado. Ele avalia que a militância do PT já superou o impacto do escândalo do "mensalão" e que a reeleição do presidente Lula é legítima porque o governo mostrou bons resultados.
 

Folha - Como o PT entrará na campanha presidencial?
Ricardo Berzoini -
Entra com a consciência de que será uma campanha muito dura. Temos confiança nos nossos argumentos, mas sabemos que a oposição vai tender a baixar o nível o máximo possível. Até porque, do ponto de vista da avaliação do governo em comparação com a gestão de Fernando Henrique Cardoso, eles têm muito pouco o que falar.

Folha - Como a oposição poderia baixar o nível do debate?
Berzoini -
Já está pautado, tanto é que eles tentam criar um ambiente para tentar caracterizar o PT e o governo como corruptos e usando bordões como "maior escândalo da história". O que temos de fazer é não fugir desse tema, mas dimensioná-lo na medida correta dos fatos. Primeiro, não houve "mensalão". A tese do Roberto Jefferson não só não foi comprovada como foi desmentida. Segundo, mostrar que o nível de corrupção neste governo é não apenas muito menor do que no governo anterior mas também que nunca houve tanto combate à corrupção como neste governo. A CGU [Controladoria Geral da União] foi fortalecida, o Ministério Público teve dois procuradores absolutamente independentes [para investigar o "mensalão], a Polícia Federal nunca realizou tantas investigações de largo alcance. Sem falar que o país viveu três CPIs simultâneas.

Folha - Como a militância vê o PT após "mensalão"?
Berzoini -
A militância teve um momento de muita angústia, desinformação e perplexidade quando surgiram as primeiras notícias. Quando se conseguiu segregar o que era denúncia vazia, o que era disputa política daquilo que efetivamente ocorreu, a militância começou a perceber que tinha de se mobilizar para enfrentar a luta política. Hoje sinto que a militância está até mais mobilizada do que em 2002. O PT pode comemorar que encerrou 2005 com mais filiados do que começou.

Folha - O PT prefere enfrentar Alckmin ou Serra?
Berzoini -
Ambos têm vantagens e desvantagens para eles e para nós. O Serra é um político mais conhecido nacionalmente, mas enfrenta um problema que é desonrar a palavra que ele deu, quando disputou as eleições municipais, de que ficaria os quatro anos na prefeitura. É um político controverso, talvez mais polêmico do que o Alckmin, mas ao mesmo tempo é uma pessoa experiente na política, um adversário que nós vamos tratar com todos os cuidados possíveis.
O Alckmin tem a vantagem de não precisar desdizer nada do que disse, está em final de governo, mas é menos conhecido e é uma figura muito paulista, muita centrada no Estado de São Paulo. Enfrentará, se candidato a presidente, um debate sobre o que fez no Estado de São Paulo. Os pontos fracos são saúde, segurança pública, educação e a perda de participação do Estado de São Paulo na economia brasileira.

Folha - Por que Serra é mais controverso e polêmico Alckmin?
Berzoini -
O Serra é visto por setores do empresariado como uma pessoa que poderia partir para uma visão mais heterodoxa da economia, o que causa insegurança em alguns segmentos empresariais. Outros segmentos vêem nele alguém com visão de maior investimento. Mas é mais polêmico. O Alckmin é uma figura, até por ser menos conhecido, que desperta menos antagonismos.

Folha - Lula vai ser reeleito?
Berzoini -
Acho que nós temos toda a condição de reeleger o presidente Lula. Em todas as áreas de governo temos bons resultados para mostrar. Na área de emprego é um crescimento sem precedentes. Tivemos também política de recuperação de salário mínimo e ampliação do Bolsa-Família.


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