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ESQUERDA
Líder do PT vai buscar adesões ao nome do ex-prefeito de Porto Alegre; decisão final do partido sai em julho
Lula apóia Tarso Genro para Presidência
CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Chile
Ao som do bolero "Besame Mucho", Luiz Inácio Lula da Silva, o
líder histórico do PT, ficou a um
passo de sepultar de vez a sua própria candidatura presidencial para
apoiar a de Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre (RS).
Foi anteontem à noite, numa minicúpula do PT, que começou no
restaurante e terminou no bar do
Marbella Resort, imponente complexo turístico 160 km ao norte de
Santiago, capital do Chile, local de
um encontro da esquerda e centro-esquerda latino-americana.
A cantora do hotel cantava boleros e tangos, enquanto os dois
"presidenciáveis" do PT, o presidente do partido, José Dirceu, e o
secretário de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, discutiam 1998.
Lula insistiu em que não quer ser
candidato e deu todo o apoio a
Tarso (que quer).
Mas concordou que a decisão final deve ficar para julho, quando
haverá reunião do Diretório Nacional petista.
Frente
Esse período será aproveitado
para consultar o partido e possíveis aliados sobre uma frente
"frontalmente contrária ao projeto neoliberal", como diz Tarso.
Na prática, o prazo será utilizado
para avaliar se Tarso Genro consegue viabilizar o seu nome no próprio PT e junto aos eventuais parceiros.
A disposição dos petistas, diz Lula, é a de "criar um movimento
que envolva partidos, intelectuais,
empresários, sindicalistas e elabore um programa mínimo, que pode ter quatro ou seis dedos, não
cinco (como o de FHC), e permita
uma mobilização nacional".
Perguntado se continuava "não
estando candidato", Lula respondeu: "Minha única obsessão é
criar esse movimento".
A lista do PT
Já na próxima semana, Lula inicia o processo de consultas internas e externas.
Na lista de José Dirceu, figuram
os aliados tradicionais do PT à esquerda (PC do B, CUT, MST), mas
também o PDT (leia texto ao lado),
o PSB, setores do PMDB e do
PSDB, dom Luciano Mendes de
Almeida, juristas de São Paulo, como Goffredo da Silva Telles, artistas e intelectuais.
Os petistas consideram como
potenciais aliados, entre outros, os
senadores peemedebistas Roberto
Requião (PR) e Pedro Simon (RS)
e a fatia do PMDB mineiro que
apóia o prefeito Célio de Castro
(PSB), além do tucano Ciro Gomes
(PSDB), ex-ministro da Fazenda.
As consultas se farão sobre o nome e também sobre um programa
alternativo ao neoliberalismo,
exatamente o motivo do encontro
no Chile.
Ao contrário do que ocorreu nas
duas eleições presidenciais anteriores, desta vez o comando do PT
entra para a disputa convencido
das imensas dificuldades pela
frente.
Ao falar anteontem no seminário
das esquerdas, José Dirceu disse:
"Ou fazemos no Brasil uma ruptura ou faremos um governo à la
Felipe González ou François Mitterrand", aludindo a ex-governantes socialistas de Espanha e França, acusados de praticarem políticas similares às neoliberais.
Terminou o presidente do PT:
"Consequentemente, teremos
que administrar a insatisfação da
nossa própria base. Seria o pior
dos mundos, porque teríamos
oposição dos de cima e dos de baixo. Nessas circunstâncias, prefiro
ficar na oposição mais quatro ou
oito anos".
Pontos consensuais
O filósofo Roberto Mangabeira
Unger, coordenador do encontro,
professor de Direito em Harvard
(EUA) e ligado a Leonel Brizola,
do PDT, resumiu os pontos que
considera consensuais em torno
dos quais giraria o programa da
frente ampla:
1) Recuperar a capacidade de financiamento do Estado, via reforma tributária baseada na taxação
do consumo (há dúvidas no PT a
respeito dessa taxação) e um novo
modelo previdenciário.
2) Mudança da situação social,
por meio da "prioridade absoluta
à salvação das crianças, educacional e fisicamente" e pela insistência em aumentar a participação
dos salários na renda nacional.
3) Acabar com o dualismo entre
vanguardas e retaguardas, por
meio da coordenação descentralizada entre agentes públicos e pequenas e médias empresas.
4) Revisão das instituições políticas e sociais, de forma "a responsabilizar o Estado perante a sociedade".
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