São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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PT defende atitude, e oposição vê "stalinismo"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados e senadores governistas se uniram ontem à oposição para repudiar a atitude tomada pelo governo brasileiro em relação ao correspondente do jornal "The New York Times". Diferentemente da repercussão da reportagem que motivou o cancelamento do visto, quando a defesa do governo foi unânime, o tom ontem foi o de que o governo tomou uma atitude despropositada.
"Isso não é inteligente, não colabora com a imagem do governo nem no Brasil nem no exterior. O governo poderia ter tomado medidas jurídicas. Quem orientou o governo orientou errado", disse o deputado Renato Casagrande (ES), líder da bancada do PSB.
"Transformar isso em questão de Estado é preocupante. Não podemos nos perder. Vai expulsar o jornalista estrangeiro? E o jornalista brasileiro vai fazer o quê?", questionou o deputado Roberto Freire, presidente do PPS.
O deputado José Carlos Aleluia (BA), líder da bancada do PFL, afirmou que o governo pretende implantar uma "lei da mordaça internacional". "É uma decisão de um governo que demonstra desrespeito, primarismo, truculência. É um stalinismo retardado."
A deputada Maninha (DF), uma das responsáveis no PT pelas questões internacionais, disse considerar o cancelamento do visto uma atitude "autoritária".
O deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ) disse que a medida representa um equívoco. "É a primeira vez, em um momento democrático do país, que expulsamos um jornalista. A reportagem é lamentável mas a reação é muito mais lamentável", disse Gabeira, que é proibido de entrar nos Estados Unidos devido à participação no seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, na década de 60.
O deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada do PT, foi um dos poucos que saiu em defesa da atitude do governo. "O jornal não fez reparos à reportagem mesmo depois que o governo e os líderes políticos desmentiram as informações. Isso não impede que outros representantes do "NYT" entrem no país, a liberdade de imprensa está garantida."
O presidente nacional do PT, José Genoino, também defendeu a atitude. Segundo ele, trata-se de "uma decisão política que tem o apoio do partido". "Um jornalista estrangeiro não poderia fazer isso, atacar o presidente e a instituição da Presidência da República. Qualquer país democrático, diante de um ataque ao presidente, faria o mesmo", disse.
Para o governador petista Jorge Viana (AC), a decisão do governo foi "justa", pois o repórter, por meio de sua reportagem, provocou um "dano" ao país.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que estava no lançamento do livro do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), "Crônicas do Brasil Contemporâneo", ontem à noite em Brasília, se surpreendeu com a notícia. "Considero a decisão do governo grave porque fere a liberdade de imprensa", afirmou.


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