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MÍDIA
Ranking da ONG Repórteres Sem Fronteira coloca o Brasil na 63ª posição entre os países com liberdade de informação
Fórum Folha debate liberdade de imprensa
DA REPORTAGEM LOCAL
No ranking de liberdade de imprensa feito pelos Repórteres Sem
Fronteira, ONG baseada na França, o primeiro país latino-americano, El Salvador, aparece apenas
em 28º lugar. A Costa Rica surge
em seguida, em 41º. A Argentina
está em 59º. O Brasil, em 63º.
A listagem foi mencionada ontem por Julio Blanck, editor-chefe
do jornal argentino "Clarín", na
terceira e penúltima mesa do Fórum Folha de Jornalismo, um dos
eventos que marcam os 85 anos
de existência do jornal.
O debate, com o tema "Jornalismo e Democracia", foi mediado
por Renata Lo Prete, editora do
"Painel", da Folha. Participaram
ainda Jaime Abello Banfi, diretor-executivo da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano, da Colômbia, e Jennifer Moyer, diretora
de operações do serviço on-line
do "Washington Post".
Julio Blanck citou ainda um levantamento de uma ONG americana, a Freedom House, segundo
o qual só 17% da população mundial vive em países com plena liberdade de informação. Há 43%
em regimes políticos nos quais essa liberdade inexiste e 40% estão
numa "zona cinzenta", em que se
enquadram basicamente todos os
países latino-americanos.
"A perda da qualidade da democracia se traduz também na
perda de qualidade do jornalismo", afirmou.
Internet
Jennifer Moyer discorreu sobre
as mudanças que a internet vem
trazendo na interatividade e na
relação entre a imprensa e a cidadania. Citou dois exemplos do
"Washington Post".
Há em primeiro lugar, no site,
um banco de dados de votações
no Congresso. Por meio dele, o cidadão pode saber como seu deputado votou desde 1991 e ainda
ser avisado, por e-mail, de um voto que acaba de ocorrer em plenário. Há a seguir, nas páginas do
noticiário on-line, uma remissão
para blogs que estejam discutindo
o mesmo assunto abordado.
Apesar de entusiasmada com o
alcance dessas ferramentas, ela
não acredita que, "nos próximos
50 ou 100 anos", a versão on-line
venha a substituir a versão impressa de seu jornal.
O colombiano Jaime Abello
Banfi citou dois aspectos das mudanças permitidas pela internet
no jornalismo de qualidade.
De um lado, diz ele, o leitor se
tornou mais desconfiado, com
acesso a um número maior de
fontes e, por isso, menos tolerante
com erros e partidarismos. Mas,
de outro lado, os grupos econômicos e de interesse deixaram de
ser apenas fontes de informação
para produzir e divulgar informações em seus sites.
Banfi citou os políticos corruptos e os grupos de crime organizado como ameaças ao jornalismo.
Lembrou o caso de ex-presidentes presos ou afastados por corrupção no continente (Costa Rica,
Argentina, México e Peru) e as
tentativas, como na Venezuela, de
enquadrar politicamente a mídia.
Reportagem
Na segunda mesa de ontem, que
encerrou o evento, o tema abordado foi "Os Limites da Reportagem", com mediação do colunista
da Folha Fernando Rodrigues.
Robert Fisk, premiado jornalista e correspondente do jornal britânico "The Independent" em
Beirute, ressaltou a "falta de perspectiva histórica" em reportagens
internacionais. Como exemplo,
citou o modo como jornalistas
europeus e norte-americanos geralmente tratam o conflito entre
israelenses e palestinos.
"Não se fala em territórios palestinos ocupados, mas em "territórios em disputa". Não se fala em
colônias judaicas, mas em "assentamentos". Se uma criança joga
uma pedra contra um soldado
porque sua terra foi ocupada, colonizada, é possível entender. Mas
se ela atira uma pedra por causa
de uma "disputa", que poderia ser
resolvida em um tribunal, isso
transforma os palestinos, genericamente, em violentos", disse.
Limites
Maria Teresa Ronderos, ex-editora-geral da revista colombiana
"Semana" e atualmente assessora
da mesma publicação, dividiu em
externos e internos os "limites"
para a reportagem.
Entre os externos, Ronderos citou "os poderosos, que sempre
querem ocultar a verdade". Entre
os internos, "os juízos demasiado
rápidos" que os jornalistas podem fazer em uma apuração e a
"tendência de serem sempre levados por assuntos da conjuntura",
deixando de lado temas menos
populares, mas mais importantes.
Ricardo Uceda, diretor do Instituto Imprensa e Sociedade, do Peru, e ex-editor e repórter em várias publicações no país, também
abordou a escolha de assuntos como uma das "principais limitações" do trabalho de reportagem.
"O problema fundamental é
quando restringimos o conceito
de notícia. Quando buscamos o
mais chamativo, deixando o que
temos de mais importante muitas
vezes de lado", afirmou.
Debates na íntegra
Os vídeos dos quatro painéis do
Fórum Folha de Jornalismo estarão disponíveis a partir das 12h de
hoje no site da Folha Online. Os
debates de ontem e anteontem,
com duas horas de duração cada
um, poderão ser vistos na íntegra.
Onde assistir
www.folha.com.br/061312
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