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PRESIDENTE 40/ELEIÇÕES 2010
ANÁLISE
Copa não paralisa jogo eleitoral
Eleições recentes tiveram oscilações nas intenções de votos durante o torneio
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
Há um mito disseminado no
meio político de que durante a
Copa do Mundo o eleitor se
desconecta da campanha, e
mudanças no quadro eleitoral
só acontecerão após o fim do
torneio. Estrategistas de campanha que se pautarem por essa crença podem se equivocar.
Mudanças significativas em
eleições anteriores demonstram que muitos eleitores permanecem sensíveis aos movimentos dos candidatos mesmo
durante trajetórias vitoriosas
da seleção brasileira.
Desde 1994, quando se realizou a segunda eleição direta para presidente após o regime militar, o processo eleitoral coincide com a Copa. Já naquele
ano, ocorreram fatos importantes que impactaram a disputa eleitoral, enquanto Bebeto e
Romário despontavam como
ídolos nos Estados Unidos.
Uma semana antes da abertura do torneio, Lula liderava
com 22 pontos de vantagem sobre Fernando Henrique. Uma
semana após o Brasil sagrar-se
campeão, a diferença havia despencado para três pontos.
Em 1º de julho, três dias antes da partida contra os EUA
pelas oitavas de final, Itamar
Franco lançou o Plano Real.
A conquista de um título
mundial após 24 anos de espera
não foi suficiente para desviar a
atenção dos brasileiros sobre as
importantes medidas econômicas e eleitorais tomadas durante a campanha do tetra.
Em 1998, FHC se reelegeu liderando a disputa do início ao
fim. Em apenas um momento
foi ameaçado por Lula: durante
a Copa da França, quando a seleção mesclou a experiência de
Dunga e Taffarel com jovens talentos como Roberto Carlos,
Rivaldo e Ronaldo.
Às vésperas da abertura do
torneio, o presidente viu sua
vantagem de 17 pontos sobre
Lula cair para 3, reflexo da demora em reagir diante da seca
nordestina e do desgaste por
ter chamado de "vagabundos"
os que se aposentavam com
menos de 50 anos.
A sensibilidade social de
FHC foi questionada pelos eleitores às vésperas da Copa e sua
recuperação se deu enquanto o
país discutia também a convulsão de Ronaldo e o show de Zidane na final contra a França.
Logo após a derrota da seleção, o presidente recuperou a
vantagem e a manteve até a vitória em primeiro turno.
Em 2002, enquanto a "família Scolari" seguia para a Coreia
do Sul, Lula liderava a disputa
eleitoral com uma vantagem de
26 pontos sobre José Serra e
Anthony Garotinho, embolados na segunda posição.
Graças a uma inserção comercial programada para o início de junho, já com a Copa em
andamento, Ciro Gomes saiu
dos 11% que obtinha na primeira semana de junho para 18%
no início de julho, empatando
com Serra, enquanto Lula caía.
Esse movimento ocorreu durante a fase final da conquista
do penta por Marcos, Roberto
Carlos, Rivaldo e Ronaldo, recuperado do joelho.
Em meio às comemorações,
Ciro Gomes continuou subindo
e encostou em Lula, graças
também à associação de sua
imagem à da mulher, Patrícia
Pilar, atriz que, de cabeça raspada, lutava contra o câncer.
Mais adiante, já distante da
Copa, Ciro declarou que o papel
de Patrícia na campanha era
"dormir" com ele, além de destratar um ouvinte em entrevista de rádio. Ciro voltou a 11%,
Lula recuperou-se e bateu Serra no segundo turno.
Na Copa de 2006, a seleção
de Parreira chegou como favorita, mas foi eliminada pela
França em semifinal marcada
pelo episódio da ajeitada na
meia de Roberto Carlos.
Lula manteve a liderança do
início ao fim da campanha e
venceu o segundo turno contra
Alckmin. Assim como a Copa, a
eleição não empolgou os brasileiros e foi, entre as quatro, a
única que não teve movimentos importantes nas intenções
de voto, nem durante o torneio.
Neste ano, o último Datafolha mostra que 42% dos eleitores já revelam grande interesse
pela Copa do Mundo, mas 32%
também se interessam muito
pelas eleições para presidente.
Entre os apaixonados por futebol, mais da metade tem
grande interesse pelas eleições.
Não há motivo para se acreditar que todos desistirão da eleição para pensar só em futebol.
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