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PRESIDENTE 40/ELEIÇÕES 2010
ONG cria "roda de conversa" para Marina
Primeiro encontro aberto do novo Instituto Democracia e Sustentabilidade debate soluções para a segurança pública
Ideias e propostas podem alimentar futuro programa de governo; pré-candidata recusa descriminalização de drogas e novo ministério
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Pareceu um oásis, para quem
não se satisfaz com o enquadramento maniqueísta -ou "plebiscitário"- da campanha presidencial. Durante três horas,
anteontem em São Paulo, cinco
especialistas debateram soluções para a segurança pública.
Um pré-candidato ouvia tudo
com atenção. E em silêncio.
Não era José Serra, nem Dilma Rousseff. Era "o duende que
veio da floresta para nos devolver a paixão pela política" (Marina Silva), como a definiu Marcos Rolim, jornalista e ativista
de direitos humanos, na "roda
de conversa" que lançou o IDS
(Instituto Democracia e Sustentabilidade), presidido pela
pré-candidata.
Marina qualifica o IDS como
uma espécie de Instituto Cidadania, ONG que acolhia o candidato Lula entre uma campanha e outra. A ex-ministra do
Ambiente diz que se licenciará
do instituto quando oficializar
a candidatura, em junho, "para
não misturar os canais".
A ideia é que as rodas alimentem um programa de governo,
mas sem vinculação direta. O
IDS já estava em gestação antes
de surgir a candidatura, como
um "fórum de debates de propostas e ideias que contribuam
para aprofundar a democracia
e colocar a sustentabilidade como valor central para a vida".
Já ocorreram rodas sobre
saúde, cidades e educação. Segurança foi a primeira aberta. A
coordenação foi do antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança Pública
de Lula e coautor do livro "Elite
da Tropa" (com André Batista e
Rodrigo Pimentel), base do filme "Tropa de Elite".
Além de Soares e Rolim, estavam na mesa José Luiz Ratton,
assessor do governo de Pernambuco, Luis Flavio Sapori,
ex-secretário-adjunto de Defesa Social de Minas, e Oscar Vilhena Vieira, da Escola de Direito da FGV-SP.
Soares apontou como central
o "modelo de polícia herdado
da ditadura", com desmembramento da função policial em
duas corporações, as polícias
militares (policiamento ostensivo) e civis (investigação). Em
países com mais de uma polícia,
ou elas atuam em bases territoriais diversas ou ficam responsáveis por crimes diferentes.
Hostilidade e competição
contribuem para a ineficiência
e a irracionalidade do trabalho
policial. E elas se traduzem na
baixa qualidade das provas levadas ao Judiciário.
Apesar de falido, o modelo
terminou consagrado na Constituição de 1988 (artigo 144).
Pesquisa realizada em 2009
com mais de 64 mil profissionais de segurança pública revelou que 70% rejeitam o modelo
de divisão do ciclo policial.
Marina Silva ouviu tudo e
elogiou a rodada no IDS: "Existe uma inteligência na tessitura
social que pode ser trazida a lume". Não se pronunciou, contudo, sobre a proposta de Soares de encaminhar ao Congresso em seis meses, caso eleita,
proposta de emenda constitucional modificando o art. 144.
Definições da pré-candidata,
por ora, há aquelas apresentadas na entrevista coletiva que
antecedeu a roda de conversa:
contra a descriminalização das
drogas (defendida pelo ex-presidente tucano FHC) e contra
um Ministério da Segurança
Pública (defendido por Serra).
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