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Tuma tira férias, e Lula vê saída definitiva
Secretário de Justiça anuncia afastamento para se defender, mas presidente e assessores avaliam que sua volta é difícil
Além de procedimento da
Comissão de Ética Pública,
delegado será investigado
pela CGU e pode ser alvo de
inquérito específico da PF
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Acusado de envolvimento
com integrantes da máfia chinesa, o secretário nacional de
Justiça, Romeu Tuma Jr., se
afastou do cargo ontem sob a
alegação de que está saindo de
férias por 30 dias para se defender. Para o presidente Lula, é
muito difícil ele se manter no
posto depois da saída.
Outro que vai ficar fora do
ministério também sob a alegação de férias é o diretor do Departamento de Estrangeiro,
Luciano Pestana.
O policial federal Paulo Guilherme Mello, o Guga, braço direito do secretário, foi devolvido para a Polícia Federal, que o
havia cedido ao Ministério da
Justiça. Ambos foram flagrados
em escutas feitas pela PF para
investigar contrabando.
Na avaliação de Lula, não há
nenhuma prova de que o secretário tenha "cometido um crime", mas suas conversas com
uma pessoa acusada de contrabando tornam sua situação
quase "insustentável".
Auxiliares do presidente vão
além. Acreditam que ele não
volta ao cargo graças às investigações que serão feitas pela Comissão de Ética da Presidência
da República e pela CGU (Controladoria-Geral da União).
Outro problema que dificultaria a volta é a possibilidade de
a PF abrir uma investigação para apurar as conversas.
A despeito das evidências de
que sua situação pode se tornar
insustentável, Tuma Jr. descartou ontem a hipótese de licença
ou saída definitiva do cargo.
"Tenho que mostrar que eu
não cometi nenhum ilícito, nenhuma irregularidade. Pretendo tirar alguns dias de férias,
sim. Mas você pode ter certeza
de que eu vou voltar com a alma
lavada e com a honra restabelecida", disse ele ao programa
"Brasil Urgente", de José Luiz
Datena, na TV Bandeirantes.
Ontem a PF revelou, em nota, que há três meses a Corregedoria de São Paulo deu parecer
favorável à abertura de um inquérito para investigar a possível relação do secretário com a
máfia chinesa. Nenhum inquérito foi instaurado até agora.
Segundo assessores de Lula,
o presidente, por gostar de Tuma Jr., quis dar a ele a possibilidade de deixar o posto como se
fosse uma iniciativa sua, mas,
diante da resistência, ele foi
pressionado a pelo menos se
afastar temporariamente.
O pedido de férias foi uma
das alternativas apresentadas a
ele pelo ministro da Justiça,
Luiz Paulo Barreto, como forma de tentar encerrar a crise
-a outra foi a licença do cargo.
Para ministro, a exoneração seria uma medida extrema.
Em reunião de mais de três
horas anteontem, que entrou
pela madrugada, Tuma Jr. disse ser inocente e se recusou a
deixar o cargo, o que, segundo
ele, "feriria" sua "dignidade".
Investigação
A CGU começou a investigar
o secretário para averiguar se o
Ministério da Justiça, órgão ao
qual a secretaria está vinculada,
tomou providências para apurar possíveis ilegalidades cometidas por ele. A controladoria pediu à pasta que sejam enviados "relatórios e demais informações" sobre o caso.
Para a PF, existem "diversos
indícios envolvendo o secretário de Justiça", mas todos eles
constam de procedimentos que
correm em sigilo.
A nota do órgão diz que é necessária autorização judicial
para uso do material apreendido durante a Operação Wei Jin.
Procurada, a PF não informou
se esse pedido já foi feito.
Segundo nota divulgada pela
PF, após a deflagração da operação, que investiga a máfia
chinesa, Tuma Jr. procurou a
polícia para prestar esclarecimentos sobre a relação com
Paulo Li, seu ex-assessor.
O depoimento de Tuma Jr.,
diz a PF, não foi incluído no inquérito "por não ter relação direta com os fatos apurados naquele procedimento".
Li está preso em São Paulo. O
Tribunal Regional Federal da
3ª Região negou o pedido de habeas corpus e manteve sua prisão preventiva, decretada em
2009.
(VALDO CRUZ, LUCAS FERRAZ, DIMMI AMORA E FERNANDO GALLO)
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