São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Tuma tira férias, e Lula vê saída definitiva

Secretário de Justiça anuncia afastamento para se defender, mas presidente e assessores avaliam que sua volta é difícil

Além de procedimento da Comissão de Ética Pública, delegado será investigado pela CGU e pode ser alvo de inquérito específico da PF


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado de envolvimento com integrantes da máfia chinesa, o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., se afastou do cargo ontem sob a alegação de que está saindo de férias por 30 dias para se defender. Para o presidente Lula, é muito difícil ele se manter no posto depois da saída.
Outro que vai ficar fora do ministério também sob a alegação de férias é o diretor do Departamento de Estrangeiro, Luciano Pestana.
O policial federal Paulo Guilherme Mello, o Guga, braço direito do secretário, foi devolvido para a Polícia Federal, que o havia cedido ao Ministério da Justiça. Ambos foram flagrados em escutas feitas pela PF para investigar contrabando.
Na avaliação de Lula, não há nenhuma prova de que o secretário tenha "cometido um crime", mas suas conversas com uma pessoa acusada de contrabando tornam sua situação quase "insustentável".
Auxiliares do presidente vão além. Acreditam que ele não volta ao cargo graças às investigações que serão feitas pela Comissão de Ética da Presidência da República e pela CGU (Controladoria-Geral da União).
Outro problema que dificultaria a volta é a possibilidade de a PF abrir uma investigação para apurar as conversas.
A despeito das evidências de que sua situação pode se tornar insustentável, Tuma Jr. descartou ontem a hipótese de licença ou saída definitiva do cargo.
"Tenho que mostrar que eu não cometi nenhum ilícito, nenhuma irregularidade. Pretendo tirar alguns dias de férias, sim. Mas você pode ter certeza de que eu vou voltar com a alma lavada e com a honra restabelecida", disse ele ao programa "Brasil Urgente", de José Luiz Datena, na TV Bandeirantes.
Ontem a PF revelou, em nota, que há três meses a Corregedoria de São Paulo deu parecer favorável à abertura de um inquérito para investigar a possível relação do secretário com a máfia chinesa. Nenhum inquérito foi instaurado até agora.
Segundo assessores de Lula, o presidente, por gostar de Tuma Jr., quis dar a ele a possibilidade de deixar o posto como se fosse uma iniciativa sua, mas, diante da resistência, ele foi pressionado a pelo menos se afastar temporariamente.
O pedido de férias foi uma das alternativas apresentadas a ele pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, como forma de tentar encerrar a crise -a outra foi a licença do cargo. Para ministro, a exoneração seria uma medida extrema.
Em reunião de mais de três horas anteontem, que entrou pela madrugada, Tuma Jr. disse ser inocente e se recusou a deixar o cargo, o que, segundo ele, "feriria" sua "dignidade".

Investigação
A CGU começou a investigar o secretário para averiguar se o Ministério da Justiça, órgão ao qual a secretaria está vinculada, tomou providências para apurar possíveis ilegalidades cometidas por ele. A controladoria pediu à pasta que sejam enviados "relatórios e demais informações" sobre o caso.
Para a PF, existem "diversos indícios envolvendo o secretário de Justiça", mas todos eles constam de procedimentos que correm em sigilo.
A nota do órgão diz que é necessária autorização judicial para uso do material apreendido durante a Operação Wei Jin. Procurada, a PF não informou se esse pedido já foi feito.
Segundo nota divulgada pela PF, após a deflagração da operação, que investiga a máfia chinesa, Tuma Jr. procurou a polícia para prestar esclarecimentos sobre a relação com Paulo Li, seu ex-assessor.
O depoimento de Tuma Jr., diz a PF, não foi incluído no inquérito "por não ter relação direta com os fatos apurados naquele procedimento".
Li está preso em São Paulo. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região negou o pedido de habeas corpus e manteve sua prisão preventiva, decretada em 2009. (VALDO CRUZ, LUCAS FERRAZ, DIMMI AMORA E FERNANDO GALLO)


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