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GOVERNO EM DISPUTA
Ministro quer se mostrar necessário para que votação de MP pelo Senado seja favorável ao governo
Dirceu ajudará Sarney a aprovar mínimo
FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para continuar na sua estratégia
de recuperar poder político, o ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu, deve ajudar o presidente
do Senado, José Sarney, a aprovar
a medida provisória que eleva o
salário mínimo de R$ 240 para R$
260. A votação deve ocorrer na
quarta-feira que vem.
A idéia de Dirceu é calibrar sua
atuação para que a MP seja aprovada, mas que também fique claro que a atuação de Sarney foi decisiva. Sarney, de sua parte, devolveria a gentileza e atribuiria ao
chefe da Casa Civil parte dos louros de eventual vitória.
O objetivo de Dirceu é demonstrar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a atuação do ministro da Coordenação Política, Aldo
Rebelo, é ineficaz para garantir
tranqüilidade ao governo em votações polêmicas no Congresso
-especialmente no Senado.
A indisposição entre Dirceu e
Aldo tem crescido nas últimas semanas. Aldo foi nomeado para o
cargo por Lula em 23 de janeiro,
com a anuência de Dirceu. No início, imaginava-se no Planalto que
o novo ministro funcionaria como linha auxiliar da Casa Civil.
Depois do caso Waldomiro Diniz -o ex-assessor de Dirceu que
foi flagrado pedindo propina a
um empresário de bingos-, em
13 de fevereiro, o chefe da Casa Civil viu seu poder definhar. Não libera mais verbas de emendas ao
Orçamento para congressistas
nem pode operar indicações para
cargos federais. Hoje, todas essas
atribuições são de Aldo.
Nos últimos dias, formou-se
dentro de parte da cúpula do PT a
idéia de que seria necessário devolver a Dirceu os poderes da articulação política do governo.
Pressionado, Lula chegou a cogitar uma mudança: Aldo iria para o Ministério da Defesa, devolvendo a Dirceu os poderes da articulação. A Folha noticiou esse
movimento anteontem. Ontem,
uma grande operação foi montada para demonstrar que nada será
alterado nos ministérios.
O fortalecimento de Sarney durante a votação da MP do salário
mínimo não está garantido. Dirceu e o presidente do Senado tentam agora cobrar apoio de aliados
conquistados durante o primeiro
ano do mandato de Lula, quando
reinavam sem a concorrência de
Aldo Rebelo. Ocorre que alguns
desses aliados, como o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), continuam firmes na posição de votar a favor de um salário
mínimo maior do que R$ 260.
ACM tem pelo menos três votos
no Senado: o seu e o dos outros
dois senadores pela Bahia, César
Borges e Rodolpho Tourinho. Até
o momento, o máximo a que
ACM se permite é deixar claro
que prefere um desfecho favorável a Dirceu na disputa palaciana
O grande problema de Dirceu e
de Sarney, agora que entraram
para valer na operação de ajudar a
aprovar o salário mínimo no Senado, é conseguir deixar claro que
foram decisivos na obtenção de
votos a favor do governo.
O cenário fica ainda mais dramático porque a culpa de uma
eventual derrota também poderá
ser dividida com Aldo. Nesse caso, a versão de Dirceu e Sarney será a de que a falha foi da Coordenação Política. Mas Aldo poderá
devolver e dividir com eles o ônus
de eventual derrota.
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