São Paulo, sábado, 12 de junho de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Ministro quer se mostrar necessário para que votação de MP pelo Senado seja favorável ao governo

Dirceu ajudará Sarney a aprovar mínimo

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para continuar na sua estratégia de recuperar poder político, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deve ajudar o presidente do Senado, José Sarney, a aprovar a medida provisória que eleva o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260. A votação deve ocorrer na quarta-feira que vem.
A idéia de Dirceu é calibrar sua atuação para que a MP seja aprovada, mas que também fique claro que a atuação de Sarney foi decisiva. Sarney, de sua parte, devolveria a gentileza e atribuiria ao chefe da Casa Civil parte dos louros de eventual vitória.
O objetivo de Dirceu é demonstrar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a atuação do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, é ineficaz para garantir tranqüilidade ao governo em votações polêmicas no Congresso -especialmente no Senado.
A indisposição entre Dirceu e Aldo tem crescido nas últimas semanas. Aldo foi nomeado para o cargo por Lula em 23 de janeiro, com a anuência de Dirceu. No início, imaginava-se no Planalto que o novo ministro funcionaria como linha auxiliar da Casa Civil.
Depois do caso Waldomiro Diniz -o ex-assessor de Dirceu que foi flagrado pedindo propina a um empresário de bingos-, em 13 de fevereiro, o chefe da Casa Civil viu seu poder definhar. Não libera mais verbas de emendas ao Orçamento para congressistas nem pode operar indicações para cargos federais. Hoje, todas essas atribuições são de Aldo.
Nos últimos dias, formou-se dentro de parte da cúpula do PT a idéia de que seria necessário devolver a Dirceu os poderes da articulação política do governo.
Pressionado, Lula chegou a cogitar uma mudança: Aldo iria para o Ministério da Defesa, devolvendo a Dirceu os poderes da articulação. A Folha noticiou esse movimento anteontem. Ontem, uma grande operação foi montada para demonstrar que nada será alterado nos ministérios.
O fortalecimento de Sarney durante a votação da MP do salário mínimo não está garantido. Dirceu e o presidente do Senado tentam agora cobrar apoio de aliados conquistados durante o primeiro ano do mandato de Lula, quando reinavam sem a concorrência de Aldo Rebelo. Ocorre que alguns desses aliados, como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), continuam firmes na posição de votar a favor de um salário mínimo maior do que R$ 260.
ACM tem pelo menos três votos no Senado: o seu e o dos outros dois senadores pela Bahia, César Borges e Rodolpho Tourinho. Até o momento, o máximo a que ACM se permite é deixar claro que prefere um desfecho favorável a Dirceu na disputa palaciana
O grande problema de Dirceu e de Sarney, agora que entraram para valer na operação de ajudar a aprovar o salário mínimo no Senado, é conseguir deixar claro que foram decisivos na obtenção de votos a favor do governo.
O cenário fica ainda mais dramático porque a culpa de uma eventual derrota também poderá ser dividida com Aldo. Nesse caso, a versão de Dirceu e Sarney será a de que a falha foi da Coordenação Política. Mas Aldo poderá devolver e dividir com eles o ônus de eventual derrota.



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