São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Não é comigo

Começou na terça-feira, quando Lula qualificou como abomináveis as acusações "contra Dilma" no nebuloso caso da venda da Varig. E continuou ontem, com o presidente deixando vazar a versão de que está convencido de que as acusações "contra Dilma" resultam do fato de ela ser hoje o nome do PT mais lembrado para a sucessão de 2010.
Quem conhece Lula já identificou o mecanismo em curso, reciclado de escândalos anteriores. À primeira vista, trata-se de uma defesa da companheira. Na essência, porém, é uma maneira de circunscrever a encrenca à ministra -como se fossem dela o compadre e a afilhada com participação a explicar no negócio.



Nunca antes. Consenso entre os que assistiram ao depoimento ontem no Senado: de Ideli a Mercadante, passando pelo cabeludo Wellington Salgado, Denise Abreu venceu o "mano a mano" com todos os governistas escalados para fazê-la tropeçar.

Assim não dá. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), não saiu do telefone durante o depoimento da ex-diretora da Anac. Quebrou dois copos. No meio da sessão, desabafou: "Nós agora vamos admitir apenas um homem-bomba por mês. Senão vai engarrafar a fila".

Mapa. Ao narrar reuniões que trataram da venda da Varig, Denise descreveu os encontros na sala 67 do Palácio do Planalto. É vizinha à de número 58, gabinete de Dilma Rousseff. Um pouco mais adiante, na 73, fica a secretária-executiva Erenice Guerra.

Fazer o quê? Para rebater Denise, os governistas saíram do depoimento repetindo que Dilma "conduz tudo" fazendo pressão. "O jeito dela é assim", justifica um líder aliado.

Fuga. Maior bancada governista na Câmara, o PMDB prometeu mais de 80 votos para aprovar a CSS -que passou por exíguos dois votos-, mas deu 68. Outro buraco na base foi o PP: 12 votaram contra, e houve seis abstenções. No PT, dez deputados não apareceram, entre eles o presidente da sigla, Ricardo Berzoini (SP), que chegou ao plenário com o placar já definido.

Mensageiro 1. O elo entre o empresário Lair Ferst, pivô do escândalo do Detran gaúcho, e Yeda Crusius (PSDB-RS) é Marcelo Cavalcante, degolado pela governadora na esteira da crise. Cavalcante, que trabalhou no gabinete da tucana quando deputada, vinha chefiando a representação do Estado em Brasília.

Mensageiro 2. Quando o nome de Lair foi arrastado para o escândalo, o empresário entregou nas mãos de Cavalcante uma carta para Yeda na qual se eximia de culpa.

Onde pega. O esforço para recompor a base parlamentar de Yeda esbarra, entre outras dificuldades, na resistência do PP em aceitar que o deputado federal tucano Cláudio Diaz fique com a Casa Civil.

Profecia. Breve comentário de um grão-tucano para outro, assim que Yeda venceu a eleição no Rio Grande do Sul em 2006: "Reze".

Balé. O ritual destinado a convencer Aldo Rebelo (PC do B) a desistir da candidatura a prefeito de São Paulo, abrindo caminho para que o "bloquinho" marche unido no apoio a Marta Suplicy (PT), deve incluir um "apelo pessoal" do próprio Lula ao deputado, que foi seu ministro e presidente da Câmara.

Visitas à Folha. José Sarney (PMDB-AP), senador e ex-presidente da República, visitou ontem a Folha.

Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Fernando Thompson, gerente de assessoria de imprensa, e de Bia Aydar, presidente da MPM Propaganda.

com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

"Vice-governador fazendo tocaia para secretário da Casa Civil é uma inovação lamentável.
Não se combate um crime cometendo outro."


Do deputado federal BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS), vice-líder do governo Lula na Câmara, sobre a crise na base aliada da tucana Yeda Crusius no Rio Grande do Sul.

Contraponto

Meu nome é Pepe

No desespero para atender ao apetite do governo por uma nova CPMF, o relator da matéria na Câmara, Pepe Vargas (PT-RS), fez uma leitura quase dinâmica do texto ontem, enquanto os aliados ainda caçavam votos pelos corredores da Casa. Em poucos minutos, deu conta das 30 páginas preenchidas com letra miúda. O deputado desceu da tribuna com senso do dever cumprido.
Recém-convertido à proposta de criar a CSS, Darcísio Perondi (PMDB-RS) saudou o colega:
-Olha, Pepe, o pessoal do Jóquei Clube gaúcho acabou de telefonar. O locutor está doente e me pediram pra te convencer a narrar o Grande Prêmio.


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