São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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Yeda diz que vice "quer implodir governo"

Governadora gaúcha nega que crise política tenha paralisado sua administração e afirma não temer pedido de impeachment

Tucana admite, no entanto, problemas em sua base na Assembléia e afirma que "gabinete de transição" é tentativa de integrar aliados


GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

No meio da maior turbulência política desde que assumiu o cargo, em janeiro do ano passado, a governadora Yeda Crusius (PSDB), 63, disse não temer o pedido de impeachment e que o vice-governador Paulo Feijó (DEM), seu adversário, quer "implodir o governo". A tucana afirmou que não se sente abandonada pelo PSDB nacional. Também criticou a oposição e a CPI que já provocou a queda de três secretários no final de semana.

 

FOLHA - Como a sra. avalia o pedido de impeachment?
YEDA CRUSIUS
- Pedi que avaliassem, como uma agente pública com responsabilidade de chefe de Poder, em que base esse pedido se colocou, porque não conheço. Vou apenas analisar sob esse ponto de vista. Não temo.

FOLHA - Há muitas dúvidas em sua própria base sobre o gabinete de transição. A sra. está tentando ganhar tempo por causa da crise?
YEDA
- Não. Tudo que é novo leva algum tempo para ser entendido racionalmente. Para um ente político parlamentarista como eu, uma crise se enfrenta assim e há uma crise de relacionamento ético-político no RS. Eu poderia ter nomeado um novo chefe da Casa Civil, todos poderiam estar contentes. Não. Agora é a hora de reafirmar, [por meio] do gabinete, as ações de cotidiano.

FOLHA - O governo está paralisado por esta crise?
YEDA
- Não.

FOLHA - Há aliados da sra. que dizem que a mídia tem sido usada para amplificar a crise. A sra. concorda?
YEDA
- De maneira nenhuma. Quando a oposição na CPI, de maneira um pouco estranha, recebe as fitas de 2.000 horas num dia e oferece à mídia uma parte editada, quem ouve as fitas vê que há transcrições erradas, palavras que induzem a uma nova interpretação.

FOLHA - A sra. demitiu dois secretários muito próximos, Delson Martini, que era o gerente dos principais projetos do governo, e Cézar Busatto, que fazia a interlocução política. Como a demissão deles vai repercutir na ação do governo?
YEDA
- Na pessoa Yeda repercutem como perda, que saíram do governo na sociedade midiática, ou por uma foto ou por uma gravação. Estão com sua reputação aparentemente ferida e não merecem. Em termos de governo, nós vivemos na cultura Big Brother. No caso do secretário Delson Martini, a PF analisou 22 mil horas de gravação e ele não foi nem sequer chamado ou indiciado. Por que estão perseguindo o Delson Martini? Porque estão querendo através dele chegar até a governadora. Porque tem aí um script político.

FOLHA - A sra. pretende fazer uma reforma mais ampla, uma reengenharia?
YEDA
- Reengenharia não é a palavra, mas uma experiência parlamentarista dentro do sistema presidencialista. É a reafirmação da base, de todos os instrumentos que já tínhamos iniciado. Não é reestruturação de governo, mas das relações políticas do governo.

FOLHA - A sra. considera sólida sua base?
YEDA
- [Vamos] fazer com que a base se sinta sólida.

FOLHA - A sra. se sente abandonada pelo PSDB nacional?
YEDA
- Não, pelo contrário. Na sexta-feira, quando nós não sabíamos da sessão midiática da apresentação da fita pelo vice-governador, eles estavam aqui, o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra, e a valente senadora Marisa Serrano. Foram surpreendidos pelo ineditismo do escândalo. Governadores e senadores me deram toda a energia do PSDB, porque eles estavam vivendo, ao contrário, a mesma coisa. Eles são oposição em Brasília. Encerraram a CPI dos Cartões em Brasília sem deixar investigar, mas aqui é diferente. O governo do Estado quer todas as investigações.

FOLHA - A sra. e o seu vice foram eleitos juntos. Como a relação de vocês se desgastou a esse ponto?
YEDA
- Ele não participou da campanha eleitoral, pode ter participado na hora das fotos. Não participou das propostas, da formulação do plano de governo. Os meios que ele usou para atingir pseudo-fins não são aceitos. Não se faz o que ele fez. Gravar e apresentar a gravação editada como ele fez. Ele é contra o governo; para que ele quer ser governo? Para implodir dentro do governo.


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