São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Senado ainda busca elo de ex-presidente do BC com consultoria
Relatório de investigação pode deixar de citar Lopes

da Sucursal de Brasília


O TCU (Tribunal de Contas da União) anunciou ontem que vai promover uma inspeção no Banco Central para avaliar "a legalidade, a legitimidade e a economicidade" das operações de ajuda aos bancos Marka e FonteCindam. O socorro causou um prejuízo de R$ 1,57 bilhão ao BC.
O TCU anunciou ainda que vai investigar denúncias sobre "vazamento de informações privilegiadas ao mercado financeiro por ocasião da mudança cambial, ocorrida em janeiro passado".
A suspeita de vazamento motivou a criação da CPI dos Bancos há quase dois meses. Ainda não foram comprovadas irregularidades.
A inspeção do TCU foi determinada pelo ministro Bento Bugarin. Na última quarta, durante a sessão do tribunal, ele disse aos demais ministros que já havia feito entendimentos com o presidente da CPI, senador Bello Parga (PFL-MA).
Pelo acordo, a equipe técnica do TCU terá acesso aos documentos já levantados pela CPI.
A decisão do TCU se antecipa a uma das determinações do relatório preliminar da CPI, que ainda não foi oficialmente divulgado: a realização de inspeção no BC para apurar o valor dos prejuízos com a ajuda ao Marka e ao FonteCindam.

Chico Lopes
O relatório preliminar da CPI, ao qual a Folha teve acesso, acusa genericamente a diretoria do Banco Central de falsidade ideológica, baseado na interpretação de que a então diretoria do BC e a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) teriam forjado a carta com o alerta sobre "risco de crise sistêmica" caso instituições financeiras não pudessem honrar seus contratos no mercado futuro de dólar.
Isso, na prática, pode livrar Francisco Lopes, ex-presidente do BC e personagem mais visado pela investigação do Senado, dessa acusação. Isso porque, em depoimento à CPI, quem assumiu a responsabilidade pela carta foi Tereza Cristina Grossi, chefe do Departamento de Fiscalização do BC.
Para enquadrar Lopes na segunda acusação contida no relatório preliminar, de falso testemunho, a CPI terá de recorrer ao depoimento dele à Polícia Federal. Quando convocado pela CPI, o ex-presidente do BC se recusou a depor.
A comissão espera comprovar, pelo menos, que Lopes manteve vínculos com a empresa de consultoria econômica Macrométrica, da qual foi sócio, mesmo depois de assumir cargos no BC.

Falta de provas
Em quase dois meses de investigação, a CPI não conseguiu provas de que Lopes teve vantagens pessoais ao determinar a ajuda financeira ao Marka e ao FonteCindam.
O indício mais comprometedor contra Lopes foi recolhido pelo Ministério Público do Rio -o bilhete em que o consultor Sérgio Bragança diz ter, em contas no exterior, US$ 1,675 milhão de propriedade do ex-presidente do BC.
A CPI, porém, não conseguiu comprovar a existência da conta e não conseguiu relacionar o dinheiro a supostos pagamentos por informações privilegiadas que teriam sido distribuídas ao mercado.
A análise das movimentações de Lopes em bancos brasileiros ainda não foi concluída. Alguns extratos chamaram a atenção por causa de transferências de alto valor que Lopes fez para contas de sua filha. Ainda não há, porém, qualquer indício de que o dinheiro movimentado tenha origem ilícita.


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