São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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O PUBLICITÁRIO

Empresa movimentou R$ 26,4 mi

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Novo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhado à CPI dos Correios revela a movimentação de R$ 26,4 milhões em pouco mais de dois anos na empresa 2S Participações Ltda., criada em nome de funcionários do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, com capital de R$ 1.000. Só no ano passado, a empresa movimentou R$ 20,2 milhões.
A 2S é uma das 14 empresas ligadas ao publicitário Marcos Valério e que tiveram o sigilo quebrado na CPI dos Correios.
Em depoimento à comissão na semana passada, Marcos Valério contou que pediu a duas pessoas de sua confiança que abrissem a empresa 2S porque ele enfrentava problemas na Receita Federal e na Justiça. A empresa, aberta em setembro de 2002, foi transferida para o nome do publicitário e o de sua mulher 41 dias depois.
"(...) Eu tenho outra empresa chamada Cepel. É uma hípica dentro de Belo Horizonte, e essa 2S Participações fez as obras do Cepel, as reformas no Cepel", disse Valério à CPI.
Por ora, a CPI não identificou a origem do dinheiro que passou pelas contas da empresa.
A CPI havia definido como prioridade identificar a origem de um depósito de R$ 2,4 milhões na conta da Graffiti Participações Ltda. A operação foi a única realizada no ano passado pela Graffiti na sua conta no banco BMG, de Belo Horizonte, e tem o mesmo valor do empréstimo feito pelo banco ao PT no ano anterior, com o aval de Marcos Valério.
O depósito na conta da Graffiti, realizado em julho de 2004, não foi registrado no Imposto de Renda da empresa. O publicitário só figurou como sócio da Graffiti por pouco mais de sete meses, entre o final de 1998 e o início de 1999. A maioria do capital pertence à mulher de Marcos Valério, Renilda.
A empresa detém participação da DNA e funciona no mesmo endereço da outra agência de publicidade de Valério, a SMPB Comunicação, no sétimo andar do prédio número 1.190 da rua dos Inconfidentes. Essas são duas principais agências do publicitário.
Em 2003, primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, as movimentações da Graffiti explodiram. Segundo o levantamento da Receita Federal, feito com base no pagamento de CPMF, as movimentações financeiras nesse ano representaram quase dez vezes o volume das transações registradas nos três anos anteriores. Só na sua conta no Banco Rural de Belo Horizonte, a Graffiti movimentou em 2004 R$ 53,4 milhões, mais do que o dobro do ano anterior.
As principais agências das quais Marcos Valério é sócio também registraram crescimento nas movimentações financeiras depois da posse de Lula no Planalto. Em 2003 e 2004, a DNA mais do que dobrou as transações em relação aos dois últimos anos de mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. A SMPB movimentou, nos dois primeiros anos de governo Lula, quatro vezes o volume de dinheiro movimentado em igual período da gestão FHC.
Entre 2000 e março deste ano, seis das empresas do publicitário movimentaram entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,6 bilhão. Os valores não são corrigidos pela inflação.

Bloqueio
A Procuradoria Geral Federal do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) citou, em ação enviada à Justiça Federal de Minas Gerais, o caso do "mensalão" entre as razões justificadas para pedir o bloqueio das contas bancárias de Marcos Valério e da empresa DNA Propaganda.
"Como é de conhecimento geral, um dos sócios da executada, sr. Marcos Valério Fernandes de Souza, encontra-se sob investigação junto a [sic] Polícia Federal e a Comissão Parlamentar de Inquérito, acusado de ser operador do denominado "mensalão'", disse na ação a procuradora federal Doriana do Carmo Maia Zauza.
Ontem, em Belo Horizonte, o advogado de Marcos Valério e da DNA, Ildeu da Cunha Pereira, desqualificou os argumentos do INSS. "O procurador federal do INSS que assinou a petição alegou até o tal do "mensalão". O procurador do INSS é um imbecil."


Colaborou a Agência Folha, em Belo Horizonte

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