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TV foi paga em espécie, diz testemunha
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Não é a primeira vez que dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus são associados a malas
de dinheiro. A compra da TV Record do Rio de Janeiro, segundo
depoimento prestado à Polícia
Federal pelo ex-integrante da
igreja José Antônio Alves Xavier
foi paga em espécie.
No depoimento à PF, Xavier
disse ter visto "uma quantidade
enorme de dinheiro acondicionada em malas" na noite em que a
igreja fechou a compra da emissora, em junho de 1992. Ele presenciou a transação porque a TV foi
adquirida em nome dele e de mais
cinco fiéis que frequentavam o
templo da Universal no bairro da
Abolição, na zona norte do Rio.
O depoimento de Xavier consta
do inquérito, em curso no STF
(Supremo Tribunal Federal), que
investiga o suposto envolvimento
da Universal com duas empresas
de paraísos fiscais, Cableinvest e
Investholding, que teriam financiado a compra da TV Record do
Rio e de outras emissoras.
Documentos da Junta Comercial de São Paulo mostraram que a
Cableinvest e a Investholding
eram acionistas de outras empresas ligadas à Igreja Universal: Credinvest, Unimetro Empreendimentos e Cremo Empreendimentos. Um dos sócios da Cremo era
o então presidente da Rede Família e Rede Mulher e hoje deputado
federal João Batista Ramos (PFL-SP), que ontem teve de prestar esclarecimentos à Polícia Federal
sobre as sete malas com dinheiro
que transportava em um avião.
O senador Marcelo Crivella (PL-RJ), sobrinho do bispo Edir Macedo, e o deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP) são investigados no inquérito sobre a Universal.
Xavier afirmou à PF ter visto,
além de malas de dinheiro, ""armamento de grosso calibre" e
muitos seguranças na assinatura
do contrato, e que, em seguida, a
igreja tomou posse da TV, embora, oficialmente, os proprietários
fossem os seis fiéis.
O Ministério Público Federal
considera que já há prova da participação de Marcelo Crivella como dirigente da Investholding
(empresa registrada nas Ilhas
Cayman) e como proprietário beneficiário da Cableinvest. Crivella
depôs na PF sobre o caso, em
março, e negou o envolvimento
com as duas empresas.
O caso começou a ser investigado em 1999, depois que a Folha
revelou que as duas empresas
bancavam investimentos da Universal e que haviam remetido pelo
menos US$ 18 milhões para o Brasil, entre 1992 e 1994.
Outro inquérito
O deputado João Batista Ramos
já responde a inquérito penal no
STF por suspeita de falsidade
ideológica e crime contra o sistema tributário, juntamente com o
senador Marcelo Crivella. Eles foram acusados de ter permanecido
como dirigentes da TV Cabrália,
da Bahia, após assumirem o mandato parlamentar, em 2003, o que
é proibido pela Constituição.
A acusação de falsidade ideológica decorre do fato de que, após
assumir o mandato, eles teriam
prestado declaração falsa sobre a
inexistência de impedimento para que continuassem na função de
sócio-gerente da emissora baiana.
Já a suspeita de crime contra a
ordem tributária é porque eles teriam omitido a renda que receberam como dirigentes da TV.
Na defesa prévia feita à Procuradoria Geral da República, no ano
passado, Ramos disse que pedira
a sua substituição na empresa antes de ser eleito, em outubro de
2002, mas afirmou que a Junta
Comercial dependia da anuência
do Ministério das Comunicações
para registrar a transferência, o
que não teria acontecido.
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