São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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TV foi paga em espécie, diz testemunha

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Não é a primeira vez que dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus são associados a malas de dinheiro. A compra da TV Record do Rio de Janeiro, segundo depoimento prestado à Polícia Federal pelo ex-integrante da igreja José Antônio Alves Xavier foi paga em espécie.
No depoimento à PF, Xavier disse ter visto "uma quantidade enorme de dinheiro acondicionada em malas" na noite em que a igreja fechou a compra da emissora, em junho de 1992. Ele presenciou a transação porque a TV foi adquirida em nome dele e de mais cinco fiéis que frequentavam o templo da Universal no bairro da Abolição, na zona norte do Rio.
O depoimento de Xavier consta do inquérito, em curso no STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga o suposto envolvimento da Universal com duas empresas de paraísos fiscais, Cableinvest e Investholding, que teriam financiado a compra da TV Record do Rio e de outras emissoras.
Documentos da Junta Comercial de São Paulo mostraram que a Cableinvest e a Investholding eram acionistas de outras empresas ligadas à Igreja Universal: Credinvest, Unimetro Empreendimentos e Cremo Empreendimentos. Um dos sócios da Cremo era o então presidente da Rede Família e Rede Mulher e hoje deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP), que ontem teve de prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre as sete malas com dinheiro que transportava em um avião.
O senador Marcelo Crivella (PL-RJ), sobrinho do bispo Edir Macedo, e o deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP) são investigados no inquérito sobre a Universal.
Xavier afirmou à PF ter visto, além de malas de dinheiro, ""armamento de grosso calibre" e muitos seguranças na assinatura do contrato, e que, em seguida, a igreja tomou posse da TV, embora, oficialmente, os proprietários fossem os seis fiéis.
O Ministério Público Federal considera que já há prova da participação de Marcelo Crivella como dirigente da Investholding (empresa registrada nas Ilhas Cayman) e como proprietário beneficiário da Cableinvest. Crivella depôs na PF sobre o caso, em março, e negou o envolvimento com as duas empresas.
O caso começou a ser investigado em 1999, depois que a Folha revelou que as duas empresas bancavam investimentos da Universal e que haviam remetido pelo menos US$ 18 milhões para o Brasil, entre 1992 e 1994.

Outro inquérito
O deputado João Batista Ramos já responde a inquérito penal no STF por suspeita de falsidade ideológica e crime contra o sistema tributário, juntamente com o senador Marcelo Crivella. Eles foram acusados de ter permanecido como dirigentes da TV Cabrália, da Bahia, após assumirem o mandato parlamentar, em 2003, o que é proibido pela Constituição.
A acusação de falsidade ideológica decorre do fato de que, após assumir o mandato, eles teriam prestado declaração falsa sobre a inexistência de impedimento para que continuassem na função de sócio-gerente da emissora baiana.
Já a suspeita de crime contra a ordem tributária é porque eles teriam omitido a renda que receberam como dirigentes da TV.
Na defesa prévia feita à Procuradoria Geral da República, no ano passado, Ramos disse que pedira a sua substituição na empresa antes de ser eleito, em outubro de 2002, mas afirmou que a Junta Comercial dependia da anuência do Ministério das Comunicações para registrar a transferência, o que não teria acontecido.


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