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Advogados vêem sinal de crise institucional
ANA FLOR
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para advogados, as sucessivas decisões de prisão e soltura
do banqueiro Daniel Dantas,
protagonizadas por um juiz de
primeira instância e pelo presidente do Supremo Tribunal
Federal, Gilmar Mendes, explicitam uma crise institucional
vivida pela Justiça no país.
A crise teria se agravado ontem, quando Mendes concedeu
novo habeas corpus cancelando a prisão preventiva do banqueiro, alegando que havia "nítida via oblíqua de desrespeitar
a decisão" anterior do STF.
A própria falta de entendimento entre os advogados corroboraria para acirrar a crise.
Segundo os advogados, seria
necessário que "os atores deixassem a poeira baixar e verificassem seus procedimentos".
"Esse parece ser um dos momentos mais graves já vividos
pelo Judiciário. O que está em
xeque é a credibilidade jurídica", disse o coordenador do
curso de direito penal e econômico da Escola de Direito da
Fundação Getúlio Vargas, Celso Vilardi. Segundo o advogado,
aparentemente tanto o juiz de
primeira instância quanto o
ministro do STF se sentiram
"aviltados".
Para o criminalista Tales
Castelo Branco, existe uma
participação "nefasta" da Polícia Federal e do Ministério Público em ampliar a crise, contribuindo para a desmoralização
do "momento decisivo" da ação
penal [a sentença] com a antecipação das prisões.
Castelo Branco avalia a situação como um trabalho da PF
para "provocar alarde", uma
"retaliação do juiz federal" e
um possível "azedume" na decisão de Gilmar Mendes, que
seria "benfazeja para mostrar
que o presidente do STF merece mais respeito".
O descontentamento de
Mendes com a atuação do juiz
federal Fausto Martin De Sanctis, que decretou a prisão preventiva de Dantas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e
do investidor Naji Nahas, entre
outros, foi explicitado quando
Mendes determinou o envio de
sua decisão ao TRF-3 (Tribunal
Regional Federal da 3ª Região),
às corregedorias da Justiça Federal da 3ª Região, ao Conselho
Nacional de Justiça e ao Conselho de Justiça Federal. Dessa
forma, o ministro desejaria
uma investigação sobre a atuação do juiz no caso.
O advogado Ives Gandra
Martins diz que a decisão de
Sanctis, que decretou a prisão
preventiva com base em pedido
da PF, "afrontando" Mendes,
eliminou o direito de ampla defesa de Dantas.
"No dia em que a a PF e o Ministério Público respeitarem o
direito de defesa, o Brasil será
uma democracia. Por enquanto, é uma aparente democracia". Para ele, porém, as decisões opostas -do juiz federal e
do presidente do STF- não demonstra falha do sistema jurídico brasileiro. "A Justiça brasileira permite que os juristas
mais experientes possam fazer
uma revisão [de decisões em
instâncias inferiores]."
Para o ex-juiz e ex-secretário
nacional Antidrogas Wálter
Maierovitch, o presidente do
STF "extrapolou os poderes" ao
tomar a decisão sobre o habeas
corpus sozinho. Mendes deveria ter deliberado em conjunto
com o plenário do Supremo.
"Uma liminar em habeas corpus liberatório só caberia quando a ilegalidade ou o abuso fossem muitos evidentes", disse
ele. "Fica muito evidente que
uma eventual legalidade não
está estampada neste caso",
afirma, por se tratar de uma decisão liminar monocrática.
Atacando a decisão do STF, o
procurador Rodrigo de Grandis, responsável pelo caso, diz
que a nova liminar cria um foro
privilegiado para Dantas, não
contemplado pela Constituição. "É um caso manifesto de
supressão de instâncias."
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