São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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PT convoca militância para defender presidente

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Já trabalhando com a hipótese de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentar um processo de impeachment, o comando do PT convocou os movimentos sociais, sua base histórica, para ir às ruas em defesa de seu mandato.
Em reunião com 20 entidades, o presidente do PT, Tarso Genro, fez o apelo argumentando que este é o momento "mais tenso" da crise até agora. Segundo avaliação do secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini, o depoimento à CPI dos Correios do publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha de Lula, poderia embasar um pedido de afastamento do presidente por crimes contra o sistema financeiro, fiscal e tributário, entre outros.
Numa audiência marcada por muitas queixas, os movimentos acataram o pedido do PT, mas impuseram condições. A Executiva do partido e os movimentos sociais querem ser recebidos por Lula -a audiência já foi pedida, segundo Berzoini- e querem que o presidente se pronuncie à nação, o que deve ocorre hoje.
Ficou acertado que a manifestação programada para o dia 16, em Brasília, será o marco da defesa do governo, mas pedirá também mudança na política econômica e punição contra os corruptos. Com presença confirmada no protesto, o MST foi a principal ausência da reunião.
O terceiro vice-presidente do partido, Valter Pomar, disse temer ser tarde demais para a mobilização, dado o afastamento crescente entre o PT e os movimentos sociais no governo Lula. "Lula não caiu nem vai cair, mas que o mundo caiu, caiu", disse João Felício, presidente da CUT.

Emergência
O depoimento de Duda foi acompanhado pela TV com apreensão. Tarso convocou, por telefone, uma reunião "informal" da Executiva para avaliá-lo. Dirigentes lançaram dúvidas sobre a veracidade das declarações.
À imprensa, Tarso afirmou não ter visto no depoimento de Duda nada que prove que o dinheiro do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza tenha sido usado na campanha de Lula à Presidência. "Não há nenhuma legitimação moral e jurídica para a proposta de impeachment. Vamos fazer todos os movimentos políticos jurídicos e sociais para defender o mandato do presidente. Não há nenhum elemento de prova ou nenhum documento que vincule aos recursos do presidente."
Mas ele reconheceu que as declarações são graves. "São declarações muito graves, que mostram que havia uma articulação internacional totalmente irregular que tem de ser investigada. Isso não é somente uma questão de legislação eleitoral, diz respeito a outras questões relacionadas com crimes de natureza financeira, que precisam ser investigados."
Pomar, candidato à presidência do PT pela corrente Articulação de Esquerda, considerou provável que a oposição peça o afastamento de Lula. "Quem não considera essa possibilidade está no mundo da lua." E revidou: "Não somos o PRN. Lula não é Collor, não vamos deixar que se coloque o governo em questão".
Berzoini afirmou que um pedido de impeachment, agora, poderá afetar a economia. "O Brasil precisa ter responsabilidade para assegurar que o crescimento econômico e o desenvolvimento social não sejam interrompidos por aventuras golpistas", afirmou.
Ontem pela manhã, Tarso se reuniu com Lula e cobrou uma manifestação pública do presidente sobre a crise.
À tarde, reforçou sua sugestão para que Lula convoque o Conselho da República para, entre outras medidas, chegar a uma proposta de minirreforma política. Ele defendeu que o Brasil incorpore a experiência usada no combate ao crime financeiro na Itália e na Espanha.


Colaborou Flávia Marreiro, da Reportagem Local

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