São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA

Líder do governo no Senado afirma que Delúbio, Genoino e Duda lhe garantiram que gastos na sua campanha eram só os declarados

"Perplexo", Mercadante diz que nada sabia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Declarando-se "perplexo e indignado", o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP) correu à CPI dos Correios depois de ouvir o depoimento de Duda Mendonça na televisão para questionar o publicitário sobre sua omissão, em duas conversas na semana passada, sobre o pagamento da campanha petista de São Paulo em 2002.
"Eu perguntei ao presidente do partido, ao tesoureiro, Delúbio Soares, e tivemos alguns diálogos, inclusive com o próprio Duda. Perguntei o que foi feito com relação a São Paulo. Diziam: "É aquilo que está declarado'", disse Mercadante, que não pôde inquirir diretamente o depoente.
"E agora, quando veio essa crise, eu voltei a falar. Falei por telefone e depois falei pessoalmente. Não apenas com Duda, mas com o presidente do partido", lamentou. Não chegou a dizer, porém, que sentiu enganado.
Apesar do abalo com a situação, ele declarou que permanece líder e acusou os dirigentes petistas de serem "irresponsáveis". Reafirmou sua lealdade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Continuo acreditando no presidente".
Duda não fez réplica. Mais tarde, chegou a dizer sobre a nota que emitiu semana passada negando envolvimento com Valério que tinha "ficado entre a mentira e a omissão naquele momento".
Mercadante passou as últimas semanas declarando na tribuna que sua campanha não estava envolvida no imbróglio do caixa dois, com base nas informações que tinha do PT. Duda, porém, disse que sua publicidade estava no pacote de 2002, que foi quitado irregularmente em 2003.
"Eu jamais negociei qualquer contrato. Nunca soube da história que está sendo contada agora", disse em sua primeira aparição na CPI depois das eleições da mesa.
"Hoje eu prezo que está sendo dita a verdade. Mas é muito diferente saber pela TV, pela CPI", disse. "É com muita tristeza que, depois de dois anos e meio, os companheiros do PT não me contassem a verdade", disse.
"Quando vejo uma história como essa, não reconheço o PT. Esses dirigentes não tinham o direito de fazer isso", concluiu.

Sem dívidas
As campanhas eleitorais de Lula à Presidência e de outras três candidaturas do PT em que o publicitário Duda atuou em 2002 declararam à Justiça Eleitoral ter fechado o ano sem dívidas com as empresas do marqueteiro. O diretório regional do PT de São Paulo e o Diretório Nacional da sigla também encerraram 2002 sem declarar pendências com Duda.
A informação prestada pelo PT à Justiça Eleitoral contraria a versão apresentada pelo marqueteiro à CPI dos Correios e à PF. Duda disse à PF que tinha a receber do PT uma dívida de R$ 11,5 milhões por serviços de marketing político prestados ao partido e a candidatos petistas em 2002.
"Nós não temos nenhuma noção do que é isso", disse o tesoureiro do diretório do PT paulista e da campanha do ex-deputado federal José Genoino (PT) ao governo de São Paulo em 2002, Danilo Camargo. "Não há dívida."
"A prestação de contas de minha campanha não registrou qualquer dívida referente a fornecedores de bens ou serviços, uma vez que todas foram pagas", disse a ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), em nota distribuída à imprensa no dia 8 e reafirmada ontem por sua assessoria. Duda atuou na campanha de Benedita, por um valor declarado de R$ 1,2 milhão.
Na prestação de contas apresentada ao TSE em 2003, o então tesoureiro de Lula e do Diretório Nacional do PT, Delúbio Soares, declarou um gasto de R$ 8,9 milhões com a CEP, empresa de marketing político de Duda. Tudo teria sido pago em 2002.
Procurada ontem, a assessoria do Palácio do Planalto não havia se manifestado, até o início da noite, sobre o tema. O advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros, também procurado, não deu retorno a um pedido de entrevista.
O tesoureiro do PT em São Paulo, Danilo Camargo, afirmou que o partido pagou a Duda, ainda em 2002, R$ 2,1 milhões pelos serviços nas campanhas eleitorais, além de R$ 285 mil por um programa para o horário eleitoral.
Camargo explicou que foi fechado um contrato entre a empresa CEP e as campanhas de Genoino e de Mercadante. Isso põe em xeque a justificativa de Duda aos deputados ACM Neto (PFL-BA) e Ônyx Lorenzoni (PFL-RS), em seu depoimento ontem à CPI. Segundo Duda, havia sido fechado um pacote de serviços com o PT, que incluía a campanha presidencial e outras regionais.


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