São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO WALDOMIRO

Relatório revela que ex-assessor ligou para ministro da Fazenda em março de 2004; ele havia negado manter relações com o ex-patrão

CPI descobre ligações de Buratti para Palocci

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um relatório em poder da CPI dos Bingos, no Senado, aponta que o advogado Rogério Tadeu Buratti, acusado de tentar extorquir R$ 6 milhões da GTech para a renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal em abril de 2003, telefonava para a casa do ministro Antonio Palocci (Fazenda) antes de 25 de março de 2004.
Em depoimento na terça-feira à CPI, Buratti negou que ainda mantivesse relação com o ministro. Ele foi secretário de Governo de Ribeirão Preto, em 1993 e 1994, quando Palocci era prefeito. Afastado do cargo por suspeita de corrupção, Buratti desfiliou-se do PT e, desde então, teria perdido contato com o ministro.
O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que Buratti mentiu no depoimento e envolveu Palocci ao esconder as ligações. A partir da análise dos telefonemas, o ministro pode ser convocado a depor, disse Efraim.
A Folha apurou que, em fevereiro de 2004, Buratti ligou, no dia 7, duas vezes do telefone fixo para a casa do ministro e outra vez, no dia 21, de um celular. Uma das ligações durou 1,46 minuto e a outra, um minuto. Não havia informação sobre a terceira ligação.
O Ministério Público de São Paulo, responsável pelo relatório, informou que desconhecia as ligações feitas de Buratti para Palocci. Hoje, um levantamento de todas as ligações para a casa do ministro serão rastreadas e enviadas à CPI. Segundo informação do Ministério Público, podem ter ocorrido 40 ligações.

Chefe-de-gabinete
Outro contato telefônico de Buratti era com o celular do chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Antonio Dourado. Havia também ligações para a suposta cafetina Jeany Mary Corner, que, por solicitação de Marcos Valério, organizou duas festas com garotas de programa na suíte presidencial do hotel Gran Bittar em Brasília, segundo relato do empresário Ricardo Penna Machado à PF.
Na lista ainda aparece Ralf Barquete dos Santos, consultor da presidência da Caixa de fevereiro de 2003 a junho de 2003. Na época de renovação de contrato com a GTech, ocorreram 99 ligações entre Buratti e Barquete, que foi secretário de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002).
A CPI recebeu do Ministério Público Estadual de São Paulo um relatório datado de 29 de abril de 2004. A Promotoria investiga fraudes em licitações de prefeituras paulistas na contratação de coleta de lixo. Entre os investigados está a empreiteira Leão Leão, da qual Buratti foi vice-presidente até março de 2004. A CPI quebrou os sigilos da Leão Leão.
A Promotoria pediu as contas telefônicas de Buratti e recebeu a lista de ligações mais freqüentes. Escutas, feitas com autorização judicial, foram iniciadas em 25 de março de 2004, mas "nenhuma conversa foi captada, levando a crer que ante os fatos públicos, [Buratti] abandonou as linhas [grampeadas]", diz o relatório.
Em março daquele ano, estava no auge a primeira crise no governo Lula, após Waldomiro Diniz, ex-assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, aparecer em fita gravada em agosto de 2002 pedindo propina ao empresário de jogos Carlinhos Cachoeira.
Waldomiro depôs ontem na CPI e negou conhecer Buratti. Os senadores resolveram convocar Dirceu; a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB); os ex-governadores Anthony Garotinho (PMDB) e Benedita da Silva (PT), que empregaram Waldomiro na Loterj; e Geraldo Magela (PT), candidato derrotado ao governo do DF, que teria recebido de Waldomiro R$ 100 mil para campanha por Cachoeira.


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