São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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SENADOR SOB PRESSÃO

Manobra do PMDB atrasa a apresentação de relatório no Conselho de Ética, que fica para hoje

Adiada leitura de texto que condena Jader

Sérgio Lima - 10 set.2001/Folha Imagem
João Alberto (PMDB-BA), que pediu prazo para analizar relatório


ANDREA MICHAEL
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Manobra do PMDB adiou para hoje a apresentação do relatório da comissão constituída para investigar o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que vai recomendar ao Conselho de Ética a abertura de processo por quebra de decoro contra o presidente licenciado do Senado.
O relatório ficou pronto ontem, mas João Alberto de Souza (PMDB-MA) -único aliado de Jader na comissão- recusou-se a assinar e exigiu de Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM), demais integrantes da comissão, prazo para examiná-lo.
Ele queria cinco dias, mas acabou ganhando 24 horas. O relatório será entregue às 12h de hoje ao presidente interino do Conselho de Ética, o pefelista Geraldo Althoff (PFL-SC), que já convocou para 12h30 reunião para leitura do documento.
João Alberto apresentará voto em separado, por ser contra a abertura de processo contra Jader. Deve recomendar que o Supremo Tribunal Federal se encarregue do assunto.

Posse
Em outra articulação pró-Jader, o PMDB também quer antecipar para hoje a posse do novo presidente do conselho, Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS).
O líder do partido, Renan Calheiros (AL), criticou Althoff por pretender entregar o cargo a Juvêncio somente na sexta-feira.
""É uma pequenês brigar para ficar mais dois dias no cargo", disse Calheiros.
Juvêncio foi indicado pelo PMDB após o ex-presidente do Conselho, Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), ter sido pressionado por Jader e Renan a renunciar ao cargo.
Para Tuma e Péres, já há provas de que Jader se beneficiou. João Alberto discorda. ""Não vejo nada contra Jader nisso aqui. Do jeito que as coisas estão, dá para punir ou não. Punir colegas quando há dúvidas?", perguntou.

Bate-boca
O peemedebista acabou num bate-boca com Tuma, ao pedir -inicialmente- cinco dias de prazo para examinar o relatório e o pedido foi negado. Ele estava acompanhado de Renan e do senador Ney Suassuna (PMDB-PB).
Acabaram concordando em dar 24 horas para João Alberto, mesmo considerando o pedido uma manobra protelatória do PMDB. ""Ele poderia ter lido [o relatório" em uma hora", disse Tuma. Para ele, ""há elementos comprobatórios das operações de Jader".

Relatório
O relatório afirma que Jader faltou com a verdade ao negar ter se beneficiado de recursos desviados do Banpará e também tentou obstruir as investigações sobre o caso no Senado, ambos itens que configurariam falta de decoro.
Em um trecho, diz: "... resíduos [de aplicações financeiras" não deixam margem à dúvida de participação e vinculação do senador Jader Barbalho na operação de desvio de recursos do Banpará."
E depois: "Que é o próprio Jader o investidor que recebe ou complementa os resíduos, portanto, (...) é o titular das operações."
As afirmações se sustentam em documento do Banco Itaú, com data de 31 de agosto de 2001, explicando como era comum, de maneira geral, nos anos de inflação, a complementação das aplicações com os chamados "resíduos", que ora sobravam, ora faltavam.
O relatório explica que não houve um desvio no foco das investigações da comissão, acusação feita por Jader. Investigar o caso Banpará seria fundamental, conforme o relatório, para confirmar se o peemedebista mentiu ou não.

Placar
O PMDB quer substituir Althoff para ganhar tempo. O presidente interino do conselho está disposto a conceder apenas 24 horas de vista coletiva (prazo para os senadores examinarem) após a leitura do relatório, o que possibilitaria sua votação ainda amanhã. Pelo regimento, esse prazo poderia ser de até cinco dias.
A tendência do conselho é aprovar o relatório propondo abertura de processo contra Jader. O PMDB conta com 5 integrantes, mas terá um voto a menos se Juvêncio estiver na presidência. O presidente só vota em caso de empate, placar ainda possível.
A oposição, com 3 votos, se alia ao PFL (quatro, com o de Althoff se não estiver na presidência) para aprovar a abertura do processo. O bloco PSDB-PPB deve se dividir. O tucano Antero Paes de Barros (MT) apóia a abertura.



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