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FOLCLORE POLÍTICO
Só JK
RONALDO COSTA COUTO
Juscelino Kubitschek de Oliveira completaria cem anos
hoje.
No céu
Belo Horizonte, início de 1955. O
governador Kubitschek sonha ser
presidente pelo PSD. Mas começa
a circular a idéia de uma candidatura de união nacional. Tentam convencê-lo, resiste. Está certo de que querem mesmo é tirá-lo
do páreo. Numa noite de céu deslumbrante, José Aparecido de Oliveira, da UDN, vai visitá-lo no
Palácio das Mangabeiras. São adversários, mas bons amigos. Ouvem-se desconfiadamente, assuntam. Sem pressa, como se tivessem todo o tempo do mundo. Mal
tangenciam o tema do encontro,
a tal candidatura. Coisa de mineiros. Na saída, JK põe a mão no
ombro do amigo e aponta para cima: "Não adianta, Zé. Está escrito nas estrelas". Elegeu-se presidente em 3 de outubro de 1955,
com 36% dos votos.
Admirações de JK
Início dos anos 70, Rio, Ipanema, apartamento de Juscelino. O
escritor José Cândido de Carvalho
pede três personagens da história
brasileira. JK, de bate-pronto: "D.
João VI, Mauá e Vargas". D. João,
pela visão do Brasil que nascia.
Mauá, pelo empurrão que deu na
nação. Vargas, pelo sentido social
de seu governo. Três figuras que
viram o Brasil além do seu tempo
e vidas, explicou. Um rei, um empresário, um estadista.
Cura
Brasília, final de 1957. Os candangos trabalham até o limite
das forças. Constroem o sonho de
JK, agora também deles. Enfrentam turno e meio sem descanso,
às vezes dois. A cidade é pura
obra. Muito desconforto, poeira
ou barro, comida improvisada,
moradia precária, muito homem
e pouca mulher. Um sufoco monumental. Durante visita ao futuro Palácio da Alvorada, acompanhado de dona Sarah Kubitschek, avisam JK que um candango acaba de desmaiar. Médico,
ele corre para dar socorro. Toma
o pulso, verifica a respiração e a
dilatação da pupila. Percebe que
o homem já está voltando. Conclui que é pura estafa, excesso de
esforço. Resolve animá-lo: "Tudo
bem, batuta! Você só precisa de
mulher". "Sara, presidente?".
"Não! A Sarah, não!".
Aviso aos postulantes
De JK (1902-1976): "Um governo
forte se faz perdoando".
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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