São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Só JK

RONALDO COSTA COUTO

Juscelino Kubitschek de Oliveira completaria cem anos hoje.

No céu
Belo Horizonte, início de 1955. O governador Kubitschek sonha ser presidente pelo PSD. Mas começa a circular a idéia de uma candidatura de união nacional. Tentam convencê-lo, resiste. Está certo de que querem mesmo é tirá-lo do páreo. Numa noite de céu deslumbrante, José Aparecido de Oliveira, da UDN, vai visitá-lo no Palácio das Mangabeiras. São adversários, mas bons amigos. Ouvem-se desconfiadamente, assuntam. Sem pressa, como se tivessem todo o tempo do mundo. Mal tangenciam o tema do encontro, a tal candidatura. Coisa de mineiros. Na saída, JK põe a mão no ombro do amigo e aponta para cima: "Não adianta, Zé. Está escrito nas estrelas". Elegeu-se presidente em 3 de outubro de 1955, com 36% dos votos.

Admirações de JK
Início dos anos 70, Rio, Ipanema, apartamento de Juscelino. O escritor José Cândido de Carvalho pede três personagens da história brasileira. JK, de bate-pronto: "D. João VI, Mauá e Vargas". D. João, pela visão do Brasil que nascia. Mauá, pelo empurrão que deu na nação. Vargas, pelo sentido social de seu governo. Três figuras que viram o Brasil além do seu tempo e vidas, explicou. Um rei, um empresário, um estadista.

Cura
Brasília, final de 1957. Os candangos trabalham até o limite das forças. Constroem o sonho de JK, agora também deles. Enfrentam turno e meio sem descanso, às vezes dois. A cidade é pura obra. Muito desconforto, poeira ou barro, comida improvisada, moradia precária, muito homem e pouca mulher. Um sufoco monumental. Durante visita ao futuro Palácio da Alvorada, acompanhado de dona Sarah Kubitschek, avisam JK que um candango acaba de desmaiar. Médico, ele corre para dar socorro. Toma o pulso, verifica a respiração e a dilatação da pupila. Percebe que o homem já está voltando. Conclui que é pura estafa, excesso de esforço. Resolve animá-lo: "Tudo bem, batuta! Você só precisa de mulher". "Sara, presidente?". "Não! A Sarah, não!".

Aviso aos postulantes
De JK (1902-1976): "Um governo forte se faz perdoando".


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna



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