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TENSÃO NO CAMPO
Atis de Araújo Oliveira compara sem-terra a ambientalistas que decidissem "afundar navios baleeiros"
Cumpro a lei, diz juiz que condenou Rainha
CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE PRUDENTE
O juiz da comarca de Teodoro
Sampaio, Atis de Araújo Oliveira,
34, afirmou ontem que apenas
"cumpre a lei" ao condenar líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Questionado sobre a acusação
feita pelo MST de que tenta "criminalizar" o movimento, Oliveira
cita como exemplo uma hipotética ação da organização ambientalista Greenpeace: "O Greenpeace
luta pela preservação das espécies
ameaçadas de extinção, certo? Vamos dizer que, para fazer isso, o
Greenpeace resolva se reunir em
mais de cem pessoas e aí eles resolvem afundar navios baleeiros".
Anteontem, Oliveira condenou
dez líderes do MST, entre eles José
Rainha Jr., e a mulher de Rainha,
Diolinda Alves de Souza, a dois
anos e oito meses de prisão por
formação de quadrilha. Em 11 de
julho, Rainha foi detido, por ordem do juiz Oliveira, por furto e
formação de quadrilha durante
invasão a uma fazenda em 2000.
Dezenove dias depois, já na prisão, Rainha foi condenado por
Oliveira a dois anos e oito meses
por porte ilegal de arma.
Segundo o Centro de Direitos
Humanos Evandro Lins e Silva,
que defende os líderes, de 2001 até
agora, o juiz decretou 44 mandados de prisão contra integrantes
do MST. Desse número, com exceção dos 11 de anteontem e dos
cinco mandados de 11 de julho,
todos foram revogados por tribunais de Brasília. Desde 11 de julho,
a Agência Folha tenta, no fórum e
por telefone, entrevistar o juiz.
Ontem, ele falou por telefone:
Agência Folha - O sr. tem alguma
coisa a falar sobre as críticas que
vem recebendo do MST?
Atis de Araújo Oliveira - Não, não
tenho nada a dizer, não.
Agência Folha - O MST alega que
o sr. persegue e tenta ""criminalizar" o movimento.
Atis - [risos] O que eu posso dizer para você é o seguinte. Aliás, é
o que está na minha sentença [a
de anteontem]. O Greenpeace luta pela preservação das espécies
ameaçadas de extinção, certo? Vamos dizer que, para fazer isso, o
Greenpeace resolva se reunir em
mais de cem pessoas e aí eles resolvam afundar navios baleeiros,
eventualmente sequestrar a tripulação, manter a tripulação em cárcere privado, cometer algum
atentado ou algum ato de sabotagem nas docas que protegem,
ameaçar os eventuais empresários do setor. Ninguém está discutindo o fato da reforma agrária.
Agência Folha - O sr. acha, então,
que o movimento está desvirtuando seu objetivo?
Atis - Eu não acho nada.
Agência Folha - O sr. tem alguma
coisa contra o movimento?
Atis - O exemplo é o mesmo [em
relação ao Greenpeace].
Agência Folha - Mas, pessoalmente, o sr. é contra?
Atis - Não. Estou cumprindo a
lei.
Agência Folha - O deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP) disse que o sr. é um desequilibrado e que não tem condições de julgar as ações do MST no
Pontal. O que acha disso?
Atis - Não acho nada. Ninguém
melhor do que ele para explicar o
que eventualmente ele acha disso.
Agência Folha - O MST tenta medida para impedir que o sr. julgue
ações do movimento na região.
Atis - Olha, se houver uma decisão judicial nesse sentido, eu sou
o primeiro a cumprir.
Agência Folha - Para deixar bem
claro, o sr. não tem nada contra José Rainha Jr. ou outros líderes do
movimento?
Atis - Nada, nada, nada, nada.
Estou cumprindo a lei. Não tenho
mais nada a declarar.
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