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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Atis de Araújo Oliveira compara sem-terra a ambientalistas que decidissem "afundar navios baleeiros"

Cumpro a lei, diz juiz que condenou Rainha

CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE PRUDENTE

O juiz da comarca de Teodoro Sampaio, Atis de Araújo Oliveira, 34, afirmou ontem que apenas "cumpre a lei" ao condenar líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Questionado sobre a acusação feita pelo MST de que tenta "criminalizar" o movimento, Oliveira cita como exemplo uma hipotética ação da organização ambientalista Greenpeace: "O Greenpeace luta pela preservação das espécies ameaçadas de extinção, certo? Vamos dizer que, para fazer isso, o Greenpeace resolva se reunir em mais de cem pessoas e aí eles resolvem afundar navios baleeiros".
Anteontem, Oliveira condenou dez líderes do MST, entre eles José Rainha Jr., e a mulher de Rainha, Diolinda Alves de Souza, a dois anos e oito meses de prisão por formação de quadrilha. Em 11 de julho, Rainha foi detido, por ordem do juiz Oliveira, por furto e formação de quadrilha durante invasão a uma fazenda em 2000. Dezenove dias depois, já na prisão, Rainha foi condenado por Oliveira a dois anos e oito meses por porte ilegal de arma.
Segundo o Centro de Direitos Humanos Evandro Lins e Silva, que defende os líderes, de 2001 até agora, o juiz decretou 44 mandados de prisão contra integrantes do MST. Desse número, com exceção dos 11 de anteontem e dos cinco mandados de 11 de julho, todos foram revogados por tribunais de Brasília. Desde 11 de julho, a Agência Folha tenta, no fórum e por telefone, entrevistar o juiz. Ontem, ele falou por telefone:
 

Agência Folha - O sr. tem alguma coisa a falar sobre as críticas que vem recebendo do MST?
Atis de Araújo Oliveira -
Não, não tenho nada a dizer, não.

Agência Folha - O MST alega que o sr. persegue e tenta ""criminalizar" o movimento.
Atis -
[risos] O que eu posso dizer para você é o seguinte. Aliás, é o que está na minha sentença [a de anteontem]. O Greenpeace luta pela preservação das espécies ameaçadas de extinção, certo? Vamos dizer que, para fazer isso, o Greenpeace resolva se reunir em mais de cem pessoas e aí eles resolvam afundar navios baleeiros, eventualmente sequestrar a tripulação, manter a tripulação em cárcere privado, cometer algum atentado ou algum ato de sabotagem nas docas que protegem, ameaçar os eventuais empresários do setor. Ninguém está discutindo o fato da reforma agrária.

Agência Folha - O sr. acha, então, que o movimento está desvirtuando seu objetivo?
Atis -
Eu não acho nada.

Agência Folha - O sr. tem alguma coisa contra o movimento?
Atis -
O exemplo é o mesmo [em relação ao Greenpeace].

Agência Folha - Mas, pessoalmente, o sr. é contra?
Atis -
Não. Estou cumprindo a lei.

Agência Folha - O deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) disse que o sr. é um desequilibrado e que não tem condições de julgar as ações do MST no Pontal. O que acha disso?
Atis -
Não acho nada. Ninguém melhor do que ele para explicar o que eventualmente ele acha disso.

Agência Folha - O MST tenta medida para impedir que o sr. julgue ações do movimento na região.
Atis -
Olha, se houver uma decisão judicial nesse sentido, eu sou o primeiro a cumprir.

Agência Folha - Para deixar bem claro, o sr. não tem nada contra José Rainha Jr. ou outros líderes do movimento?
Atis -
Nada, nada, nada, nada. Estou cumprindo a lei. Não tenho mais nada a declarar.


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