|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEM CONSENSO
60º encontro de países-membros tende ao fiasco por pressões norte-americanas para diminuir papel do órgão
Agenda dos EUA domina assembléia da ONU
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A 60ª Assembléia Geral que as
Nações Unidas promovem esta
semana em Nova York tem tudo
para se tornar um grande fiasco
do ponto de vista dos países em
desenvolvimento, inclusive o Brasil, e um grande sucesso nas intenções norte-americanas de reduzir ainda mais a atual importância do organismo mundial.
Depois de recomendarem há 15
dias nada menos que 700 modificações em um texto de apenas 36
páginas que os 191 países-membros vinham negociando em conjunto, os EUA chegam ao encontro nesta semana com uma única
ênfase: reformar a ONU para deixá-la mais enxuta e eficiente.
Para muitos países-membros, a
reforma proposta pelos EUA é a
senha para que seja minimizado o
papel do organismo, deixando os
norte-americanos mais livres para agir e exercer sem constrangimentos o seu poderio militar.
Novo fôlego
Os EUA ganharam novo fôlego
para seus propósitos na semana
passada, quando um relatório final mostrou uma série de irregularidades e desvios em um dos
principais programas humanitários da ONU dos últimos anos, o
Petróleo por Alimentos, destinado ao Iraque.
Na sexta-feira, a secretária de
Estado dos EUA, Condoleezza Rice, afirmou que o relatório sobre
as irregularidades deveria ser visto como uma ""oportunidade para
que sejam feitas reformas (na
ONU) capazes de impedir que isso jamais aconteça de novo".
Embora o relatório tenha inocentado o secretário-geral do órgão, Kofi Annan, ele recebeu fortes críticas por ter permitido que
Saddam Hussein obtivesse mais
de US$ 10 bilhões ilegalmente por
meio do programa.
Do ponto de vista global, os dois
principais assuntos que os países
esperavam discutir -formas efetivas de financiar o combate à pobreza e a reforma do Conselho de
Segurança- têm sido sistematicamente rechaçados pelos EUA.
O embaixador norte-americano
na ONU, John Bolton, fez um protesto direto contra incluir no texto
da reunião o percentual de 0,7%
do PIB (Produto Interno Bruto)
com o qual os países ricos se comprometeriam em financiamentos
para atingir as chamadas Metas
do Milênio -uma série de objetivos para melhorar os indicadores
dos países pobres até 2015.
John Wayne
Bolton, já apelidado de John
Wayne por parte da mídia norte-americana, também tem se posicionado contra a ampliação do
número de países que fazem parte
permanentemente do Conselho
de Segurança (EUA, Reino Unido,
França, China e Rússia).
Do ponto de vista brasileiro, a
reforma do conselho é o principal
ponto de interesse. Um dos articuladores do G-4, que reúne ainda Japão, Alemanha e Índia, o
Brasil vem insistindo na ampliação do conselho e tentando cooptar países africanos para obter os
128 votos necessários para levar a
reforma adiante.
Em entrevista à Folha, Edward
Mortimer, membro do comitê
executivo do secretariado-geral
da ONU, afirmou que dificilmente o encontro dessa semana terá
conseqüências no sentido do que
espera o Brasil.
Do ponto de vista dos EUA, que
já encontra oposição no conselho
da França e considera Rússia e
China instáveis, a entrada de novos países somente dificultaria,
em termos práticos e políticos, tomar decisões unilaterais, como a
invasão do Iraque em 2003.
Nos eventos dessa semana, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará apenas de reuniões
na quarta e quinta-feira próximas. Ao contrário dos dois primeiros anos de seu mandato, ele
não fará o tradicional discurso
brasileiro na abertura do debate
geral da assembléia, no sábado.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que substituirá Lula na ocasião, negou que a
ausência do chefe tenha relação
com um possível constrangimento por causa das denúncias de
corrupção que o presidente enfrenta em casa.
Texto Anterior: Toda mídia - Nelson de Sá: Custa a morrer Próximo Texto: Britânico prevê dificuldades para avançar Índice
|