São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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OPOSIÇÕES
Divisão entre radicais e moderados vai se acirrar no encontro de novembro
"Fora FHC" racha PT em congresso

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

O PT deve repetir no seu 2º Congresso Nacional, que acontecerá em novembro na cidade de Belo Horizonte, a mesma polarização entre radicais e moderados que vem dando o tom dos últimos encontros do partido.
A diferença agora são os temas que devem causar polêmica, entre eles, a defesa ou não do impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso -bandeira da "esquerda" do PT, que sustenta claramente a necessidade de antecipar as eleições de 2002.
"O PT tem que radicalizar. Se for para a moderação, vai perder espaço para o Ciro Gomes. A "Marcha dos 100 Mil" pediu o "Fora FHC-FMI". Ninguém duvida disso", diz o deputado Milton Temer (RJ), nome da ""esquerda" petista à presidência do partido.
"Em que refrescaria o problema fazer eleições agora? O Congresso teria que tomar essa decisão, e esse Parlamento não o faria. Precisaria haver um agravamento maior da crise, ou melhor, de sua percepção. E a sociedade teria de estar mais mobilizada do que no governo Collor", afirma o historiador Marco Aurélio Garcia, da Executiva Nacional do PT, e representante dos moderados.
As questões programáticas prometem dividir as alas. Os radicais querem o rompimento do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a suspensão do pagamento das dívidas interna e externa e a estatização do sistema financeiro. Os moderados falam em "redefinição" do perfil do débito interno, em ter um controle mais rígido do sistema financeiro, não defendem rompimento com o FMI, nem tampouco moratória.
A disputa política deverá repetir o cenário do último encontro nacional do PT, realizado em 97. Pela "esquerda", Milton Temer (RJ) sairá candidato novamente. O atual presidente petista, José Dirceu (SP), deve ser o candidato da ala mais moderada, que hoje tem maioria no partido.
Se for eleito, Dirceu -que por enquanto evita falar na sua candidatura- vai para seu terceiro mandato na presidência do PT.
A novidade que poderá surgir é a entrada em cena de um terceiro grupo: o liderado pelo ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro, que está articulando a formação de uma nova força política no partido, apelidada de "Rede".
Esse grupo pensa em lançar um candidato à presidência. Entre as opções, estão o deputado Arlindo Chinaglia (SP) e o ex-deputado Jaques Wagner (BA).
Os radicais acreditam que, apesar das divergências que têm com a "direita", o resultado final do congresso pode ser uma guinada para a esquerda. "Existe uma certa radicalização social na base do partido por causa da crise", diz o moderado José Genoino (SP).
No PT, existe consenso de que é preciso intensificar a oposição a FHC. O próprio Dirceu, que evita falar em "Fora FHC", não descarta a possibilidade do impeachment. "Ou o governo muda o modelo ou o Brasil muda de governo", afirma.


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