São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Urna eletrônica dá nova dinâmica, diz diretor do Datafolha

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, afirma que a urna eletrônica introduziu uma nova dinâmica na votação.
 

Folha - Como deve ser avaliada a questão da votação para o Senado?
Mauro Paulino -
O TSE divulgou os resultados para o Senado sob o mesmo critério utilizado para governo e Presidência, ou seja, desconsiderando os votos brancos e nulos. Os institutos divulgaram suas taxas incluindo no cálculo também as intenções de voto em branco e nulos. Considerando a votação obtida pelos candidatos, esse cálculo pode ser exemplificado da seguinte forma: em São Paulo, Mercadante obteve 10.491.345 de votos junto a um total de 21.557.720 eleitores que compareceram às urnas. Isso mostra que 48,6% dos que compareceram às urnas em São Paulo votaram em Mercadante. Tanto Datafolha quanto Ibope divulgaram, na véspera, que 37% dos eleitores pretendiam votar em Mercadante, o que mostra que ele obteve no dia da eleição cerca de 10 pontos a mais.
O mesmo movimento ocorreu em Minas. Datafolha e Ibope divulgaram a mesma taxa, na véspera, para Tilden Santiago do PT e ele cresceu no dia da eleição.

Folha - O que é preciso fazer para se avaliar as pesquisas?
Paulino -
Só é adequado comparar os resultados numéricos dos institutos com o resultado do TSE quando se faz boca-de-urna, porque essa é a pesquisa que capta o voto que já foi dado pelo eleitor. Qualquer pesquisa feita antes, mesmo na véspera, capta a intenção de voto e as tendências. Deixa de verificar outros fatores, como a decisão no último dia ou de momentos antes da eleição, o desempenho do eleitor na urna eletrônica, o efeito da cola. Diminuiu a taxa de votos brancos e nulos em relação a 98. Isso é um indicativo de que a cola deu certo, menos eleitores erraram o voto. Mas quem fez a cola para os eleitores? Quantos filhos fizeram as colas para os pais, quantos netos fizeram para os avós? De que forma essa nova dinâmica do voto introduzida pela urna eletrônica pode interferir no desempenho do eleitor?

Folha - Houve uma mudança muito grande no dia da eleição?
Paulino -
Existe a possibilidade de os institutos de pesquisa não terem captado totalmente a tendência da véspera. Mas seria preciso também se fazer uma reflexão pressupondo que os institutos estavam realmente certos no dia anterior, que houve uma mudança no dia e que é preciso entender essa mudança.

Folha - Esse não é um fenômeno totalmente novo, certo?
Paulino -
Há o caso da Luiza Erundina em 88 [na eleição para a Prefeitura de São Paulo, a candidata então no PT tinha 25% na pesquisa da véspera, 30% na boca-de-urna e ficou com 29,8, derrotando Paulo Maluf]. Se por algum motivo o Datafolha não tivesse feito pesquisa de boca-de-urna, esse, que é considerado um dos maiores acertos do instituto, poderia ser visto como erro.

Folha - Aconteceu algo semelhante, agora, com o Genoino?
Paulino -
O Datafolha captou o crescimento de Genoino, que passou de 10%, em 15 e 16 de agosto, para 27% em 27 de setembro, quando, pela primeira vez, empatou com Maluf cuja queda havia sido de 40% para 26% no mesmo período. A pesquisa seguinte mostrou um recuo de Genoino para 21%. A única pesquisa comparável a esta, feita no mesmo período, era a da Vox Populi que dava uma diferença ainda maior a favor de Maluf. O Ibope não fez pesquisa nessa data. Na última pesquisa, o Datafolha captou nova tendência de subida de Genoino e queda de Maluf, quando empataram novamente. O Ibope também mostrou empate técnico na véspera. Em Minas e no Rio também houve um aumento significativo dos candidatos do PT

Folha - É possível, nesta eleição, identificar uma vinculação ao Lula?
Paulino -
Sim. O voto para presidente da República estava mais definido. O eleitor só começou a pensar na eleição para governador nos últimos 15 dias de campanha. E isso contribuiu para que esse voto fosse definido mais tarde. Como havia muito mais eleitores votando no Lula do que no Genoino, certamente esse voto no Lula acabou puxando para o Genoino. Eu acho que houve alguma quantidade de pessoas votando para governador achando que votavam para presidente, há uma quantidade de voto útil no Genoino para tirar o Maluf, deve existir uma quantidade de eleitores que decidiram no próprio dia, mas, que teve um movimento forte no últimos momentos, isso teve.

Folha - Em termos de futuro, o que há a ser feito para aprimorar as pesquisas?
Paulino -
Os institutos de pesquisa precisarão, além de medir a intenção de voto, também captar o comportamento do eleitor diante da urna e seus possíveis erros.
Mas uma coisa é certa: mesmo que a gente elabore uma urna eletrônica para reproduzir o voto não vai conseguir reproduzir a cola. O efeito dessa campanha maciça para se levar a cola no dia do voto é algo que precisa ser mais bem entendido.


Texto Anterior: Avaliação: Institutos justificam resultados discrepantes
Próximo Texto: Candidatos do PT cresceram no final, diz diretora do Ibope
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.