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Urna eletrônica dá nova dinâmica, diz diretor do Datafolha
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor-geral do Datafolha,
Mauro Paulino, afirma que a urna
eletrônica introduziu uma nova
dinâmica na votação.
Folha - Como deve ser avaliada a
questão da votação para o Senado?
Mauro Paulino - O TSE divulgou
os resultados para o Senado sob o
mesmo critério utilizado para governo e Presidência, ou seja, desconsiderando os votos brancos e
nulos. Os institutos divulgaram
suas taxas incluindo no cálculo
também as intenções de voto em
branco e nulos. Considerando a
votação obtida pelos candidatos,
esse cálculo pode ser exemplificado da seguinte forma: em São
Paulo, Mercadante obteve
10.491.345 de votos junto a um total de 21.557.720 eleitores que
compareceram às urnas. Isso
mostra que 48,6% dos que compareceram às urnas em São Paulo
votaram em Mercadante. Tanto
Datafolha quanto Ibope divulgaram, na véspera, que 37% dos
eleitores pretendiam votar em
Mercadante, o que mostra que ele
obteve no dia da eleição cerca de
10 pontos a mais.
O mesmo movimento ocorreu
em Minas. Datafolha e Ibope divulgaram a mesma taxa, na véspera, para Tilden Santiago do PT e
ele cresceu no dia da eleição.
Folha - O que é preciso fazer para
se avaliar as pesquisas?
Paulino - Só é adequado comparar os resultados numéricos dos
institutos com o resultado do TSE
quando se faz boca-de-urna, porque essa é a pesquisa que capta o
voto que já foi dado pelo eleitor.
Qualquer pesquisa feita antes,
mesmo na véspera, capta a intenção de voto e as tendências. Deixa
de verificar outros fatores, como a
decisão no último dia ou de momentos antes da eleição, o desempenho do eleitor na urna eletrônica, o efeito da cola. Diminuiu a taxa de votos brancos e nulos em relação a 98. Isso é um indicativo de
que a cola deu certo, menos eleitores erraram o voto. Mas quem
fez a cola para os eleitores? Quantos filhos fizeram as colas para os
pais, quantos netos fizeram para
os avós? De que forma essa nova
dinâmica do voto introduzida pela urna eletrônica pode interferir
no desempenho do eleitor?
Folha - Houve uma mudança muito grande no dia da eleição?
Paulino - Existe a possibilidade
de os institutos de pesquisa não
terem captado totalmente a tendência da véspera. Mas seria preciso também se fazer uma reflexão pressupondo que os institutos estavam realmente certos no
dia anterior, que houve uma mudança no dia e que é preciso entender essa mudança.
Folha - Esse não é um fenômeno
totalmente novo, certo?
Paulino - Há o caso da Luiza
Erundina em 88 [na eleição para a
Prefeitura de São Paulo, a candidata então no PT tinha 25% na
pesquisa da véspera, 30% na boca-de-urna e ficou com 29,8, derrotando Paulo Maluf]. Se por algum motivo o Datafolha não tivesse feito pesquisa de boca-de-urna, esse, que é considerado um
dos maiores acertos do instituto,
poderia ser visto como erro.
Folha - Aconteceu algo semelhante, agora, com o Genoino?
Paulino - O Datafolha captou o
crescimento de Genoino, que passou de 10%, em 15 e 16 de agosto,
para 27% em 27 de setembro,
quando, pela primeira vez, empatou com Maluf cuja queda havia
sido de 40% para 26% no mesmo
período. A pesquisa seguinte
mostrou um recuo de Genoino
para 21%. A única pesquisa comparável a esta, feita no mesmo período, era a da Vox Populi que dava uma diferença ainda maior a
favor de Maluf. O Ibope não fez
pesquisa nessa data. Na última
pesquisa, o Datafolha captou nova tendência de subida de Genoino e queda de Maluf, quando empataram novamente. O Ibope
também mostrou empate técnico
na véspera. Em Minas e no Rio
também houve um aumento significativo dos candidatos do PT
Folha - É possível, nesta eleição,
identificar uma vinculação ao Lula?
Paulino - Sim. O voto para presidente da República estava mais
definido. O eleitor só começou a
pensar na eleição para governador nos últimos 15 dias de campanha. E isso contribuiu para que
esse voto fosse definido mais tarde. Como havia muito mais eleitores votando no Lula do que no
Genoino, certamente esse voto no
Lula acabou puxando para o Genoino. Eu acho que houve alguma
quantidade de pessoas votando
para governador achando que votavam para presidente, há uma
quantidade de voto útil no Genoino para tirar o Maluf, deve existir
uma quantidade de eleitores que
decidiram no próprio dia, mas,
que teve um movimento forte no
últimos momentos, isso teve.
Folha - Em termos de futuro, o
que há a ser feito para aprimorar as
pesquisas?
Paulino - Os institutos de pesquisa precisarão, além de medir a
intenção de voto, também captar
o comportamento do eleitor diante da urna e seus possíveis erros.
Mas uma coisa é certa: mesmo
que a gente elabore uma urna eletrônica para reproduzir o voto
não vai conseguir reproduzir a
cola. O efeito dessa campanha
maciça para se levar a cola no dia
do voto é algo que precisa ser
mais bem entendido.
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