São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2004

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Apoena tentava obter porte de arma

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O sertanista José Apoena Soares de Meireles, assassinado a tiros na noite de sábado em Porto Velho, em Rondônia, tinha marcados para ontem exames em Brasília com o objetivo de obter porte de arma, disse o vice-presidente da Funai, Roberto Lustosa.
Funcionários da fundação que compareceram ontem ao velório do sertanista -que presidiu a Funai em 1985 e 1986- em Brasília disseram que Apoena relatara a amigos que estava sendo perseguido. Apesar disso, a Funai e o Ministério da Justiça disseram que as suspeitas maiores são de que o sertanista tenha sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Ele foi assassinado quando deixava o caixa eletrônico de uma agência do Banco do Brasil em Porto Velho.
O sertanista estava na região coordenando uma força-tarefa que tem como objetivo mediar conflito entre índios e garimpeiros na reserva Roosevelt, local da morte, por índios cintas-largas, de 29 garimpeiros em abril deste ano. "A princípio, os indícios apontam realmente para latrocínio, mas todas as hipóteses estão sendo investigadas", disse o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Segundo ele, a Polícia Federal está auxiliando a investigação da Polícia Civil de Rondônia.
O vice-presidente da Funai afirmou que a obtenção do porte de arma se justificaria pelo risco inerente à tarefa que Apoena desempenhava em Rondônia. "Nenhuma hipótese pode ser descartada tendo em vista os altos interesses em jogo na área", afirmou.

Acerto
O sertanista acertaria nesta semana com lideranças indígenas a retirada de máquinas (dragas e retroescavadeiras) do garimpo de diamantes da aldeia dos cintas-largas. A informação é do gerente do garimpo, Pandere Cinta-Larga, 30. O coordenador de Operações Especiais de Fronteiras da Polícia Federal, delegado Mauro Sposito, disse ontem que Apoena articulava com os índios uma nova ação, planejada em sigilo pelo governo federal, para fechamento definitivo do garimpo localizado dentro da terra indígena Roosevelt em Espigão do Oeste (534 km de Porto Velho).
"Nós estávamos de acordo em tirar todo o material do garimpo. Iam entrar com cinco ou seis caminhões para tirar tudo o que tinha lá dentro. Íamos fazer isso nesta semana", afirmou Pandere.
Após o confronto de abril, os cintas-largas firmaram, em maio, um acordo com a Polícia Federal para desativar o garimpo, mas um grupo de líderes indígenas teria retomado a extração de diamantes. Pandere nega.


Colaborou a Agência Folha em Manaus e em Campo Grande


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