São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Aliados de Lula convenceram Renan a se licenciar na quarta

Presidente incumbiu o líder do governo, Romero Jucá, de articular afastamento

José Sarney (PMDB), Aldo Rebelo (PC do B) e Teotônio Vilela (PSDB) convenceram o presidente do Senado de que ele acabaria cassado

VALDO CRUZ
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia para afastar Renan Calheiros (PMDB-AL) do cargo, montada pelo governo Lula e articulada por senadores aliados, só começou a dar resultado na noite da última quarta-feira, quando "caiu a ficha" do presidente do Senado.
Ali, segundo relato de amigos presentes ao encontro, Renan se conscientizou de que estava cassado e que só lhe restavam dois caminhos: "Tentar preservar seu mandato ou se imolar". Traduzindo: pedir licença ou enfrentar um processo no plenário, fadado a ser cassado.
Até aquela reunião, na casa de Renan, o senador ainda acreditava ter condições de enfrentar a oposição alegando que os demais processos contra ele eram fracos e inconsistentes. De acordo com um aliado, o senador "estava se enganando".
Renan, porém, acabou se convencendo de que se tornara "um problema" para o Senado, depois de conversar naquela noite com os aliados José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá (PMDB-RR), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e o governador Teotônio Vilela (PSDB-AL) -tido como vital na estratégia por ser amigo do senador e ter condições de costurar uma trégua com os senadores tucanos.
Um dos presentes disse a Renan que ele precisava entender que, ao se tornar um problema, o passo seguinte, inclusive de amigos, era "se livrar do problema". O presidente do Senado mostrou-se então inclinado a pedir licença, mas deixou a decisão final para o dia seguinte.
A reunião na casa do senador fechava um dia de articulações iniciadas pela manhã, no Planalto, quando o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) levou o líder do governo no Senado, Romero Jucá, para uma audiência reservada com o presidente Lula.
Ali, depois de ouvir de Jucá um relato sobre o clima preocupante no Senado e os riscos para aprovar a CPMF, Lula incumbiu seu líder de articular uma estratégia para convencer Renan a se licenciar.
O presidente não queria se envolver diretamente na operação. Disse que não tinha nenhuma condição de pedir ao aliado para deixar a presidência do Senado, mas seus aliados na Casa precisavam cumprir essa missão para garantir a aprovação da prorrogação da CPMF.
Dali, Jucá foi para o Senado. De um lado, reuniu-se com a oposição procurando uma saída negociada para Renan Calheiros. De outro, iniciou a operação para convencer o peemedebista a se licenciar.
O líder do governo acabou deixando o Senado, no final do dia, confidenciando a amigos que estava difícil convencer Renan Calheiros a pedir uma licença do cargo.
À noite, seguiu então para a casa do presidente do Senado, onde também estavam Sarney, Aldo Rebelo, Teotônio Vilela e os irmãos de Renan, Renildo e Olavo Calheiros.
Aos presentes, Renan disse reconhecer estar no limite, mas que era "cabeça-dura". Reclamou não ter garantias de que os demais processos contra ele fossem ser arquivados.
Todos saíram convencidos de que o presidente Renan estava no "rumo da licença", mas acreditavam que ele iria oficializar sua decisão apenas depois do final de semana.
Ontem, a última conversa antes de se decidir sobre o formato de sua licença foi num almoço com Teotônio Vilela. Já estava decidido -e muito cabisbaixo, abatido. Desabafou com o amigo: "Não tenho garantia se vou conseguir voltar".
Foi colocado na mesa que a oposição deveria tirar dois dos três processos (rádios e arapongagem). A avaliação é que o PSDB tenderia a acatar, mas não o DEM.
Decidiu então traçar a linha de seu pronunciamento, em que sua decisão era um gesto unilateral. Inicialmente, Renan pensou numa licença de 120 dias. Optou por 45 dias por entender que, dentro desse prazo, estarão concluídos os processos que pedem sua cassação e poderia voltar a tempo de comandar as votações da prorrogação da CPMF.


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