|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aliados de Lula convenceram Renan a se licenciar na quarta
Presidente incumbiu o líder do governo, Romero Jucá, de articular afastamento
José Sarney (PMDB), Aldo Rebelo (PC do B) e Teotônio Vilela (PSDB) convenceram o presidente do Senado de que ele acabaria cassado
VALDO CRUZ
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estratégia para afastar Renan Calheiros (PMDB-AL) do
cargo, montada pelo governo
Lula e articulada por senadores
aliados, só começou a dar resultado na noite da última quarta-feira, quando "caiu a ficha" do
presidente do Senado.
Ali, segundo relato de amigos
presentes ao encontro, Renan
se conscientizou de que estava
cassado e que só lhe restavam
dois caminhos: "Tentar preservar seu mandato ou se imolar".
Traduzindo: pedir licença ou
enfrentar um processo no plenário, fadado a ser cassado.
Até aquela reunião, na casa
de Renan, o senador ainda
acreditava ter condições de enfrentar a oposição alegando
que os demais processos contra
ele eram fracos e inconsistentes. De acordo com um aliado, o
senador "estava se enganando".
Renan, porém, acabou se
convencendo de que se tornara
"um problema" para o Senado,
depois de conversar naquela
noite com os aliados José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá
(PMDB-RR), Aldo Rebelo (PC
do B-SP) e o governador Teotônio Vilela (PSDB-AL) -tido como vital na estratégia por ser
amigo do senador e ter condições de costurar uma trégua
com os senadores tucanos.
Um dos presentes disse a Renan que ele precisava entender
que, ao se tornar um problema,
o passo seguinte, inclusive de
amigos, era "se livrar do problema". O presidente do Senado
mostrou-se então inclinado a
pedir licença, mas deixou a decisão final para o dia seguinte.
A reunião na casa do senador
fechava um dia de articulações
iniciadas pela manhã, no Planalto, quando o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações
Institucionais) levou o líder do
governo no Senado, Romero
Jucá, para uma audiência reservada com o presidente Lula.
Ali, depois de ouvir de Jucá
um relato sobre o clima preocupante no Senado e os riscos
para aprovar a CPMF, Lula incumbiu seu líder de articular
uma estratégia para convencer
Renan a se licenciar.
O presidente não queria se
envolver diretamente na operação. Disse que não tinha nenhuma condição de pedir ao
aliado para deixar a presidência
do Senado, mas seus aliados na
Casa precisavam cumprir essa
missão para garantir a aprovação da prorrogação da CPMF.
Dali, Jucá foi para o Senado.
De um lado, reuniu-se com a
oposição procurando uma saída negociada para Renan Calheiros. De outro, iniciou a operação para convencer o peemedebista a se licenciar.
O líder do governo acabou
deixando o Senado, no final do
dia, confidenciando a amigos
que estava difícil convencer Renan Calheiros a pedir uma licença do cargo.
À noite, seguiu então para a
casa do presidente do Senado,
onde também estavam Sarney,
Aldo Rebelo, Teotônio Vilela e
os irmãos de Renan, Renildo e
Olavo Calheiros.
Aos presentes, Renan disse
reconhecer estar no limite, mas
que era "cabeça-dura". Reclamou não ter garantias de que os
demais processos contra ele
fossem ser arquivados.
Todos saíram convencidos
de que o presidente Renan estava no "rumo da licença", mas
acreditavam que ele iria oficializar sua decisão apenas depois
do final de semana.
Ontem, a última conversa
antes de se decidir sobre o formato de sua licença foi num almoço com Teotônio Vilela. Já
estava decidido -e muito cabisbaixo, abatido. Desabafou
com o amigo: "Não tenho garantia se vou conseguir voltar".
Foi colocado na mesa que a
oposição deveria tirar dois dos
três processos (rádios e arapongagem). A avaliação é que o
PSDB tenderia a acatar, mas
não o DEM.
Decidiu então traçar a linha
de seu pronunciamento, em
que sua decisão era um gesto
unilateral. Inicialmente, Renan
pensou numa licença de 120
dias. Optou por 45 dias por entender que, dentro desse prazo,
estarão concluídos os processos que pedem sua cassação e
poderia voltar a tempo de comandar as votações da prorrogação da CPMF.
Texto Anterior: Memória: Em 2001, Jader também pediu licença do cargo Próximo Texto: Íntegra: Renan diz que sai para "preservar harmonia" da Casa Índice
|