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NARCOTRÁFICO
Conclusão é de relatório confidencial da PF após prisão de traficante conhecido como o "rei do pó"
Cartel de Cali tinha base em Campinas
ARI CIPOLA
em São Paulo
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Campinas
A região de Campinas (SP) foi pelo
menos até 1997 a
base de operações
da principal ramificação no Brasil da
rede colombiana de tráfico de
drogas conhecida como cartel de
Cali. A conclusão é de relatório
confidencial da Polícia Federal
elaborado em 1997 após a prisão,
em Cajamar, a 60 km de Campinas, do traficante amazonense
Antônio da Mota Graça, o Curica
ou "Rei do Pó".
Com a quebra dos sigilos bancário e fiscal da piloto de avião Sâmia Haddock Lobo, mulher de
Curica, e do irmão dela Roberto
Haddock Lobo, a CPI do Narcotráfico busca indícios para saber
se a quadrilha continua usando
Campinas como centro de planejamento de operações e, principalmente, de lavagem do dinheiro obtido com a droga.
Os irmãos Haddock Lobo moram em Vinhedo, a 16 km de
Campinas (99 km de São Paulo).
Também foi quebrado o sigilo das
empresas em nome de Roberto
-ele reconheceu à Folha ter pelo
menos uma registrada.
O mapeamento das atividades
do grupo foi detalhado por uma
investigação que contou com um
escritório secreto mantido por
três anos pela PF em Vinhedo até
prender Curica, que estava foragido, em 1997.
Hoje ele cumpre pena no complexo penitenciário do Carandiru,
em São Paulo, depois de fracassar
no ano passado um plano, segundo a PF, de ser transferido para
Manaus, onde teria mais chances
de fugir, como fez em 1992.
Em episódios cinematográficos,
em 1997 policiais federais entraram na casa de Sâmia em Vinhedo disfarçados de corretores imobiliários, grampearam telefones e,
minutos antes da prisão de Curica, monitoraram as três saídas do
condomínio com casais de agentes disfarçados de namorados.
Sâmia foi presa com o marido,
que fora encontrá-la sigilosamente em Vinhedo, mas obteve liberdade depois. Hoje ela ocuparia o
lugar de Curica na organização,
conforme suspeita da PF.
Também foi beneficiada por autorização judicial para sair da cadeia após prisões em Roraima,
por evasão de divisas, e Tocantins, suspeita de tráfico de 7 toneladas de cocaína -a maior na
história do país.
Na investigação que resultou na
prisão de Curica, a PF não foi conclusiva sobre os motivos que teriam levado a quadrilha a se instalar na região de Campinas -a
existência de um aeroporto internacional (Viracopos), ferrovias e
rodovias teria contribuído.
Na área também há fazendas
onde aviões costumam jogar carregamentos de cocaína.
Agora, a CPI suspeita que a base
do maior braço brasileiro do cartel de Cali foi montada em Campinas devido ao esquema de lavagem de dinheiro (legalização dos
lucros obtidos com a droga) existente na cidade desde 1985 e incrementado no início da década
de 90 por Paulo César Farias, o
PC.
"Em Campinas, as transações
com dólar ficariam mais fáceis",
afirmou ontem o deputado Robson Tuma (PFL-SP), integrante
da CPI do Narcotráfico.
O deputado Pompeo de Mattos
(PDT-RS) disse que a CPI tentará
ouvir Sâmia na semana que vem,
quando se instalar em Campinas.
De acordo com o deputado Reginaldo Germano (PFL-BA), a
CPI recebeu informação de que
Curica dispõe de pelo menos US$
10 milhões no exterior para serem
usados para "comprar" uma fuga.
Sâmia e Curica depuseram à
CPI no primeiro semestre, semanas após a instalação da comissão.
Até então, a CPI ainda não ouvira o depoimento do motorista
Jorge Meres, relatando estar em
Campinas um dos líderes -o
empresário William Sozza, hoje
foragido- de uma quadrilha de
roubo de cargas e tráfico de drogas com ramificações em no mínimo 14 Estados.
Segundo Meres, Sozza seria sócio do deputado Augusto Farias
(PPB-AL), herdeiro de negócios
do irmão PC, assassinado em
1996.
Por isso, quando Sâmia e Curica
depuseram, a CPI não se deteve
na investigação da conexão Campinas do narcotráfico internacional, o que passa a fazer agora.
A CPI também quer descobrir
eventuais ligações entre os grupos
de Sozza e Curica.
Um funcionário graduado da
PF em Brasília não só confirmou a
montagem do escritório, hoje supostamente desativado, como
qualificou de traidoras as pessoas
que falaram sobre ele.
Fortuna
A Polícia Federal estima em US$
1 bilhão a fortuna do empresário
Antônio Mota Graça, o Curica,
conhecido como o "rei do pó" e
apontado como o maior traficante da Amazônia.
A CPI do Narcotráfico suspeita
que Curica tenha ligações com o
Cartel de Cali (Colômbia) e com o
ex-governador do Acre Orleir Cameli. Ele prestou serviços a uma
das empresas da família Cameli e
abrigou em sua casa um amigo do
ex-governador envolvido em
contrabando.
Ação movida pelo Ministério
Público Federal acusa Cameli de
incentivar os índios kampa (AC)
a plantar 55 mil pés de sementes
de epadu (coca). O ex-governador nega a acusação.
Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de
Brasília
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