UOL

São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

Texto Anterior | Índice

NO AR

Estragaram a festa

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Quando a histeria policialesca se instala na televisão e no rádio, basta um delegado abrir a boca para encher manchete.
Com direito a cenas gravadas e distribuídas pela própria polícia, da invasão da festa, dos jovens acuados, foi bem o caso da operação de ontem.
Era uma "festa do PCC", segundo a Band, uma "festa de criminosos", segundo a rádio Jovem Pan. Era "a balada do ladrão", segundo a rádio Bandeirantes.
Entre os detidos, "75% era bandido", no dizer de um diretor da polícia destacado pela Globo News.
A Rede Globo não ficou atrás. Seguiu no assunto até o Jornal Nacional, dizendo coisas como "o serviço de inteligência descobriu que integrantes de uma organização criminosa comemoravam os ataques a delegacias". E, claro:
- De acordo com um dos delegados, quase todos os detidos tinham passagens pela polícia... Segundo os investigadores, o grupo comemorava os ataques à polícia e o aniversário de um criminoso...
E tudo "em uma casa de alto padrão", uma "mansão" com "piscina, churrasco e aparelhagem de som".
Mais ainda, "na festa estavam cerca de 30 mulheres, duas delas menores". Pior, na festa "havia entorpecentes leves".
Com tudo isso, no fim da tarde só dois dos "quase 150" festeiros seguiam detidos.
O problema não é ter tantos investigadores, delegados e seus diretores falando à solta, mas a reprodução destrambelhada de suas palavras.
 
Da Globo News, indicando o que estava em jogo:
- A sub-relatoria de infra-estrutura detém o maior volume de recursos.
Falava da divisão do bolo entre os partidos no Congresso, na discussão do Orçamento do ano que vem. Com a infra-estrutura ficou o PMDB.
Foi "um acordo para facilitar a aprovação". Que vinha sendo dificultada.
O acordo saiu, mas não sem antes um peemedebista dizer que não fazia questão da infra-estrutura, já que o orçamento total da sub-relatoria de cidades é menor, mas "é maior na parcela de recursos livres que podem ser alterados".
Queriam ainda mais. E olha que Alexandre Garcia havia afirmado anteontem, durante o Bom Dia Brasil, que o PMDB ou parte dele "quer mostrar que o partido agora é puramente doutrinário".
Ok, os peemedebistas agora não querem nem recursos nem cargos, são "puros".


Texto Anterior: Maioridade: Deputados se insultam ao discutir questão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.