São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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Presidente tenta tirar João Paulo de reeleição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para segurar o PMDB no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convenceu o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) a sepultar na semana que vem a idéia de reeleição dele à presidência da Câmara e de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado. Ao mesmo tempo, estuda reforma ministerial que passa pela ida de José Dirceu (Casa Civil) para comandar a Câmara e por rearranjo no primeiro escalão maior do que desejava.
Essa operação, consumada até fevereiro de 2005, serviria para Lula montar equipe baseada nas forças que apoiarão sua reeleição em 2006. No cenário principal, Ricardo Berzoini (Trabalho) iria para a Casa Civil. Ele é visto por Lula como bom gerente e daria perfil mais administrativo à Casa Civil. Com trânsito na oposição e experiência administrativa, o governador Jorge Viana (PT-AC) é outra opção para a Casa Civil.
Para Lula, Dirceu é o único nome do PT que acabaria com uma disputa fratricida no partido pela sucessão de João Paulo. "O Zé [Dirceu] é craque e resolveria tudo", disse o presidente a petistas, ao falar da maior crise congressual de seu governo.
João Paulo substituiria Berzoini ou Aldo Rebelo (Coordenação Política). Nessa última hipótese, Aldo poderia ir para o Trabalho. Lula gosta de Aldo na articulação política, mas o PT cobiça a vaga.
Na área social, Lula estuda mudanças a fim de levar o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), para um ministério.
Para sanar a crise no Congresso, o primeiro passo é matar a emenda da reeleição. O principal opositor da emenda, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), é vital para Lula manter com ele a maioria peemedebista.
Para o deputado João Paulo capitalizar politicamente, ele deverá tomar a iniciativa de tirar a emenda de pauta de consenso com os líderes partidários. Faria o discurso de que a Câmara não pode parar e prejudicar o país.
Enterrada a reeleição, Renan, que quer suceder Sarney, trabalharia para a maioria do PMDB adiar a convenção nacional de 12 de dezembro ou para vencê-la. Lula terá de se entender com Sarney, o aliado de que mais gosta no PMDB. A filha de Sarney, Roseana, deixaria o PFL e ingressaria no PMDB para virar ministra. O partido ganharia uma terceira pasta. E Lula acertaria parceria com a sigla para a sua reeleição em 2006 e obrigaria o PT a abrir espaços para alianças com peemedebistas nas disputas estaduais.

Dirceu
No Senegal, onde passou a noite na viagem para o Cairo, Dirceu disse que não pretende, no momento, deixar a Casa Civil: "Não pretendo voltar para a Câmara. Uma dia [volto porque] sou deputado. A Câmara está muito bem sem a minha presença". Sobre o PMDB, Dirceu disse que a situação não mudou porque quem apoiava o governo Lula continua apoiando. Dirceu viajou para o Cairo para representar o presidente da República no funeral de Iasser Arafat.


Colaborou Leila Suwwam. A repórter viaja ao Cairo no avião presidencial a convite do governo federal


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