São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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CASO LOTERJ

Em fita, deputado relata envolvimento com homicídios

Promotoria investiga no Rio esquema de extermínio

LIGIA DINIZ
DA SUCURSAL DO RIO

Primeiro corrupção, agora homicídio. Às investigações sobre um esquema de corrupção na Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) e sobre a suposta tentativa de extorsão do empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, poderá ser somada uma suposta participação de um deputado do Rio em um grupo de extermínio formado por ex-policiais.
A informação vem de fita apresentada anteontem pelos advogados de Carlinhos Cachoeira à promotora Dora Beatriz da Costa, do Ministério Público Estadual, que investiga o esquema de propinas, doações para campanhas eleitorais e privilégios na exploração das loterias no Estado do Rio.
Segundo a promotora, o deputado, que ainda não foi identificado por meio de perícia, dá a entender, na gravação, que participa de um grupo formado por ex-policiais, que se reúne pelo menos uma vez por mês para matar "indivíduos indesejáveis". "Bandido tem que ir para a vala. Esse é meu papel como deputado", teria dito o parlamentar na conversa com um intermediário de Cachoeira.
O deputado relata, na fita, que reuniu um grupo de homens para matar os responsáveis pela morte de vários de seus seguranças, segundo a promotora. Ele conta, na gravação, o caso específico de um deles, que teria sido morto ao tentar recuperar uma moto roubada, em Bangu (zona oeste do Rio), e que teria sido vingado pelo suposto grupo de extermínio.
Dora Beatriz afirma que tudo leva a crer que se trata do deputado federal André Luiz (PMDB), acusado de tentar extorquir R$ 4 milhões de Carlinhos Cachoeira. Segundo ela, a fita ainda não passou por um exame do Ministério Público, mas foi periciada a pedido dos advogados do empresário.
"Presumo que seja o André Luiz. A gravação é clara, mas não podemos afirmar com certeza, porque ainda não examinamos a fita. Acredito que um advogado não se arriscaria a apresentar uma prova falsa", afirmou a promotora, que receberá as fitas para avaliação na próxima quarta.

Investigação
Em relação à investigação sobre o esquema de corrupção envolvendo parlamentares e a Loterj, então presidida pelo ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz (fevereiro de 2001 a dezembro de 2002), Dora Beatriz afirmou que ainda não recebeu o relatório da CPI, aprovado pela Assembléia do Rio, e que pede a prisão de Waldomiro e de Cachoeira.
A promotora diz ainda que estuda a possibilidade de ouvir o depoimento do empresário do jogo por carta precatória -instrumento pelo qual um órgão judicial pede a outro a realização de um ato processual fora dos limites de sua competência territorial. Cachoeira pediu, na semana passada, para não depor no Ministério Público do Rio, pois estaria sendo ameaçado de morte.
A assessoria do deputado André Luiz informa que ele se recupera de um acidente de automóvel e não pode conceder entrevistas.


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