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Lula tem de cumprir decisão, diz Itália
Advogado do governo italiano afirma que é "mito" tese de que presidente tem prerrogativa de não extraditar ex-militante
Defesa de Battisti espera que voto do ministro Marco Aurélio abra caminho para a reversão do placar de 4 a 3 pela extradição do acusado
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A defesa do governo da Itália
afirmou ontem que cabe ao
STF (Supremo Tribunal Federal) e não ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a palavra final sobre a extradição de Cesare Battisti. Os advogados do ex-militante de extrema esquerda
sustentam que Lula tem a prerrogativa de não efetivar a extradição caso a medida seja autorizada pela corte.
"Isso é um mito que não se
sustenta", disse ontem o advogado da Itália, Antônio Nabor
Areias Bulhões, ao comentar a
tese da defesa de Battisti.
Segundo Bulhões, "uma
eventual decisão do STF pela
extradição vincula duplamente
o presidente da República".
O advogado disse que é obrigatório o cumprimento da decisão porque o STF possui competência constitucional exclusiva para apreciar e julgar processos de extradição. "E também porque o julgamento se dá
com base em um tratado bilateral, firmado e promulgado pelo
presidente, e aprovado pelo legislativo", afirmou.
Bulhões referiu-se ao acordo
assinado pelos governos do
Brasil e da Itália em 1989 que
definiu as regras da extradição
entre os países. De acordo com
o defensor, "o tratado bilateral
prevalece até sobre a lei interna
brasileira. O Supremo já se manifestou nesse sentido em numerosos julgamentos".
Defesa de Battisti
Luís Roberto Barroso, advogado de Battisti, disse ontem
que a lei e a jurisprudência
mostram que as decisões do
STF são meramente autorizativas, isto é, permitem que um
presidente da República realize
a extradição, mas não são obrigatórias. "A definição sobre a
execução da extradição é um
ato político, de soberania do
presidente", afirmou Barroso.
Na véspera do julgamento, o
defensor do italiano disse esperar que o voto do ministro Marco Aurélio Mello promova a
reabertura do debate sobre a
extradição e altere o cenário até
hoje desfavorável ao ex-militante de extrema esquerda.
A expectativa de Barroso é
que o ministro Marco Aurélio
apresente ao plenário do STF
um voto vigoroso, que levante
algum dos seguintes temas: crime político, prescrição, aplicação da lei de anistia e desrespeito às garantias individuais de
Battisti nos processos na Itália.
Já o advogado do governo italiano disse não acreditar que os
ministros que já decidiram sobre a questão da extradição (o
placar é de 4 a 3 a favor do pedido da Itália) mudem sua posição, após o reinício do julgamento no STF. "Os ministros
se debruçaram sobre a matéria
ao longo de meses, e votaram
com muita convicção na última
sessão de julgamento", disse
Bulhões.
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