|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Apuração da Kroll foi concluída em cinco dias e não comprova a acusação de que CH, J & T seria de FHC
Busca confirma veracidade de documentos
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
A Kroll Associates, firma de
investigação
privada norte-americana, confirmou, entre o
primeiro e segundo turno das
eleições, que os documentos da
CH, J & T -citados nas supostas
chantagens contra o governo federal- correspondiam de fato a uma
empresa registrada no Caribe.
A apuração feita pela Kroll, contratada por um escritório de advocacia, foi concluída em cinco dias e
não comprova a acusação de que
essa empresa seria uma sociedade
pertencente aos tucanos Mário
Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
A investigação privada confirma
tão somente a autenticidade dos
documentos revelados, ontem, pela Folha, que antecipou a informação de que a CH, J & T existe e tem
sede nas Bahamas.
"Nós fomos solicitados a fazer
uma averiguação da veracidade de
documentos de registros nas ilhas
do Caribe", diz Eduardo Sampaio,
28, diretor-geral da Kroll no Brasil.
Sampaio disse que havia sido
procurado, em São Paulo, por um
escritório de advocacia -cujo nome não revelou- que apresentou
vários documentos cuja autenticidade deveria ser investigada.
Nenhum desses papéis, ainda segundo ele, trazia nomes de eventuais beneficiários de operações
feitas pela empresa em paraísos
fiscais. Sampaio diz que também
não lhe foi mostrada a cópia de fax
com assinatura atribuída a Sérgio
Motta, ministro das Comunicações que morreu em abril último.
Segundo ele, a omissão dos nomes dos tucanos teria sido um cuidado do escritório de advocacia
para evitar caracterizar a consulta
como uma operação com fins político-eleitorais. Contratação que,
segundo ele, a Kroll recusaria.
Da forma como foi solicitado, segundo Sampaio, o pedido aparentava ser uma checagem comum, típica nos cuidados habituais tomados por qualquer empresa antes de
fechar um grande negócio.
²
Extrato bancário
A solicitação inicial envolvia
também o pedido de investigações
sobre operações bancárias, transações efetuadas em algumas contas
em diferentes países.
Ou seja, o escritório de advocacia
tinha um extrato bancário, alguns
números de contas, e desejava saber quem eram os usuários.
A Kroll, ainda segundo Sampaio,
não aceitou fazer esse levantamento porque não havia, no caso, pedidos judiciais de quebra de sigilo
bancário. Ou seja, a Kroll não aceitaria realizar uma perícia privada
que não estivesse apoiada em processo tramitando na Justiça.
Quando a Kroll rastreou contas
de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro da campanha eleitoral do ex-presidente Fernando Collor de
Mello, estava sendo contratada
por uma instituição, o Congresso,
e havia uma solicitação judicial de
quebra de sigilo bancário.
²
Escondendo o jogo
Uma investigação completa, para tentar apurar todas as operações apontadas nos dossiês em circulação exigiria, segundo a Kroll, o
prazo mínimo de um mês. O normal seria realizar um trabalho desse tipo em três meses.
Pelas características apresentadas, esse seria um caso difícil de
comprovação -ou desmentido-
, mas não impossível, segundo as
técnicas de investigação privada.
A abertura de empresas em paraísos fiscais envolve variadas formas de ocultar os acionistas.
Ao contrário do registro formal
de uma empresa, em que são exigidos os nomes e documentos de
identificação dos controladores,
uma empresa em um paraíso fiscal
pode ser aberta a partir de "contratos de gaveta", acordos paralelos
para evitar que apareçam os reais
acionistas.
Escritórios de advocacia nesses
paraísos mantêm em carteira documentos que permitem colocar
em operação imediata várias empresas. Muitas, por sua vez, já incorporaram anteriormente outras
empresas, numa sucessão de operações que dificulta identificações.
Essas empresas podem ser criadas a partir de ações ao portador
(sem nome do dono). Esse artifício
preserva o nome dos reais interessados e permite economizar tempo no processo de registro.
Sampaio entrou na Kroll há três
anos, nos EUA, e vinha respondendo pela diretoria-adjunta do
escritório brasileiro até outubro
último, antes de ser promovido a
diretor-geral, com a saída de James Wygand. No início deste mês,
Wygang assumiu a diretoria geral
da Control Risks do Brasil, outra
empresa de investigação privada.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|