São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Apuração da Kroll foi concluída em cinco dias e não comprova a acusação de que CH, J & T seria de FHC
Busca confirma veracidade de documentos

FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local


A Kroll Associates, firma de investigação privada norte-americana, confirmou, entre o primeiro e segundo turno das eleições, que os documentos da CH, J & T -citados nas supostas chantagens contra o governo federal- correspondiam de fato a uma empresa registrada no Caribe.
A apuração feita pela Kroll, contratada por um escritório de advocacia, foi concluída em cinco dias e não comprova a acusação de que essa empresa seria uma sociedade pertencente aos tucanos Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
A investigação privada confirma tão somente a autenticidade dos documentos revelados, ontem, pela Folha, que antecipou a informação de que a CH, J & T existe e tem sede nas Bahamas.
"Nós fomos solicitados a fazer uma averiguação da veracidade de documentos de registros nas ilhas do Caribe", diz Eduardo Sampaio, 28, diretor-geral da Kroll no Brasil.
Sampaio disse que havia sido procurado, em São Paulo, por um escritório de advocacia -cujo nome não revelou- que apresentou vários documentos cuja autenticidade deveria ser investigada.
Nenhum desses papéis, ainda segundo ele, trazia nomes de eventuais beneficiários de operações feitas pela empresa em paraísos fiscais. Sampaio diz que também não lhe foi mostrada a cópia de fax com assinatura atribuída a Sérgio Motta, ministro das Comunicações que morreu em abril último.
Segundo ele, a omissão dos nomes dos tucanos teria sido um cuidado do escritório de advocacia para evitar caracterizar a consulta como uma operação com fins político-eleitorais. Contratação que, segundo ele, a Kroll recusaria.
Da forma como foi solicitado, segundo Sampaio, o pedido aparentava ser uma checagem comum, típica nos cuidados habituais tomados por qualquer empresa antes de fechar um grande negócio.
² Extrato bancário
A solicitação inicial envolvia também o pedido de investigações sobre operações bancárias, transações efetuadas em algumas contas em diferentes países.
Ou seja, o escritório de advocacia tinha um extrato bancário, alguns números de contas, e desejava saber quem eram os usuários.
A Kroll, ainda segundo Sampaio, não aceitou fazer esse levantamento porque não havia, no caso, pedidos judiciais de quebra de sigilo bancário. Ou seja, a Kroll não aceitaria realizar uma perícia privada que não estivesse apoiada em processo tramitando na Justiça.
Quando a Kroll rastreou contas de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro da campanha eleitoral do ex-presidente Fernando Collor de Mello, estava sendo contratada por uma instituição, o Congresso, e havia uma solicitação judicial de quebra de sigilo bancário.
² Escondendo o jogo
Uma investigação completa, para tentar apurar todas as operações apontadas nos dossiês em circulação exigiria, segundo a Kroll, o prazo mínimo de um mês. O normal seria realizar um trabalho desse tipo em três meses.
Pelas características apresentadas, esse seria um caso difícil de comprovação -ou desmentido- , mas não impossível, segundo as técnicas de investigação privada.
A abertura de empresas em paraísos fiscais envolve variadas formas de ocultar os acionistas.
Ao contrário do registro formal de uma empresa, em que são exigidos os nomes e documentos de identificação dos controladores, uma empresa em um paraíso fiscal pode ser aberta a partir de "contratos de gaveta", acordos paralelos para evitar que apareçam os reais acionistas.
Escritórios de advocacia nesses paraísos mantêm em carteira documentos que permitem colocar em operação imediata várias empresas. Muitas, por sua vez, já incorporaram anteriormente outras empresas, numa sucessão de operações que dificulta identificações.
Essas empresas podem ser criadas a partir de ações ao portador (sem nome do dono). Esse artifício preserva o nome dos reais interessados e permite economizar tempo no processo de registro.
Sampaio entrou na Kroll há três anos, nos EUA, e vinha respondendo pela diretoria-adjunta do escritório brasileiro até outubro último, antes de ser promovido a diretor-geral, com a saída de James Wygand. No início deste mês, Wygang assumiu a diretoria geral da Control Risks do Brasil, outra empresa de investigação privada.



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