São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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CELSO PINTO
Quanto os juros podem cair

A grande questão que continua aberta no mercado é saber até onde é possível reduzir os juros e em que velocidade.
Uma maneira de determinar o piso possível é saber qual o juro que continuaria mantendo atraentes as aplicações em renda fixa no Brasil.
Não apenas pela necessidade de o Brasil atrair capitais de curto prazo para fechar suas contas. Mesmo que ela seja diminuída, seria preciso ter certeza de que os capitais daqui não sairão em busca de melhores juros em papéis brasileiros no exterior. Isso aconteceu em meados deste ano, quando o Banco Central decidiu continuar baixando os juros aqui, enquanto a remuneração lá fora dos títulos da dívida brasileira ("bradies") aumentava.
Sendo assim, as variáveis a considerar são as que ditam a remuneração do papel brasileiro, em dólares, lá fora, e as que formam a remuneração do aplicador externo aqui.
Os dois parâmetros da remuneração no exterior são a taxa básica internacional (o título do Tesouro americano) e o "prêmio de risco Brasil". Para medir esse prêmio, muitos analistas gostam de olhar a cotação do IDU, um título brasileiro com duração pouco superior a um ano, portanto, com prazo comparável ao de aplicações externas no Brasil.
Em outubro, o título americano ficou em torno de 4,1%, e o IDU, em mais de 19%, fazendo com que o prêmio de risco ficasse em torno de 15 pontos percentuais. Para ter uma comparação, esse prêmio de risco estava em torno de 3,2 pontos em abril, quando a situação estava mais tranquila para o Brasil.
Para medir o retorno, em dólares, de aplicações aqui, é preciso ver quanto rendem aplicações em reais e em dólares no Brasil (porque as últimas embutem uma projeção de desvalorização). Não basta apenas supor que o governo vai cumprir a palavra e desvalorizar o real apenas em 7,5% ao ano. É preciso ver qual a taxa de câmbio que está, de fato, embutida nos negócios e nos mercados futuros.
Quanto maior o medo de desvalorização, maior será a distância entre a desvalorização projetada pelos mercados e a prometida pelo governo. Essa diferença, que o Banco Liberal Nations chama de "prêmio de risco cambial", estava, em outubro, em torno de 5,5 pontos percentuais. No passado, esteve entre 3 e 4 pontos.
Somando todos esses fatores (juro dos títulos do Tesouro americano, desvalorização projetada, prêmio de risco Brasil), o Liberal chega a uma taxa mínima de juros. Quer dizer, a taxa abaixo da qual as aplicações externas ficam mais atraentes, e há risco de perda de dólares.
A taxa mínima líquida em julho foi de 23,3%, mas ainda existe um Imposto de Renda de 10% a pagar, o que eleva a taxa bruta para 25,9%. O "pico" foi em setembro: 41,8% líquidos e 46,5% brutos.
No mês passado, a taxa líquida média ficou em 37,2%, e a bruta, em 41,3%. Desde então, a melhora na perspectiva do Brasil já gerou uma queda no "prêmio de risco" (embutido no IDU) que reduziu a taxa líquida para 30%, e a bruta, para 33,3%. Teoricamente, portanto, o BC poderia reduzir, já, os juros para 33% e continuar mantendo o Brasil atraente para os dólares.
Existem, contudo, três outros fatores a considerar. O mercado continua volátil, e falta formalizar o apoio externo e votar o ajuste interno. Antes disso, o risco de haver mudança de humor no mercado em relação ao Brasil será grande. Como é muito ruim baixar os juros e depois voltar atrás, é natural que o BC seja conservador.
O segundo fator é político. Um diretor do BC costuma dizer que os juros devem funcionar como cenoura para os políticos: a cada decisão positiva, concede-se alguma baixa nos juros. Falta muito a ser votado.
O terceiro fator é que o governo precisa de uma recessão para ajustar suas contas externas em 99. Só poderia ser evitado se voltasse a haver abundância de dólares para o Brasil no mercado, o que hoje não está no horizonte.
É difícil quantificar esses fatores, mas eles certamente não impedem uma queda de juros substancial em relação aos 42,7% atuais. E 99? Um banco, usando variáveis similares às já mencionadas, projeta uma taxa média de 22%, em linha com a projeção do governo. Para ficar abaixo disso, só desacelerando o câmbio (o que seria muito arriscado), ou mudando a política cambial (o que também tem riscos).




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