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CELSO PINTO
Quanto os juros
podem cair
A grande questão que continua aberta no mercado é saber até onde é possível reduzir
os juros e em que velocidade.
Uma maneira de determinar
o piso possível é saber qual o
juro que continuaria mantendo atraentes as aplicações em
renda fixa no Brasil.
Não apenas pela necessidade
de o Brasil atrair capitais de
curto prazo para fechar suas
contas. Mesmo que ela seja diminuída, seria preciso ter certeza de que os capitais daqui
não sairão em busca de melhores juros em papéis brasileiros
no exterior. Isso aconteceu em
meados deste ano, quando o
Banco Central decidiu continuar baixando os juros aqui,
enquanto a remuneração lá fora dos títulos da dívida brasileira ("bradies") aumentava.
Sendo assim, as variáveis a
considerar são as que ditam a
remuneração do papel brasileiro, em dólares, lá fora, e as
que formam a remuneração do
aplicador externo aqui.
Os dois parâmetros da remuneração no exterior são a taxa
básica internacional (o título
do Tesouro americano) e o
"prêmio de risco Brasil". Para
medir esse prêmio, muitos
analistas gostam de olhar a cotação do IDU, um título brasileiro com duração pouco superior a um ano, portanto, com
prazo comparável ao de aplicações externas no Brasil.
Em outubro, o título americano ficou em torno de 4,1%, e
o IDU, em mais de 19%, fazendo com que o prêmio de risco
ficasse em torno de 15 pontos
percentuais. Para ter uma
comparação, esse prêmio de
risco estava em torno de 3,2
pontos em abril, quando a situação estava mais tranquila
para o Brasil.
Para medir o retorno, em dólares, de aplicações aqui, é preciso ver quanto rendem aplicações em reais e em dólares no
Brasil (porque as últimas embutem uma projeção de desvalorização). Não basta apenas
supor que o governo vai cumprir a palavra e desvalorizar o
real apenas em 7,5% ao ano. É
preciso ver qual a taxa de câmbio que está, de fato, embutida
nos negócios e nos mercados
futuros.
Quanto maior o medo de desvalorização, maior será a distância entre a desvalorização
projetada pelos mercados e a
prometida pelo governo. Essa
diferença, que o Banco Liberal
Nations chama de "prêmio de
risco cambial", estava, em outubro, em torno de 5,5 pontos
percentuais. No passado, esteve entre 3 e 4 pontos.
Somando todos esses fatores
(juro dos títulos do Tesouro
americano, desvalorização
projetada, prêmio de risco Brasil), o Liberal chega a uma taxa
mínima de juros. Quer dizer, a
taxa abaixo da qual as aplicações externas ficam mais
atraentes, e há risco de perda
de dólares.
A taxa mínima líquida em
julho foi de 23,3%, mas ainda
existe um Imposto de Renda de
10% a pagar, o que eleva a taxa
bruta para 25,9%. O "pico" foi
em setembro: 41,8% líquidos e
46,5% brutos.
No mês passado, a taxa líquida média ficou em 37,2%, e a
bruta, em 41,3%. Desde então,
a melhora na perspectiva do
Brasil já gerou uma queda no
"prêmio de risco" (embutido
no IDU) que reduziu a taxa líquida para 30%, e a bruta, para 33,3%. Teoricamente, portanto, o BC poderia reduzir, já,
os juros para 33% e continuar
mantendo o Brasil atraente
para os dólares.
Existem, contudo, três outros
fatores a considerar. O mercado continua volátil, e falta formalizar o apoio externo e votar o ajuste interno. Antes disso, o risco de haver mudança
de humor no mercado em relação ao Brasil será grande. Como é muito ruim baixar os juros e depois voltar atrás, é natural que o BC seja conservador.
O segundo fator é político.
Um diretor do BC costuma dizer que os juros devem funcionar como cenoura para os políticos: a cada decisão positiva,
concede-se alguma baixa nos
juros. Falta muito a ser votado.
O terceiro fator é que o governo precisa de uma recessão para ajustar suas contas externas
em 99. Só poderia ser evitado
se voltasse a haver abundância
de dólares para o Brasil no
mercado, o que hoje não está
no horizonte.
É difícil quantificar esses fatores, mas eles certamente não
impedem uma queda de juros
substancial em relação aos
42,7% atuais. E 99? Um banco,
usando variáveis similares às
já mencionadas, projeta uma
taxa média de 22%, em linha
com a projeção do governo. Para ficar abaixo disso, só desacelerando o câmbio (o que seria
muito arriscado), ou mudando
a política cambial (o que também tem riscos).
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