São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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Itália suspeita que "Morcego Negro" era usado para tráfico

da Redação

Os serviços antidroga da Itália suspeitam que o avião particular de PC Farias (o "Morcego Negro", sigla PT-OHU) era utilizado por traficantes durante o governo Fernando Collor (90-92).
A suposição está registrada no documento de setembro do ano passado assinado pelo então adido antidrogas da Itália no Brasil, coronel Luigi Del Gaudio.
"Na época da gestão de Collor, havia insistentes rumores sobre o envolvimento do piloto pessoal de Farias (Jorge Bandeira de Melo) no tráfico de entorpecentes por meio do Learjet de propriedade de Farias denominado "Morcego Negro"." Segundo o policial italiano, na época da investigação do esquema PC, "não foram feitas investigações (para checar a suspeita) porque o avião de Farias costumava decolar do hangar presidencial".
Na semana passada, a Direção Central para Serviços Antidroga da Itália pediu à Secretaria Nacional Antidrogas a relação de vôos do "Morcego Negro" que utilizaram bases aéreas, exclusivas para aviões militares e da Presidência.
Em março de 97, a Folha noticiou que a Itália havia levantado os primeiros indícios do envolvimento do esquema PC com o narcotráfico internacional.
A apuração -batizada de "Operação Cartagena"- teve início em março de 94, quando 5.497 quilos de cocaína foram apreendidos em Borgaro Torinese (norte da Itália), o maior carregamento da droga descoberto na Europa.
Na investigação, os italianos descobriram que a rede havia feito outros sete carregamentos de cocaína para a Europa, no total de 11 toneladas.
A cocaína era produzida pelo Cartel de Cali, da Colômbia, e levada para entrepostos no Brasil (Santos e Rio Grande do Sul), no Panamá e na Venezuela, antes de ser embarcada para a Europa.
A quebra de sigilo bancário do tesoureiro da organização, Angelo Zanetti, revelou depósitos da rede no valor de US$ 2,69 milhões para contas de PC Farias na Holanda e na Suíça.
As remessas foram feitas por Zanetti e pelos mafiosos Luciano Radi e Giulio Marcozzi.
Além dos depósitos dos mafiosos para Paulo César Farias, a "Operação Cartagena" descobriu que o empresário alagoano tinha 15 contas bancárias.
Em depoimento a magistrados italianos em 96, o argentino Luis Felipe Ricca -"testa-de-ferro" de PC em algumas dessas contas- disse que US$ 5 milhões foram sacados de uma conta no Uruguai para corromper parlamentares que votariam o impeachment de Collor, em 92.
De uma conta na Suíça, de acordo com Ricca, teria saído mais US$ 1 milhão para comprar o silêncio de policiais da Interpol responsáveis pela captura de PC Farias quando o empresário alagoano fugiu do país em 92. (LF)



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