São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Palocci diz a banqueiros em NY que dirigente terá "respeito do mercado"

Nome para o BC deve sair hoje; tucano é o mais cotado

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ontem a banqueiros em Wall Street que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já escolheu quem será o primeiro presidente do Banco Central de seu governo, que começa em janeiro.
Palocci disse que o nome deve ser divulgado hoje por Lula, que chega ao Brasil de manhã vindo do México. Em Brasília, o deputado federal e ex-presidente do PT José Dirceu (SP) confirmou que a divulgação deve ser feita hoje.
Segundo a Folha apurou, o nome mais cotado para ocupar o cargo passou a ser o do deputado federal eleito Henrique Meirelles (PSDB-GO), ex-presidente mundial do BankBoston. Até ontem, o mais cotado era Pedro Bodin, presidente do Banco Icatu, que recusou o convite.
"Esperamos anunciar um novo presidente do Banco Central amanhã [hoje], alguém que terá o respeito dos mercados financeiros", declarou Palocci em comunicado entregue aos banqueiros e obtido pela Folha. O BC é um órgão subordinado à Fazenda.
Palocci pensava em ler o comunicado, escrito em inglês, no almoço que teve no Fed (Federal Reserve, o banco central americano) com representantes de sete instituições financeiras. Mudou de idéia e decidiu entregá-lo como uma espécie de lista de princípios do PT.
No documento, Palocci promete compatibilizar rigor fiscal, programas sociais e manter o regime de metas de inflação. Diz ainda que a dívida externa é administrável e que o cenário melhorou muito o ajuste da balança comercial.
Durante o evento, os banqueiros fizeram algumas perguntas sobre política monetária e equilíbrio fiscal. As respostas foram genéricas, mas, segundo participantes do encontro, satisfatórias.
"Creio que, para um começo, a reunião foi bastante positiva", disse William Rhodes, presidente do Citigroup. "Foi uma excelente troca de idéias entre o ministro e o grupo. Valeu a pena. Creio que todo mundo saiu com uma idéia positiva e com otimismo."

Meirelles
Meirelles, 57, reúne as características exigidas pelo PT para o cargo. Tido como um dos brasileiros mais bem sucedidos no mercado internacional, ele fez carreira no BankBoston, onde chegou a assumir a presidência mundial. Só se afastou do banco em agosto deste ano, para se candidatar a deputado federal.
Meirelles possui também uma boa relação com o PT. Ele é admirado por José Dirceu, virtual chefe da Casa Civil do governo Lula, e é amigo do deputado Aloizio Mercadante, senador mais votado de São Paulo. Durante a campanha eleitoral, manteve vários encontros com as lideranças do PT.
Meirelles ficou ao lado do petista durante o almoço ontem, segundo relato feito à Folha por uma pessoa presente à reunião.
A ida do tucano não estava prevista originalmente e não foi esclarecida. Na terça-feira à noite, Meirelles comparecera ao jantar oferecido em Washington pelo embaixador Rubens Barbosa ao presidente eleito. Chegou com 40 minutos de antecedência ao encontro e reuniu-se a sós com Lula. Além de Meirelles, acompanhava Palocci no Fed o embaixador Barbosa e o tradutor Sérgio Ferreira.
Procurado pela Folha, Meirelles não confirmou e nem negou ter sido convidado para o BC. Por meio de sua assessoria, disse apenas que estava nos EUA junto com a comitiva do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB.
Meirelles e Palocci chegaram separadamente ao Fed. Enquanto Meirelles entrava pela porta dos fundos, Palocci conversava com a imprensa.
Pela primeira vez falando como ministro, Palocci disse que o combate à inflação "será prioridade total" no governo Lula. Indagado se, em função disso, ele subiria os juros, respondeu: "Não sou quem aumenta os juros, mas o Comitê de Política Monetária [Copom] e o Banco Central devem fazer sempre aquilo que precisa ser feito para ter uma política monetária adequada. Nós queremos inflação baixa. E para ter inflação baixa é preciso fazer tudo o que for necessário fazer. E tudo é tudo".

Armínio
A Folha apurou que também não está de todo descartada a hipótese de se manter o atual presidente do BC, Armínio Fraga, no cargo -ou alçar à presidência do banco Ilan Goldfajn, atual diretor de Política Econômica-, pelo menos por alguns meses.
O grande problema dessa alternativa é que Lula já disse não manteria Armínio no cargo.
Já a hipótese Ilan Goldfajn, segundo a Folha apurou, enfraqueceria o BC, já que ele seria visto pelo mercado como uma solução temporária, portanto sem a mesma força que teria o titular.
O PT encontrou muitas dificuldades em definir o nome para assumir o BC. Várias pessoas do mercado foram sondadas.
Nessa lista, constam os nomes de Cláudio Haddad, do Ibmec, Fábio Barbosa, presidente do ABN-Amro, Pedro Bodin, presidente do Icatu, e José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores Associados.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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