UOL

São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO SANTO ANDRÉ

Rocha Mattos, preso na Operação Anaconda, diz a promotores não saber o paradeiro de gravações de petistas

Fitas do grampo do PT sumiram, diz juiz

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso durante a Operação Anaconda, afirmou que desconhece o paradeiro das 42 fitas de Santo André que, segundo ele, registram conversas telefônicas comprometedoras entre membros do PT.
As fitas estavam guardadas no apartamento de Norma Cunha, ex-mulher do juiz -também presa sob acusação de participar de um grupo de venda de sentenças judiciais. O material, com conversas telefônicas entre petistas, foi gravado pela Polícia Federal logo após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 20 de janeiro do ano passado.
Rocha Mattos foi o juiz que determinou, em abril deste ano, a destruição do material sob a alegação de que as escutas foram obtidas de forma ilegal. O sigilo telefônico foi quebrado a partir de pedido da PF para uma apuração sobre tráfico de drogas, assunto sem vinculação com a morte.
Minutos antes de ser preso, em 7 de novembro, Rocha Mattos afirmou que, entre o material apreendido no apartamento de Norma, estavam as fitas de Santo André. A PF se apressou em negar a declaração do juiz.
Em seu depoimento, 14 dias depois de ser preso, Rocha Mattos disse aos promotores de Santo André que não sabe onde estão as 42 fitas. A conversa, em uma sala na PF, foi acompanhada por membros da Procuradoria da República e por advogados do juiz.
Em resumo, a história contada por Rocha Mattos é a seguinte: ele guardou as fitas durante um período no cofre da própria 4ª Vara Criminal, em que atuava. Depois, levou as 42 fitas em uma caixa, com adesivos escritos "Fitas de Santo André", ao apartamento de Norma, e as deixou ao lado da banheira, considerado por ele um local mais seguro.
Dias antes de Norma ser presa, disse Rocha Mattos, ela lhe telefonou brava e pediu para que o material de Santo André fosse retirado de sua casa. Apesar do pedido da ex-mulher, o juiz afirmou ter se esquecido do assunto. Só voltou a pensar nas fitas após a prisão de Norma, em 30 de outubro.
Nesse dia, foi ao apartamento da ex-mulher e procurou o material. No dia seguinte, foi à prisão visitar Norma e perguntou pelas fitas. Segundo ele, a ex-mulher também não sabia onde estavam.

Conteúdo
A transcrição das fitas de Santo André, da qual a Folha publicou os principais trechos, revela mais uma articulação do PT para tentar evitar turbulências na candidatura à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva do que supostas irregularidades na administração municipal de Santo André. Segundo Rocha Mattos, as transcrições não estão completas -haveria diálogos não transcritos.
A operação petista, como os diálogos revelam, consistiu na orientação prévia de depoimentos à polícia, no monitoramento de entrevistas e até na tentativa de convencer um irmão do prefeito -que posteriormente denunciou à Promotoria cobrança de propina prefeitura- a não "destilar ressentimentos" em público.
O material denota uma inquietação do PT com as investigações, que estariam sendo conduzidas de modo a prejudicar Lula na eleição. Na visão do partido, a polícia estaria deixando no ar a suspeita de envolvimento de petistas com o crime e de que este teria origem num esquema de corrupção.
Além das conversas entre petistas, PF fez escutas em telefones de pessoas da favela Pantanal, presas sob a acusação de terem sequestrado e assassinado Celso Daniel.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)

Texto Anterior: Vereador teme ser ligado ao crime
Próximo Texto: Prefeito diz que caso "atrapalha" PT
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.