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CASO SANTO ANDRÉ
Rocha Mattos, preso na Operação Anaconda, diz a promotores não saber o paradeiro de gravações de petistas
Fitas do grampo do PT sumiram, diz juiz
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal João Carlos da
Rocha Mattos, preso durante a
Operação Anaconda, afirmou
que desconhece o paradeiro das
42 fitas de Santo André que, segundo ele, registram conversas telefônicas comprometedoras entre
membros do PT.
As fitas estavam guardadas no
apartamento de Norma Cunha,
ex-mulher do juiz -também
presa sob acusação de participar
de um grupo de venda de sentenças judiciais. O material, com conversas telefônicas entre petistas,
foi gravado pela Polícia Federal
logo após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel,
em 20 de janeiro do ano passado.
Rocha Mattos foi o juiz que determinou, em abril deste ano, a
destruição do material sob a alegação de que as escutas foram obtidas de forma ilegal. O sigilo telefônico foi quebrado a partir de pedido da PF para uma apuração sobre tráfico de drogas, assunto sem
vinculação com a morte.
Minutos antes de ser preso, em
7 de novembro, Rocha Mattos
afirmou que, entre o material
apreendido no apartamento de
Norma, estavam as fitas de Santo
André. A PF se apressou em negar
a declaração do juiz.
Em seu depoimento, 14 dias depois de ser preso, Rocha Mattos
disse aos promotores de Santo
André que não sabe onde estão as
42 fitas. A conversa, em uma sala
na PF, foi acompanhada por
membros da Procuradoria da República e por advogados do juiz.
Em resumo, a história contada
por Rocha Mattos é a seguinte: ele
guardou as fitas durante um período no cofre da própria 4ª Vara
Criminal, em que atuava. Depois,
levou as 42 fitas em uma caixa,
com adesivos escritos "Fitas de
Santo André", ao apartamento de
Norma, e as deixou ao lado da banheira, considerado por ele um
local mais seguro.
Dias antes de Norma ser presa,
disse Rocha Mattos, ela lhe telefonou brava e pediu para que o material de Santo André fosse retirado de sua casa. Apesar do pedido
da ex-mulher, o juiz afirmou ter
se esquecido do assunto. Só voltou a pensar nas fitas após a prisão de Norma, em 30 de outubro.
Nesse dia, foi ao apartamento
da ex-mulher e procurou o material. No dia seguinte, foi à prisão
visitar Norma e perguntou pelas
fitas. Segundo ele, a ex-mulher
também não sabia onde estavam.
Conteúdo
A transcrição das fitas de Santo
André, da qual a Folha publicou
os principais trechos, revela mais
uma articulação do PT para tentar
evitar turbulências na candidatura à Presidência de Luiz Inácio
Lula da Silva do que supostas irregularidades na administração
municipal de Santo André. Segundo Rocha Mattos, as transcrições não estão completas -haveria diálogos não transcritos.
A operação petista, como os
diálogos revelam, consistiu na
orientação prévia de depoimentos à polícia, no monitoramento
de entrevistas e até na tentativa de
convencer um irmão do prefeito
-que posteriormente denunciou
à Promotoria cobrança de propina prefeitura- a não "destilar
ressentimentos" em público.
O material denota uma inquietação do PT com as investigações,
que estariam sendo conduzidas
de modo a prejudicar Lula na eleição. Na visão do partido, a polícia
estaria deixando no ar a suspeita
de envolvimento de petistas com
o crime e de que este teria origem
num esquema de corrupção.
Além das conversas entre petistas, PF fez escutas em telefones de
pessoas da favela Pantanal, presas
sob a acusação de terem sequestrado e assassinado Celso Daniel.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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